sexta-feira, 13 de março de 2009

Nós, os Gajos


Ao contrário do que a imagem possa sugerir, não vamos passar os próximos minutos a falar do Tony Soprano, mas sim de um dos mais temíveis concorrentes – senão mesmo o maior rival – de todas as mulheres com gato.

Aliás o presente post inaugura uma trilogia completamente dedicada aos homens com cão, ao longo da qual proponho-me revelar os meandros das 3 maiores instituições que sustentam a nossa própria existência enquanto.. ergh.. homens!

Se isto não é colocar a fasquia alta de mais, então eu vou ali e já venho!

Com isto espero igualmente silenciar as vozes mais críticas que se ergueram ao longo dos restantes posts, encabeçadas por mulheres com gato descontentes pela forma sexista com que os diferentes temas foram sendo abordados.

1. Nós, os Gajos.

É seguramente um dos maiores adversários de qualquer mulher com gato que pretenda consolidar uma relação LP (longo prazo) com um qualquer homem com cão.
É inevitável como o destino, omnipresente, indissolúvel, insubstituível, inexorável, hermético, e para a maior parte das mulheres com gato absolutamente inintelegível.
Ou seja, é uma perfeita estupidez!

Falo claro está do único reduto que nem o casamento consegue fazer tremer, o grupinho de amigos dos homens com cão.

Desde os primórdios da Humanidade que o homem aprendeu a unir-se em redor dos seus semelhantes, em grupos cooperantes alicerçados em relações de dependência e confiança mútua.
Inicialmente motivado pela necessidade de sobreviver, o homem com cão de há 150.000 anos atrás não podia comprar as convenientes embalagens de frango no Modelo, nem tinha cartões de descontos do Feira Nova.


Ao invés estava no fundo da cadeia alimentar e quando não servia de aperitivo para os tigres dentes-de-sabre, era frequentemente espezinhado pelas manadas de mamutes que fugiam em debandada dos tigres dentes-de-sabre.

Pequenino mas astuto o homo sapiens organizou-se em complexas redes sociais. Foi nesta altura que surgiram os primeiros princípios de família e comunidade organizada. Os homens com cão de há 150.000 anos atrás foram os primeiros a entender o mundo como um projecto comum e não individual, e desde então não mais deixaram de partilhar valores, crenças e normas sociais.

Tudo isto para dizer que nós os gajos já andamos nisto dos grupinhos de amigos há muuuuito tempo!

A necessidade de nos estabelecermos em manada vem portanto de longe, e essa herança cultural nunca será apagada do nosso código genético.
Por muito que custe, a verdade é que TODAS as mulheres com gato serão episodicamente trocadas pela manada num determinado ponto da relação. Pode ser mais cedo, pode ser mais tarde, mas é certinho como o destino.

Por muito que o vosso homem com cão – se for o caso – goste do sofá, dos mimos, de passear de mão dada na praia, de carregar os sacos das compras, e de ir ver livros à FNAC, a verdade é que até estes mais dia menos dia vão sair-se com o hoje não dá bebé, vou sair com o pessoal.

Ah pois é bébé!

E não vale a pena pensar que ele vai levá-la consigo. Desengane-se. Isso nunca irá acontecer. Neste tipo de grupinhos meninas não entram. Vocês têm o dia 8 de Março e nós temos... Bem, nós temos o ano inteiro basicamente!

Há apenas uma hipótese remota duma mulher com gato ser pontualmente aceite – repito, pontualmente aceite, ao contrário de aceite e ponto final -, mas as possibilidades são de tal forma diminutas que é mais provável ganhar o euromilhões duas vezes na mesma vida, a alguma vez vir a fazer parte duma genuína manada de gajos.

Para que se compreenda a complexidade deste assunto, deixo apenas alguns dos items que constam da larga lista de condições sine qua non que actualmente regulam universalmente a admissão de mulheres com gatos nos grupinhos de amigos:

- tem que ser muito gira.
- tem que ser muito boa.
- tem que ser muito gira e muito boa.
- tem que ter um belo par de mamas e uma paixão desmedida por decotes.
- tem que ter um namorado que não seja ciumento.
- tem que ser vista pelos outros elementos como uma maninha, apesar de ser muito gira, muito boa e de ter um belo par de mamas.
- tem que gostar de futebol e de F1.
- tem que perceber de futebol e de F1.
- tem que fingir que não percebe de futebol e de F1.
- tem que dizer palavrões, sobretudo durante o jogo de futebol.
- na F1 nunca se dizem palavrões.
- tem de gostar de cerveja, sobretudo durante o jogo de futebol e quando não está a dizer palavrões.
- tem de saber conversar como um gajo e ser feminina ao mesmo tempo.
- ajuda muito se disser que gostava de fazer um trio com o seu namorado e outra amiga.

E mesmo assim, haverão sempre situações em que a menina não entra mesmo.

Claro que neste momento existirão algumas mulheres com gato que estão certamente a dizer:

Ai, o meu Bernardo não é nada assim...

O Bernardo se calhar é aquele tipo fofinho, muito atencioso, discreto e introvertido, que usa aquelas camisolas de malha da Burberrys e sapatinhos de vela, sem um único vinco nas calças que são sempre de tecido e nunca de ganga, tão engomadinho que até apetece dar um estalo, que sai consigo aos domingos à tarde para beber um chá e que nunca parte um prato...

Se calhar estamos a falar do mesmo Bernardo que na despedida de solteiro do seu melhor amigo acabou em cima do palco só com as boxers da Throttleman, com o cinto no pescoço e a ser montado por uma stripper brasileira que lhe deixou o rabo a arder de tanto apanhar... Pois, esse Bernardo!

As coisas nunca são o que parecem, e um tipo só se deixa ver genuinamente quando está entre iguais. Aí, nem que seja apenas por umas horas, pode ser o que quiser ser e não aquilo que esperam que seja, e pode fazê-lo em segurança porque estamos lá uns para os outros.
Dentro da manada sentimo-nos protegidos, exactamente como nos sentiamos há 150.000 anos atrás quando começamos a limpar o sarampo aos mamutes usando técnicas de caça em grupo.

Não quero com isto dizer que entre amigos esquecemos os valores e princípios que nos guiam no dia-a-dia. Longe disso.
No seio da manada podemos simplesmente reviver aquilo que eramos há uns anos atrás, com o saudosismo próprio de quem já se deixou disso há muito tempo, mas que lá no fundo ainda sente algumas saudades.

O grupo de amigos é o nosso Santo Graal. A fonte da nossa eterna juventude.
É um refúgio onde depositamos parte do nosso código genético que deixou de ter qualquer utilidade quando decidimos dar um novo rumo à nossa vida. Funciona como um fiel depositário, e de tempos a tempos sentimos necessidade de regressar ao passado, e até aquela altura em que eramos irreverentes a ponto de acreditarmos que um dia iriamos conquistar o mundo.

Mas o grupinho de amigos é também, e sobretudo, o sítio onde podemos falar de... Gaaajas!
E neste capítulo dispenso o olhar reprovador, se for esse o caso. Eu sei que vocês sabem que eu sei que vocês também falam de nós.

Há no entanto uma importante ressalva a fazer. Nós, os homens, nunca falamos daquilo que é nosso. Falamos sim da gaja do anúncio da cerveja, da nossa vizinha do 3º esquerdo, da miuda nova que chegou ao trabalho ou da amiga da namorada do Zé, da mãe do Francisco que é colega do nosso filho na escolinha, da loura bombástica ou da professora de pump lá do ginásio. Falamos da tatuagem nas costas da amiga da Teresa, e do peircing no umbigo da prima da Sofia.

Às vezes não é preciso falar sequer e basta um lembram-se da Catarina? Ao qual todos respondem Uuuuui a Catarinaaaaa! Mesmo aqueles que nunca viram, conheceram ou estiveram com a Catarina.
É mesmo assim, e é próprio das conversas de gajos.

Naturalmente tudo isto é um forte motivo de preocupação para qualquer mulher com gato que, dum momento para o outro, não só se vê privada de companhia, como vê o seu gajo à mercê duma pandilha desgorvernada, sem rumo, e completamente exposta aos perigosos efeitos colaterais do álcool.

Isto já para não falar do complexo vaca nova, ou seja, da fauna que habita a maior parte dos microsistemas nocturnos, e que na flor da idade e com as hormonas aos saltos não hesitam em exibir com opulência os dotes que a gravidade ainda não reclamou.
Exactamente como num sushi volante, está tudo lá e pronto a comer.

As mulheres com gato sabem disto, e talvez por isso nunca vão encontrar um sentido para este tipo de programas.
Por mais que se tente explicar, não faz sentido algum trocar uma noite com tudo incluído, por uma noitada de copos com os amigos e uma ressaca violenta no dia seguinte.
Especialmente se o tudo incluir um jantar a dois, seguido de um dvd e mimos no sofá, e para rematar a noite aquilo a que eu chamo Sexo Lionel Richie, ou seja, All Night Long!

Confesso que assim de repente, e colocadas as coisas desta forma, nem eu que sou gajo acho muito sentido a estas saídas com os amigos.
Porém, o peso do grupo sobre o indivíduo é esmagador, e no fundo todos nós vacilamos perante a ideia de estarmos a quebrar a confiança e união da nossa manada.
É o mesmo que há 150.000 anos atrás deixarmos os nossos melhores amigos partirem sozinhos para a caça de mamutes. Seriam espezinhados, e a última coisa que queremos é ter um animal de grande porte a pesar na nossa consciência.

Há no entanto boas notícias para as mulheres com gato.
Apesar de toda a envolvente indicar o contrário, muito raramente este tipo de programas resultam no tal sushi volante de que falei acima.
Não há nada mais patético do que um grupo de homens com cão, meio alcoolizados e fora da sua caverna.
Experimentem atirar amendoins e bananas aos saguins no zoo. O basqueiro é quase o mesmo.


Em manada, e caso consigam entrar em qualquer sítio minimamente in, com o avolumar do teor de álccol no sangue o mais provável é serem expulsos pelos seguranças antes do fim da noite. E se há 150.000 anos atrás a caça em grupo resultava com os mamutes, actualmente a fauna volante que habita a noite é quase toda ela caça grossa e de trabalho solitário, ou quanto muito aos pares porque as mulheres nunca saiem sozinhas.

Posto isto, a verdade é que nós precisamos do nosso refúgio, porque sempre o tivemos desde pequenos.
Precisamos de reunir a irmandade e regressar à caverna de tempos a tempos.

Precisamos de reviver os anos em que juntos davamos caça aos mamutes, apesar de no final do dia gostarmos de passar no Modelo para comprar o tal franguinho embalado em plástico, que cuidadosamente iremos preparar para o jantar, antes do dvd, dos mimos no sofá e do Lionel Richie no final da noite. Porque isso é que é bom.

5 comentários:

  1. Tá simplesmente, demais!!!

    pois é bebé...nao vamos abdicar do "jantar, antes do dvd, dos mimos no sofá e do Lionel Richie no final da noite", desde que os machos tenham as suas manadas de amigos e as femeas os pequenos almoços nas esplanadas com as amigas.

    Tudo é necessário para manter boas relações, digo eu...:D

    ResponderEliminar
  2. Eu gostei muito deste post, até porque acho que há muitas mulheres que se identificam com este tipo de Homens com cão. Tipo eu! Sempre estive inserida em grupos de rapazes, mas posso dizer que se há homem "mal-vindo" é aquele que decide se impor numa noite de GAJAS!
    Pois continuo a achar, mesmo conhecendo grupos de Homens que literalmente se esqueciam, por vezes, que eu sou mulher e falavam comigo de GAJAS, que as mulheres são 1000x piores que os homens e só entram nesses grupos, Homens que surjam no momento e têm de ser BONS Homens... ;)
    Beijocas Pedro

    ResponderEliminar
  3. Surpreendente;)

    Não te iludas, para uma mulher inteligente é fácil entrar num grupo de homens... Rápidamente esquecem que tem uma gaja ali bem perto porque a intensidade com que vivem os momentos em que estão juntos é yanta e tão natural que a mulher que está no grupo é "apenas" mais um elemento.
    Num grupo de mulheres... Bem aí vocês nunca entram, as mulheres são demasiado "cruéis" para vos darem o gostinho de saber o que é pertencer de verdade a um grupo de mulheres;)

    Bjinhos

    ResponderEliminar
  4. Devo ser uma mulher muito inteligente como diz a Msantos ou entao sou uma "gaja" com umas boas mamocas como tu dizes loool.
    Nunca em tempo algum tive dificuldade em entrar na "máfia" masculina.
    E a Msantos tem muita razao quando diz que vocês rapidamente se esquecem que esta uma rapariga no grupo.
    Já nós Pedrocas estamos sempre muita atentas no que diz respeito a elementos masculinos a entrarem no nosso grupo ;).
    Irmandade feminina é de dificil entrada...
    Célia N

    ResponderEliminar
  5. Vocês estão para aí a falar, mas nós somos muito menos selectivos que eles - homem, para entrar no nosso grupo, basta obedecer a um único critério...ser GAY!!;)
    O mais engraçado, é a maneira como o factor manada se manifesta, e evolui com a idade: vai da saida à noite, passando, mais tarde pela mesa do café, para acabar no banco do jardim, de volta de uma bisca de 9, ou de um dominó...de facto, e apesar de sermos nós as mulheres a termos a fama de gostarmos de socializar, são eles que sentem muito mais a necessidade de não perder o elo de ligação com os seus pares...

    ResponderEliminar