quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As relações e os recibos verdes


Aí estão os recibos verdes electrónicos. A partir de agora a DGCI comunica com os contribuintes por via electrónica, abandonando o velhinho livro de recibos verdes em papel.

Por acaso o livro de recibos verdes sempre foi coisa que a mim me causou particular estranheza. Em primeiro lugar porque não é verde, o que por si só constitui um dos maiores paradoxos da história fiscal do nosso país. Depois vem sem aquela folhinha que divide os copiativos, e que dá um jeito tremendo quando queremos passar um recibo, e não 3 ou 4 duma só vez.

Em boa verdade já nada disto me faz confusão, mas a decisão da DGCI trouxe-me uma nova perspectiva do livrinho de recibos com o qual tenho convivido nos últimos anos.

Actualmente em Portugal dois em cada três casamentos terminam em divórcio, e desses dois há um casalinho que não chega sequer a descongelar o bolo de noiva no final do 1º ano. Pessoalmente acho a ideia um completo nojo, já para não falar nos problemas de partilhas que esta questão levanta. Como é que um casal divide 2 kgs de bolo de noiva congelado? Com uma motoserra? E será boa ideia introduzir uma motoserra entre um casal desavindo e prestes a separar-se? Pois, se calhar não é.

Para nós faz cada vez mais sentido o antes só que mal acompanhado, algo que entretanto evoluíu para um mais vale acompanhado quando me apetece do que completamente só. O que antes era uma ideia peregrina, transformou-se num conceito de vida que cativa cada vez mais mulheres com gato país fora.
Bom, excepto na beira interior onde este tipo de pensamento libertino ainda dá direito a apedrejamento na praça pública, mas adiante.

A verdade é que estamos cada vez mais sozinhos por opção, e acompanhados by request. Dividimos a cozinha, o sofá, o chão da sala, a cama, mas nunca o copo onde só fica uma escova de dentes, ou o roupeiro, estrategicamente atulhado de roupa e sem um único cabide disponível.
Vês? Não há espaço para ti na minha vida, mas podes vir cá abrir a porta do meu roupeiro de vez em quando.

E quanto mais abrimos a porta do mesmo roupeiro mais depressa nos apercebemos de que ali não há mesmo espaço para nós. Mas na maior parte das vezes reagimos a isso também com alívio, e não apenas com resignação ou tristeza. Não haver espaço para pendurar um pouco da nossa vida significa não ter de assumir compromissos, não ter de dizer não a tudo o resto, significa não correr riscos, não sair magoado e significa acima de tudo não ter de dizer novamente a palavra amo-te.

E neste aspecto vejo nos homens com cão uma ingenuidade romântica que não vejo na maior parte das mulheres com gato da geração Sex and the City.

Às Miranda Hobbes por muito que lhes faça falta amar de novo alguém, o receio de se exporem e sairem de novo magoadas simplesmente não compensa sair da zona de conforto, e por isso vão mantendo o closet bem arrumadinho e sem espaço algum para pendurar um único camiseiro que cheire a Tom Ford ou Jean Paul Gaultier.

Já os homens com cão raramente pensam um pouco mais à frente que a cabeceira da cama, e como tal avançam destemidos em direção ao alvo qual kamikaze a bordo dum zero japonês, a gritar banzai no meio duma chuva de tiros de artilharia.

Nós não pensamos que podemos vir a apaixonar-nos, como também não pensamos na possibilidade de não correr bem, e 2 ou 3 meses depois sermos confrontados com o sentimento de rejeição e com a solidão. Homem que é homem joga futebol de praia num campo minado no Afeganistão, como já apanhava banhos de sol debaixo duma chuva de setas no meio duma batalha medieval há 700 anos atrás. E sem protector solar.

Ou seja, somos estúpidos por natureza. Paradoxalmente é essa estupidez que nos dá a capacidade de sermos ingénuos e românticos, enquanto que as mulheres com gato munidas dum 6º sentido letal são incapazes de tamanha estupidez, e é por essa razão que a maior parte das Miranda Hobbes modernas mantém uma visão mais cínica dos relacionamentos, sem espaços por preencher no closet, e completamente concentradas nas suas carreiras, e nos filhos se os houver.

Perante o incerto o homem com cão avança com um desconcertante logo vemos, deixando o destino entregue à sorte a troco duma queca. Já as mulheres modernas pouco dadas ao esoterismo reconfortante dos Paulos Coelhos da vida, ao logo vemos respondem com um já vi. Como em já vi esse filme antes, e tu não fazes parte querido.

Claro que esta muralha intransponível é muitas vezes feita de fumo e desfaz-se com um simples sopro, no meio da solidão e do silêncio, por entre linhas escritas mil vezes de maneiras diferentes da Margarida Rebelo Pinto, entrecortadas por lágrimas e Ferreros Roché. Como a própria autora diz para quem vive a sonhar é mais fácil viver. E vai mais um chocolatinho.
Esse lado fragil não nos é permitido ver. Para nós o closet vai estar sempre cheio, e é por isso que ocasionalmente continuamos a espalhar a roupa pela casa, ao invés de tirarmos uma camisa clássica de algodão Ralph Lauren sem um único vinco, dum cabide que está do nosso lado do roupeiro.

Há 4 anos a recibos verdes na empresa onde trabalho muitas vezes pergunto-me o que mais preciso de fazer para entrar para os quadros. Depois pensando bem, porque razão a minha entidade patronal iria abdicar dum colaborador extremamente competente, absolutamente compenetrado, 100% disponível, profissional e acima de qualquer reparo? Por razão nenhuma. E é por isso que continuo a ser um colaborador a recibos verdes.

Com as mulheres com gato e os relacionamentos modernos passa-se mais ou menos a mesma coisa. Partilham o melhor nos melhores momentos, e esperam dos homens com cão o mesmo tratamento em troca. Disponibilidade total quando é exigido, competência e dedicação acima de qualquer reparo, sem complicações e sem correr riscos. Mas sobretudo sem direito a meter baixa quando as coisas não correm bem, e sem litígio legal quando há necessidade de quebrar o vínculo contratual.

No meu trabalho há um pequeno bengaleiro onde os efectivos penduram os casacos e as camisas clássicas de algodão, para terem sempre uma muda de roupa quando entram em directo no estúdio, ou em reportagem.

E ali como no closet não há espaço para mais ninguém.

sábado, 12 de junho de 2010

Livro de Reclamações


As prometidas novidades têm sido atrasadas pelo volume de trabalho quase desumano a que tenho estado sujeito nas últimas semanas, mas como não há fome que não dê em fartura apelo à compreensão de quem me lê para aguardar um pouco mais.. Tentarei compensar com motivação redobrada e temas ainda mais polémicos!


Até lá reclamem à vontade! rsrsrs :)

domingo, 30 de maio de 2010

Check-in


O mês de Maio trouxe mais um fim-de-semana de trabalho.

O destino foram as planícies alentejanas, e na bagagem coloquei apenas aquilo que achei necessário para a minha curta estadia. Sem surpresas quando cheguei ao hotel constatei que afinal tinha trazido roupa a mais, e não cheguei sequer a desfazer metade da mala.

Quando viajo gosto de ir preparado para qualquer eventualidade: um par de ténis para não aparecer no jantar de botas, um ou dois pares de jeans suplementares, duas camisolas para noites mais frias, o impermeável quando os senhores do tempo dizem que vai chover, e pelo menos uma t-shirt de manga curta porque isso raramente acontece.

Também costumo levar uns anti-histamínicos não vá ser obrigado a dividir a cama com pequenas metrópoles de ácaros, o que no Évora Hotel é de todo inevitável uma vez que o soalho dos quartos está forrado a alcatifa. Parece que estou a vê-los aos saltos e a treparem pelas minhas pernas. Blherk..

Cheguei ao hotel faltavam poucos minutos para as 22h. Já com o voucher na mão e de mochila às costas aproximei-me das escadarias que dão acesso ao átrio. Pelo caminho ia trocando impressões com um colega em Lisboa, garantindo que tudo tinha corrido bem com o envio por satélite a partir da RTP Évora.

Nisto, apercebo-me dum ajuntamento invulgar de mulheres com gato no átrio, bem em frente à porta principal do hotel. Vim a saber poucos minutos mais tarde junto da recepção que tratava-se duma despedida de solteira. Medooooo..

De passo seguro avancei em direcção às escadas. Eis senão quando instala-se um inesperado frenesim:

Um homem! Um homem! Uuuuuh!

Bom, talvez esteja a exagerar um pouco, mas confesso que a risota colectiva causou-me alguma surpresa e desconforto. E nestas circunstâncias, o que fazer?

1. Avançar destemido em direcção ao grupo como se nada fosse.

2. Tentar não tropeçar nos degraus das escadas, enquanto avança destemido em direcção ao grupo como se nada fosse.

3. Fingir que se enganou no hotel e fazer o check in mais tarde.

4. Pedir o número de telemóvel a todas.

5. Sair-se com um espectacular: olá, acabei de chegar de Marte, quem quer subir até à minha nave espacial?

....

Bom, a resposta certa é: nenhuma destas opções.

Embora seja muito importante não tropeçar nas escadas, quando confrontado com uma situação de risota colectiva a primeira coisa que um homem com cão deve fazer, sempre e em qualquer circunstância é...

...

...

Verificar se tem os botões das calças desabotoados! Nem mais. E foi exactamente isso que eu fiz, mas de forma discreta como é óbvio.

As mulheres com gato não perdoam neste tipo de situações, e é sabido como o mais pequeno erro pode levar a um sem número de suposições, capazes de fazer cair por terra a mais fortificada auto-estima masculina:

Mulher com Gato 1: Olha-me este com os botões desabotoados!

Mulher com Gato 2: Que horroooor!

Mulher com Gato 3: Aposto que é dos que deixam o tampo da sanita levantado também!

Mulher com Gato 1: Tem quem o baixe por ele, de certeza.

Mulher com Gato 2: Deve ser a mãe. Tem aspecto de ainda viver com os pais.

Mulher com Gato 3: E é claramente a mãe quem escolhe a roupa. Já viram aquela camisa?

E é assim num ápice que a nossa vida começa a andar para trás sem que tenhamos sequer consciência disso.

Felizmente não foi este o caso. Estava tudo no lugar e os botões bem apertados. Afinal tratou-se apenas dum grupinho inocente de amigas que beberam demais ao jantar, e que estavam por ali no Évora Hotel, completamente sozinhas, durante tooodo o fim-de-semana, numa despedida de solteira. Situação perfeitamente inocente, portanto.

Os hoteis são férteis neste tipo de acontecimentos bizarros. Lembro-me duma ocasião em Castelo Branco ter passado uma noite inteira em claro, no pior hotel onde alguma vez fiquei hospedado. As paredes eram tão finas mas tão finas que o mesmo prego dava para pendurar dois quadros. Um de cada lado.

Azar dos azares, no quarto ao lado estava um casal maratonista, daqueles para quem o coelhinho da Duracell é um boneco giro e tal, mas as pilhas acabam sempre cedo demais.

A dada altura apeteceu-me bradar lá para o outro lado:

Olhe! Agora a senhora escusa de gritar a dizer que vai se vir porque já toda a gente neste piso sabe disso, ok?!

Nos hóteis tudo pode acontecer, e o mais engraçado é que normalmente o tudo acontece mesmo. É uma espécie de zona franca nas relações interpessoais.

Da mesma forma que as zonas francas procuram estimular as trocas de mercadorias livres de quaisquer taxas alfandegárias, nos hoteis estimula-se tudo o resto sem que se pague mais por isso. É como nas Caraíbas: todo incluido!

Aliás, numa altura em que se discutem com grande preocupação os sintomas suícidas da sociedade portuguesa, que está cada vez mais longe da taxa de natalidade da UE, pergunto-me, como é que ainda ninguém se lembrou de trancar os portugueses em hoteis durante umas semanas?!

Duma só vez resolviamos o problema na construção civil, porque teriamos forçosamente de construir mais hoteis para hospedar o país inteiro; acabavamos com o desemprego porque iriamos necessitar de muito mais mão-de-obra, e para isto não há kosovares e romenos que cheguem; daqui a 9 meses Portugal estava cheio de bébés; e com um pouco de sorte salvavamos a segurança social e retiravamos o país da crise. Tchanaaan!

Mas voltando à questão central, existe de facto uma certa moral permissiva quando estamos dentro dum hotel, e nesse sentido os padrões da moral tradicional têm tendência para serem frequentemente esquecidos. Se não na sua totalidade pelo menos em parte enquanto durar a estadia.

Nos hoteis essa moral permissiva sente-se pelos pequenos gestos que as mulheres com gato habitualmente não fazem no seu dia-a-dia.

No mini-mercado não dizem bom dia caso se cruzem com um qualquer homem com cão, mas isso acontece com frequência nos hoteis quando por exemplo esperamos pelo elevador, ou quando nos sentamos ao vosso lado nas cadeiras das piscinas.

Na fila das finanças dificilmente uma mulher com gato vai sorrir para quem estiver ao seu lado, mas no buffet ao jantar esse gesto sai com facilidade e elegância desconcertantes.

Nas minhas brincadeiras de miudo tinha sempre uma estratégia de recurso quando estava prestes a vergar-me à humilhação de perder um qualquer jogo entre amigos. Eu chamava-lhe o essa não valeu. Claro que depois teria de explicar porque razão não valeu, mas o jogo não podia acabar ensombrado pela dúvida. A jogada roçava a batota, mas como em tudo na vida a diferença entre a verdade e a mentira está no poder de argumentação.

Os hoteis fazem-me lembrar esses tempos:

Amiga 1: Querida, vou confidenciar-te uma coisa..

Amiga 2: Aii conta!
Amiga 1: Lembras-te daquele gajo podre de bom que conhecemos na piscina do hotel?

Amiga 2: Claro que me lembro. O Raaaaaul..

Amiga 1: Pois, o Raaaaaul..
Amiga 2: Aii, não me digas!

Amiga 1: Digo sim, e foi tão bommmm!

Amiga 2: Amiga fico tão contente por ti!

Amiga 1: Obrigado querida, mas estou a sentir-me tão mal agora..
Amiga 2: Oh querida, foi no hotel durante as nossas férias. Essa não valeu.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Pai, vou namorar com a Beatriz!"


Ontem saí com o meu filho para um evento social. Nada de mais, apenas um jantar de aniversário duma pessoa amiga ao qual não podia de forma alguma faltar. O fim-de-semana era para tomar conta do filhote, e por isso acabei por levá-lo comigo.

Chegado ao restaurante constatei que a maior parte das pessoas também traziam companhia, mas no meu caso o Martim era o único que não conseguia tocar com os pés no chão!

A ternurenta imagem do meu filho sentado na cadeira com as pernas entrelaçadas a baloiçar, fez-me pensar no mais recente anúncio da Sumol, e foi de facto com indisfarçavel embaraço que constatei o seguinte: para mim sair à noite é cada vez mais ir até ao caixote do lixo ao fundo da rua, e já está.

A minha vida social não está parada, está ligada à máquina a vegetar. Entre isto e ficar a ver quanto tempo demora um caracol ferido de morte a subir ao topo dum eucalípto é difícil escolher. Sem ofensa para o caracol claro.

Claro que nada disto acontece porque acordei num belo dia de manhã e disse Ooh! Era tão giro ser virgem outra vez!

O problema coloca-se duma forma aparentemente simples, mas paradoxalmente sem solução possível, senão vejamos:
O dia tem 24 horas, mas dez horas e meia de 2ª a Sábado estão ocupadas com trabalho. Sobram treze horas e meia, tempo mais que suficiente para as minhas coisinhas, certo? Errado.

Continuemos, mas sem contabilizar o Domingo, dia que reservo para ir ao golfe, almoçar fora, jogar à bola e fazer tudo isto e montes de outras coisas que todos os pais gostam de fazer com os filhos. Excepto quando estou a trabalhar, porque também tenho Domingos assim.

O dia começa quase sempre muito cedo, por volta das 7h. A rotina repete-se e depois da barba, do banho e da roupa, desço para comprar pão e tratar do pequeno almoço e lanche do Martim. Às 8h acordo-o, e depois de 10 minutos na ronha finalmente convenço-o a arrastar-se até ao sofá da sala, quase sempre subornado pelos desenhos animados da RTP2. Às 8.30h começo a vesti-lo, 5 minutos depois vai lavar os dentes e pentear, e se tudo correr bem às 8.50h estamos a sair de casa já a caminho da escola.

Sobram 13 horas e meia mas na verdade são apenas 11 horas e meia porque o despertador toca às 7h da manhã. Todo o santo dia carambaaa!

Quando chegam as 19.30h é altura de regressar a casa, mas a essa hora o trânsito reclama pelo menos 30 minutos pelo caminho. Mais duas horas para o banho, jantar e lavar a louça, e há que tratar da roupa para o dia seguinte, tarefa que exige pelo menos mais 30 minutos nos melhores dos dias.

Se há coisa que ainda não sei fazer em tempo útil é passar a ferro. Deviam inventar uma espécie de Bimby mas para a tábua de engomar. Tornava tudo tão mais simples!

Ora bem, sobram 8 horas e meia mas tenho a ideia de que estou a esquecer-me de qualquer coisa.. Ah, é verdade! Tenho de dormir! É isso!

O sucesso da minha vida pessoal está portanto dependente da única coisa que nos permite manter a saúde física e mental, bem como as nossas competências profissionais e boa-disposição: o sono.

Mais dum lado significa menos do outro, e bem vistas as coisas – usando uma linguagem mais grosseira – se descanso a cabeça de cima deixo a outra de baixo entregue à solidão e ao abandono. ‘Tadinha..

O drama maior é que mais sexo – ou qualquer sexo já agora – significa menos horas de sono. Menos horas de sono significam mais cansaço, que por sua vez levam a pior sexo e menos horas de sono ainda! Nas palavras do mítico Artur Albarran, o drama, o horror..

Olhando para a minha rotina diária, e mesmo que reserve para mim umas míseras 6 horas úteis de sono, restam-me apenas duas horas e meia para investir na minha vida social. E a pergunta que se coloca é esta:
O que é que está ao alcance de qualquer homem com cão em 150 minutos apenas?
A resposta é simples. Depende da mulher com gato.

Se levarmos em linha de conta que a minha Kangoo não consegue ultrapassar os 110 kms/h a direito em dias com pouco vento, 30 minutos de caminho mais o estacionamento dão-me para chegar a Lisboa quanto muito. Depois é preciso regressar, e no ir e voltar subtraimos 60 minutos aos 150 disponíveis. Sobram 90 minutos para um café. Dramáticoooo!

Entre os olás, os beijinhos, a conversa para quebrar o gelo, e o ficar mais à vontade gastam-se pelo menos uns bons 30 minutos de muito boa conversa, e já não é para qualquer um.

Ou seja, partindo do princípio de que tudo corre bem nos primeiros 30 minutos, e que em meia-hora é possível deixar uma mulher com gato completamente à vontade e disponível, sobram uns incríveis 60 minutinhos para conseguir fazer tudo isto:
Criar o clima certo para o primeiro beijo, perceber quem quer ter a iniciativa, decidir quando tomar a iniciativa, dar o tal primeiro beijo, fazer com que não seja o último, perceber quando é que se pode meter as mãos, e sobretudo quando é que devemos parar e deixar que o silêncio sugira e agora? sem esquecer de pagar a conta do café.

E mesmo que tudo corra bem até aqui, é inevitável não começar a roubar horas à almofada depois disto, e eram só 6 lembram-se? Nao é facil.

Claro que tudo isto depende da mulher com gato, e se há quem felizmente faça do sexo um assunto sério que deve ser experimentado sem constrangimentos emocionais e com sentido de humor, há por outro lado há quem entenda o sexo como algo de terrivelmente sério, e que só faz sentido ser vivido quando existe um sentimento maior e mais nobre, chamado amor. E ai de quem diga o contrário. A fogueira está logo ali a fumar em lume brando.

Nestes casos muito sérios (e muito aborrecidos também), o sexo raramente é visto como um instrumento de prazer para os dois, mas quase sempre como um prémio:

Apaixonado Recente: Ora bem, então se eu levar o amor isso dá-me direito a quê?

Senhor da Loja: Ehpa se levar o amor tem tudo incluído!

Apaixonado Recente: Ehh! Tudo mesmo?

Senhor da Loja: É como lhe digo! Melhor que isto só o México em tempos de gripe!

Apaixonado Recente: Espectáaaculo! E tenho direito a sexo também?

Senhor da Loja: Oh meu amigo! Quando se ama é a qualquer hora!

Apaixonado Recente: Ehpa, mas eu não amo a outra pessoa..

Senhor da Loja: Oh homem, diga que gosta muito pronto. É quase o mesmo.

Apaixonado Recente: E depois como faço se acabar mais tarde?

Senhor da Loja: Oh homem, olhe diga que estava confuso e que pensava que era amor. ‘Tá sempre a acontecer.

E é exactamente isso, está sempre a acontecer.

Se por um lado é certo e sabido que no sexo os homens comem o que podem e as mulheres comem o que querem, no amor quem anda à chuva molha-se, e é muitas vezes a obrigação de chegar a um relacionamento mais profundo e a necessidade de validar sentimentos que acabam por destruir as relações, tudo porque ainda existem mulheres com gato que continuam presas a ideias preconceituosas e moralismos obsoletos, preferindo ocultar o prazer em vez de revelar esse mesmo prazer.

Não me entendam mal, nada tenho contra o amor. Acredito plenamente na ideia de que um dia irei voltar a percorrer esse caminho, mas também acredito que existem outras formas de satisfação e realização pessoais, e em 60 minutos apenas não creio que a nobreza dos sentimentos seja suficiente para subverter as leis físicas da atração.

E essas são muito simples, e funcionam de forma instantânea quando dois corpos se atraem. Quanto muito basta juntar um café.

Quando terminamos o jantar, e já a caminho de casa, o meu filho confidenciou-me no carro que na 2ª Feira vai ter um jogo de futebol importantíssimo até aos 3, com um coleguinha lá da escola. A ideia nem sequer foi deles mas sim da Beatriz, e é muito simples: quem ganhar namora com a Bia.

É desconcertante a forma como os miudos resolvem os problemas dos adultos.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Afinal havia outra


A loira da foto chama-se Elin Maria Nordegren, sueca, 30 anos de idade, babysiter e modelo fotográfico de fatos de banho, era até há uns anos atrás uma perfeita desconhecida.

Em Outubro de 2004 Elin deixou o anonimato ao casar com Tiger Woods, golfista nº 1 do mundo e um dos desportistas mais bem pagos de sempre.

A exposição pública mudou a vida de Elin Woods para sempre, primeiro ao ser considerada uma das mulheres mais bonitas da Suécia, e mais recentemente por ter descoberto que o seu marido a enganou com uma empregada de mesa dum restaurante em Orlando, com uma gerente duma discoteca em Las Vegas, com uma modelo também de Las Vegas, com uma barmaid de Los Angeles, com uma RP de Nova York, com uma fulana de Manhattan que está desempregada, e com duas atrizes porno que são basicamente de todo o laadoooo.

Olhando de novo para a foto, a primeira questão que qualquer homem com cão está neste momento é fazer é: Ehpa, mas porquê?!

Não está em causa a profissão das 9 amantes, até porque servir copos num bar é tão digno como fazer filmes porno. Mas caramba, estar casado com uma das mulheres mais bonitas da Suécia, e depois traí-la com uma empregada de mesa dum restaurante qualquer não faz lá muito sentido.
Bom, a menos que o restaurante seja na Suécia.

Já as estrelas porno eu até percebo porquê. Faz parte do fetiche do universo masculino ter sexo com tudo o que é mulheres com gato que prestam serviços e passam recibos verdes, e aquele que nunca sonhou sacar o telemóvel a uma striper que atire a primeira pedra.

...
...

Pois.

O escândalo implodiu a imagem de menino do coro que Tiger Woods cultivou durante tanto tempo, e deixou metade do mundo num estado de preplexidade difícil de explicar. Não é para menos. O copinho de leite com ar de tótó e com as calças de fazenda de cintura subida apertadas pelo umbigo, é afinal de contas um taradão capaz de envergonhar o nosso Zéze Camarinha, e com uma vantagem: não faz figura de saloio quando diz baby put the cream.

E sabe-se lá quantas babys puseram o cream no wood do Tiger.. Oficialmente foram 9 mas é certo e sabido que estas coisas do adultério são mais ou menos como as obras públicas em Portugal, e é rara a vez em que não há uma derrapagem orçamental.

Aliás, as comparações entre Tiger Woods e José Sócrates são por esta altura quase inevitáveis, senão observe-se: um mete bolas no buraco o outro meteu-nos no buraco, andam os dois a fod## meio mundo, e quando confrontados com isso um refugiou-se numa clínica enquanto que o outro fugiu para a Líbia.

Mas voltando a Elin Woods, e por muito subjectivo que seja o ideal de beleza nórdico – pessoalmente prefiro as morenas -, custa de facto a acreditar que esta sueca de olhos azuis tenha sido trocada, entre outras por uma empregada de mesa dum restaurante qualquer com o cabelo a cheirar a bacon e batatas fritas.

Tiger Woods veio recentemente a público pedir desculpa numa conferência de imprensa encenada, e para a qual o seu gabinete de comunicação escolheu criteriosamente os intervenientes. Diz-se curado da viciação sexual e arrependido por ter causado tanto sofrimento à mãe dos seus dois filhos, e às pessoas que viam nele um bom pai de família e um exemplo a seguir para os mais novos.

‘Tadinho. Até pode ser verdade. Aliás, vendo bem as coisas o Sócrates até pode ser mesmo engenheiro, de forma alguma tentou controlar os meios de comunicação social no nosso país, não mandou calar o Jornal Nacional da TVI, nunca recebeu dinheiro para viabilizar o Freeport, nem está envolvido no caso “Face Oculta”, apesar das escutas telefónicas terem revelado que a partir de determinado momento Sócrates começou a falar em código com Armando Vara, arguido no processo “Face Oculta”.

No fundo no fundo Woods e Sócrates são dois gajos porreiros.

Acredita quem quer. No caso de Tiger acreditou Elin que aparentemente terá desculpado o seu marido, já no caso do PM ainda vai acreditando a dona Maria Adelaide Carvalho Monteiro, a mãe de José Sócrates. Até ver.

No que toca à loira da foto, o que está aqui em causa não tem muito a ver com a beleza física da pessoa, nem tão pouco com esse conceito demagogo que as pessoas pouco ou nada interessantes inventaram para diminuirem a importância das leis da atracção, e que são no fundo o motor das relações humanas. Falo claro está da chamada beleza interior.

Nao tenho nada contra a beleza interior. Aliás, quem me conhece sabe que a superficialidade não faz o meu género, e também eu gosto de pessoas que me contagiem pela alegria de viver, que me surpreendam pelo seu carácter e que me prendam pela sua personalidade e inteligência. Essas são as que ficam, na memória ou na minha vida.

Agora aquela conversa do ahh e tal eu não tenho fotos no facebook porque quero que gostem de mim pela minha beleza interior.. Por favor, tenham vergonha na cara, parem de comer bolas de berlim cheias de creme e vão para os ginásios que por esta altura já devem estar com umas promoções bem em conta.

A questão não tem portanto a ver com beleza, porque tão facilmente acontece à sueca, loira e de olhos azuis da foto, como acontece à vizinha do lado que nasceu em São Sebastião de Pedreira, tem dois filhos e trabalha das 9 às 5h numa fábrica qualquer. A questao tem a ver connosco, homens com cão (e convosco também porque isto do adultério toca a todos).

Afinal, o que nos faz ser infiéis?

Claro que esta é uma das perguntas para a qual ainda não conhecemos a resposta. É a mesma coisa que perguntar qual é a origem do universo?, ou para onde foi o vírus da Gripe A depois de tantas páginas de jornais a profetizarem uma pandemia à escala global?, ou mesmo porque motivo continua o Sócrates no Governo?
Lá está, são questões que atormentam a Humanidade.

Longe de mim querer filosofar acerca desta matéria, mas olhando para a lista de mulheres com quem Tiger Woods traiu Elin, a sua esposa, rapidamente encontramos alguns tipos de mulher com gato com quem os homens amiudemente fantasiam, começando pelas duas estrelas da indústria côr-de-rosa. Não, não estou a falar da Mituxa Jardim e da Lili Caneças...

Quem não ouviu já a expressão uma lady na mesa e um a p### na cama? Pois é isto que todos nós procuramos numa mulher. Alguém que saiba respeitar a ordem dos talheres na mesa de jantar, e que ao mesmo tempo goste de ser desrespeitada em cima da mesa de jantar.

(neste contexto dispensam-se os talheres)

Ora, desconheço se as duas atrizes porno sabem a diferença entre uma canja e um consumé, mas lá que devem ser umas grandes p#### na cama (e em qualquer outro lado) quanto a isso não há dúvidas. E não há homem com cão que não ache isso o máximo.

Atente-se no seguinte exemplo:

Amigo do Toni: Ehpa, vocês já viram a namorada do Toni?
Grupo do Toni: Não, o que é que tem?
Amigo do Toni: Ehpa diz que é uma tipa qualquer que dá aulas de psicologia numa universidade.
Grupo do Toni: Ahhh...

Agora o mesmo diálogo mas com outra protagonista:

Amigo do Toni: Ehpa, vocês já viram a namorada do Toni?
Grupo do Toni: Não, o que é que tem?
Amigo do Toni: Ehpa diz que é uma tipa qualquer que dá aulas de psicologia numa universidade, e trabalha na Passarelle.
Grupo do Toni: G’ANDA TONI! UH UH UH!!!

Claro está que depois do zurro tribal alguém iria lembrar-se de perguntar ao Toni se a namorada tem amigas lá no trabalho.

Outro tipo de mulher com gato a quem somos bastante permeáveis é a barmaid da discoteca.

Regra geral são escolhidas a dedo, usam menos roupa que as stripers, trabalham num sítio onde é impossível manter uma conversa - e como é sabido isso pode ser um problema para a maior parte dos homens -, dão-nos bebidas à pála, e na manhã seguinte ficam sempre a dormir até tarde o que permite-nos sair mais cedo e sem grande banzé.

E por aí fora.

O mais anedótico no meio de tudo isto é que passamos a vida toda a trabalhar para chegar aos 50 anos de idade com um bom carro, um bom apartamento, dinheiro no banco, e casados com uma mulher que também envelheceu connosco.

Chegados aí há quem deite tudo isso a perder. E para quê?

Pouco tempo depois estamos a viver de novo num apartamento muito parecido com aquele que tinhamos aos 25 anos de idade, damos por nós a conduzir um carro com 25 anos de idade, mais ou menos com o mesmo dinheiro que tinhamos no banco aos 25 anos de idade, mas sem a miuda que aparentemente estaria mais interessada no nosso estilo de vida aos 50 anos de idade.

Tiger Woods alegou em defesa própria que a sua mulher, a loira da foto, não gosta de sexo. José Sócrates por sua vez disse que não iria aumentar os impostos. Lá está, acredita quem quer.

Convém recordar porém que no erro pode existir lugar a meias culpas, mas na mentira não há lugar para meias verdades, e se há coisa que custa mais é descobrir que afinal afinal...

... “havia outra”.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Venha cá!

Há relativamente pouco tempo estava eu a navegar nas redes sociais, e eis senão quando dou de caras com uma daquelas fotos que valem por mil palavras.

Fiquei ali estupefacto a olhar para aquilo enquanto me perguntava ehpa será que era mesmo esta a ideia?

À partida seria mais uma foto igual a tantas outras. Uma mulher com gato nos seus trintas e tais, loira, com um metro e sessenta e pouco, posava de forma sugestiva no interior dum hipermercado, em plena área comercial.

Pronto ok, a senhora tirou dois minutos das compras e resolveu posar para a máquina entre a secção dos congelados e a charcutaria. Convenhamos, não é muuuito normal mas aceita-se.

Pior mesmo foi o sítio escolhido dentro do hipermercado, junto à arca dos produtos do dia. E lá estava a menina a tentar transmitir aquela imagem sedutora e convidativa, quase como se duma campanha publicitária se tratasse.

Só faltava a legenda por baixo: aqui é tuuudo mais barato. O gosto é duvidoso mas já vi pior em televisão.

Mas não foram o sítio ou as circunstâncias que me deixaram estupefacto. Não. Apesar de toda aquela extravagância, esta seria ainda assim mais uma foto, não fosse a legenda inscrita na própria arca refrigeradora.

Então dum lado tinhamos a menina na pose sedutora e convidativa, e do outro a dita arca refrigeradora, onde um pouco mais abaixo podia ler-se o seguinte:

Carne Fresca

Ora bem, olhando para isto do ponto de vista do personnal advertising, esta mensagem está no mínimo a roçar a genialidade.

Numa altura em que cada um de nós se preocupa cada vez mais com a imagem, e há quem gaste rios de dinheiro em health-clubs, day spas, e em personnal trainers, houve quem se lembrasse de ir até ao hiper mais próximo, encostar o rabo ao arrefecedor dos produtos do dia, e aproveitar a carne fresca em rodapé para se promover como algo fresquinho, suculento e muito comestível.

Até pode ser um caso flagrante de publicidade enganosa, mas há que admiti-lo, está genial!
O problema aqui está na forma como o vulgar homem com cão olha para uma imagem deste género, e neste domínio a mensagem pode ter várias interpretações, senão vejamos os seguintes exemplos:

Carne fresca.. Este letring está horrível e se está dentro duma arca refrigeradora é óbvio que a carne está fresca não?! Daaaah!

Este é um homem com cão do tipo gay.
Reparem como ignorou por completo a mulher com gato na pose sedutora e convidativa, e centrou-se apenas no aspecto gráfico da mensagem, uma coisa importante para os homens com cão gays, sabendo de antemão que têm todos a mania que são decoradores de interiores.

Há cada vez mais homens com cão que vão e não voltam, e porque adoram fazer compras a possibilidade de você se encostar a uma arca refrigeradora para a pessoa errada é, neste caso, substancialmente elevada.

Carne fresca.. Por acaso sabia bem um bifinho agora com aquele molhinho de cogumelos e natas que a minha mãe faz tão bem..

Este é o Homem com Cão do tipo tótó.
Neste exemplo a mulher com gato na pose sedutora e convidativa continua a ser ignorada, e a ideia da carne fresca rapidamente fez lembrar os bifinhos com cogumelos da mamã. Mais tótó do que isto é impossível, e à semelhança do que acontece com o exemplo anterior também aqui a mulher com gato loira e poderosa não faz qualquer diferença, porque o homem com cão desta natureza sabe que ela não está lá por causa dele.

As hipóteses de vir a encontrar este tipo de homem com cão são pouco menos que remotas, a menos que esteja a ajudar a tia-avó a carregar o cesto das compras.

Carne fresca.. O que tu queres sei eu! Comia-te toda!

O Homem com Cão macho!
Aqui a ideia da arca refrigeradora ter boa carne e realmente fresca não chega sequer à parte do cérebro que processa o pensamento analítico, e não chega porque o homem com cão em causa simplesmente não está a pensar com o cérebro.

Neste exemplo a mulher com gato está lá porque ele existe, e a julgar pela pose sensual e convidativa ela deve gostar pouco deve.

A possibilidade de encontrar um homem com cão desta estirpe num qualquer hipermercado é muito elevada, e se não fossem quase todos casados rapidamente morreriam à fome porque em última análise esqueciam-se de ir à arca buscar comida.

Carne fresca... Humm.. Sem dúvida alguma, nunca te tinha visto por aqui..

O Homem com Cão oportunista.
Este tipo de homem com cão é comummente associado ao mito urbano que tornou célebre a figura dos homens com um carrinho de compras, um bébé lá dentro, e sem aliança no dedo. Estamos a falar do topo da cadeia alimentar. Medooooo..

Estes homens com cão habitam as planícies dos hipermercados, o seu território de caça predilecto.

Dominam as técnicas dos descontos no talão de compras, e escolhem as caixas com uma precisão cirúrgica, optando sempre por colocar o carrinho entre um casal de idosos e a sua presa. É garantido que vão ter tempo suficiente para preparar o ataque, até porque a maior parte dos idosos perde-se a contar as moedas, não usam multibanco e conhecem sempre alguém que conhece a rapariga da caixa.

É frequente encontrarmos este tipo de homem com cão nas superfícies comerciais, quase sempre acompanhados pelo sobrinho, ou pelo filho. Não têm muita pressa na forma como se deslocam pelos corredores, e estão sempre a brincar com o miudo, o que dinamita automaticamente quaisquer defesas das incautas mulheres com gato.

Ohh querida, nós não precisamos de carne fresca lá em casa?

Já estão a ver que tipo de Homem com Cão é este, não estão?

O Homem com Cão casado.
Este é um tipo de homem com cão que normalmente faz do carrinho um prolongamento da sua barriga.

O homem com cão casado precisa de controlar as operações, e é por isso que gosta de conduzir o carrinho das compras. Até ao hiper é ele quem conduz o carro da família, depois assume o comando do carrinho, e apesar de não ser visto nem achado no que à lista das compras diz respeito, o carrinho esse é só dele.

Normalmente segue atrás da mulher, o que é bastante conveniente porque permite-lhe controlar quem passa, e quando confrontado com a tal carne fresca costuma ficar ligeiramente apático, babando-se ocasionalmente.

É muito frequente encontrá-lo nas grandes superfícies comerciais, destacando-se dos outros com relativa facilidade porque está quase sempre rodeado de 2 ou 3 índios a quem chama filhos, e arrasta o carrinho das compras com algum esforço.
Ora este tipo de fauna também habita as redes sociais, cada vez mais importantes no que ao personnal advertising diz respeito.

Publicar uma foto na nossa janela para o mundo pode parecer inconsequente, mas a verdade é que a nossa imagem depende em grande parte daquilo que projectamos em quem nos rodeia, como se dum espelho se tratasse.

Hoje em dia as redes sociais confundem-se cada vez mais com os hipermercados. Há de tudo e para todos os gostos, sem esquecer a secção dos produtos frescos do dia. Aliás, manobra genial de co-branding seria o Pingo Doce associar-se ao Netlog, ou ao Hi5, e sempre que abrisse a página de acolhimento da rede social aparecia o jingle: pin-go-do-ce-ve-nha-cá!

E na maior parte das vezes basta fazer como os senhores do pingo doce dizem, e ir lá! Pessoalmente não tenho nada contra a carne fresca. Há momentos para tudo desde a bela da bifana ao requintado rosbife.
Uma amiga minha disse-me uma vez algo que tão cedo não vou esquecer. Um bife do lombo pode passar por entremeada se quiser, mas uma entremeada nunca será um verdadeiro bife do lombo.
Cada vez dou-lhe mais razão. Difícil não é encontrar os produtos frescos do dia com descontos no talão, mas encontrar quem nos faça sentir dedicados a fazer as nossas comprinhas sempre no sítio do costume..

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010

A situação repetiu-se vezes sem conta no passado mas desta vez era impossível disfarçar a ansiedade que se apoderava de mim a cada segundo.

Procurei esconder a inquietude que me toldava o espírito diminuindo a importância do momento.
Disse para mim próprio já fizeste isto vezes sem conta, é só mais uma, mas na realidade sabia que que desta vez tudo seria diferente, e depois disso nada ficaria igual. Conseguia senti-lo, talvez como nunca o senti em circunstância alguma no meu passado recente.

A impaciência com que vivia esses últimos momentos contrastava com a absoluta tranquilidade com que ela olhava para mim. Impávida e serena, confiante e perturbadora. Confesso que isso agitou-me ainda mais, e naquele instante tornou-se claro que era ela quem tinha o controlo emocional da situação.

Avancei decidido mas incerto quanto ao desfecho dum momento que assumia contornos cada vez mais angustiantes a cada segundo. Toquei-lhe ao de leve primeiro, depois com mais intensidade e confirmei os meus piores receios.

Oitenta e quatro e meio! Foi exactamente aí que parou o ponteiro na primeira vez que subi à balança em 2010!

Caramba! Pronto ok, eu já esperava algum peso a mais depois do natal e da passagem de ano, mas 3 quilos e meio em pouco mais de 8 dias? Helloo??

Sua cabra! injuriei em voz alta enquanto observava estupefacto o ecrã digital da balança a imobilizar-se nos 84,5kgs. E de nada me valeu colocar-me em biquinhos de pés! É rídiculo eu sei, mas um homem quando está desesperado é capaz de quase tudo.

Àquele momento atroz só faltou mesmo a imagem no espelho do Artur Albarran a dizer estas são imagens reaaaais! para o cenário ficar completo dum surrealismo capaz de rivalizar com um qualquer quadro de Dali ou Magritte.

Portanto, foi assim que eu entrei em 2010, com 3 quilos e meio a mais em relação aos 81 kgs de 2009. Dito assim nem parece muito mal. Dá aquela ideia de que fui ganhando 9 gramas e meia por dia durante os 365 dias do ano, quando na realidade devo ter acumulado aí umas 437 gramas por dia em pouco mais de uma semana.

Provavelmente ainda não devo ter terminado a digestão das broas de mel, do bolo inglês, do tronco de natal, da molotof, da tarte de natas, da tarte de amêndoa, dos chocolatinhos salpicados pela mesa, da lampreia, das filhós, do bolo rei e das azevias de gila que devorei na noite de natal. Provavelmente não. Blheerk..

Por esta altura gostaria de deixar um sentido obrigado à minha mãe, que fez questão de repetir oh filho come come que estás tão magrinho. E continuou a insistir mesmo quando praticamente não havia quase nada para comer. Hummm..

Diz o povo e muito bem casa roubada trancas à porta, e foi com este espírito que acabei por encontrar um sítio na net que oferece 10 dicas para prevenir o excesso de peso neste período festivo. Pena só ter encontrado isto 12 dias e 3 quilos e meio depois do natal, mas mais vale tarde que nunca.

O giro nisto tudo é que este é um sítio feito por mulheres com gato, e para mulheres com gato, ou não estivesse alojado em www.paramulher.com.pt

Não querendo beliscar o mérito de quem encontrou tão brilhantes soluções, confesso que é com perplexidade que olho para algumas das 10 sugestões apresentadas neste sítio, senão vejamos:

1. Tome 5 refeições por dia nos dias prévios à véspera de natal, no natal e na passagem de ano.
Ora bem, vamos então contabilizar 5 refeições por dia nos dias 23, 24, 25, 31 e 1, somadas às habituais 3 refeições nos dias 26, 27, 28, 29 e 30. Isto significa que no espaço de 10 dias você tomou 40 refeições. Helloo? Não será mais fácil comprar um talho?! Caramba, eu acho que devo ter comido umas 40 vezes nos dias 24 e 25 e não foi assim que mantive o peso.

3. Beba água! Tente beber 2 litros de água por dia.
Portanto, 2 litros de água por dia ao final dos 10 dias seriam 20 litros de água, somados às 40 refeições! Ahhh.. Isto deve ser a dieta dos rinocerontes do zoo. Só pode.

5. Coma fruta e verduras entre as horas das refeições.
Ergh.. Eu não quero ser chato mas a menos que se trate realmente da dieta dos rinocerontes do zoo, ainda há espaço para comer frutas e verduras entre as 40 refeições e os 20 litros de água?

7. Mastigue devagar.
Esta é facil, aliás nem pode ser de outra forma se você vai comer 5 vezes ao dia enquanto ingere 2 litros de água, mais frutas e verduras. Coincidência ou talvez não, qual é o bicho que mastiga surpreendentemente devagar, qual é?

8. Coma em pratos pequenos.
Muito bem, então vamos comer 5 refeições ao dia mas em pratinhos de sobremesa. Não interessa se você come muito ou pouco, mas se comer 5 vezes ao dia e acima de tudo em vários pratinhos pequeninos é garantido que não vai engordar. Pois. Logo a seguir pode ir no carro do Noddy com o Elvis beber uma frize de limão ao café da Alice, no País das Maravilhas.

9. Afaste-se dos doces!
Reparem na imaginação prodigiosa destas mulheres com gato! Depois das 40 refeições em pratos pequeninos, dos 20 litros de água, das frutas e das verduras, ainda há espaço para os doces! Suas malucas!

10. Pratique exercício! Um passeio no mínimo de 30 minutos ajuda a fazer a digestão entre as refeições.
Passeio que deve ser acompanhado de frutas e verduras (lembra-se da dica nº5?), ou seja, mesmo quando não está a comer em pratinhos pequeninos você não pára de mastigar.

Caramba, isso é que vai ser perder peso como se não houvesse amanhã. Siga estas dicas e vai ver que 2010 vai ser um ano cheio de surpresas, especialmente quando estiver sozinha num elevador e ouvir o biiip a acusar excesso de passageiros.

Exageros à parte chego à conclusão de que as mulheres com gato dificilmente serão alguma vez boas conselheiras entre si. E porquê? Porque na sua essência permanecem iguais, melhor dizendo, rivais.

As morenas vão continuar a menosprezar as loiras, e uma mulher com gato que vista o 32 ou o 34 só pode realmente ser feliz se houver no mundo quem vista apenas o 36 ou o 38.

Do lado oposto e muitas vezes indecifrável estamos nós, os homens com cão. Quando há uns dias comentei com um amigo o peso a mais na balança, não recebi do outro lado 10 dicas para recuperar uma barriga lisa. Bastou um isso vai ao sítio com muito sexo e ginásio.

Colocado desta forma até parece fácil, mas a verdade é que uma mulher com gato não conseguiria chegar aqui sem primeiro falar dos chás de emagrecimento, da nova dieta que viu na Oprah, daquele ginásio que tem muito bom ar e da fulana tal que anda a comer o instrutor de cardio.

O novo ano está aí mas não é preciso ser o Prof. Karamba para advinhar que entre homens com cão e mulheres com gato, em 2010 pouco ou nada vai mudar.

ps: o bicho que mastiga surpreendentemente devagar é mesmo o rinoceronte!