terça-feira, 28 de julho de 2009

O teste Peter Pan


A última entrada no Blog do Homem com Cão terminou com uma questão à qual não dei resposta:

Ele é o homem certo para si?!
Método revolucionário escolhido por juri científico.

Acredito que a impertinência da pergunta merece algum desalinho da sua parte – especialmente se for casada com um homem com cão-, mas e se fosse mesmo possível quantificar até que ponto ele é, ou não, o homem certo para si? O que você faria?

Preferia viver na ignorância para sempre ou ia querer fazer as suas continhas?

Se por esta altura já está de máquina de calcular na mão e a esfregar as mãos de contente, então esta entrada foi mesmo escrita a pensar em si.

Primeiro que tudo convém explicar no que consiste afinal este método revolucionário.

Trata-se tão somente duma fórmula que permite calcular numa escala de 0 a 20 até que ponto o seu namorado, junto, ou marido, é ou não o homem certo para si. Preparada para o teste que pode mudar a sua vida? (esta frase é tãaaaao Happy!)

Depois de muitos meses de trabalho (dois dias) os investigadores (eu) descobriram uma fórmula simples, aplicável a todos os homens com cão, e por todas as mulheres com gato. É universal, objectiva, coerente e acima de tudo infalível. É o Teste Peter Pan!




H = (P + F)/2



A formula explica-se do seguinte modo:


Um homem – qualquer homem – é a soma de duas partes distintas. Personalidade e Físico (P + F) divididos por 2.

A Personalidade por sua vez resulta da soma de 5 elementos fundamentais:

inteligência; carácter; sensibilidade; respeito (por si próprio e pelos outros); e capacidade de amar ou gostar (de si próprio e dos outros).

Os primeiros 4 elementos pontuam de 0 a 5. O último é o elemento mais importante na Personalidade, e por isso pontua a dobrar de 0 a 10.

Depois de atribuir um valor a cada um destes elementos soma as 5 parcelas. Esse número terá então de ser dividido pelos ciumes na seguinte escala de 0 a 3:

0 não sente ciumes, nem mesmo quando você sai com o seu melhor amigo.
1 sente alguns ciumes mas não se nota nunca.
2 sente ciumes, amua ocasionalmente mas evita demonstrar.
3 sente muitos ciumes, faz cenas, e chega a ser paranóico.

Quanto mais ciumento for o seu namorado, junto, marido ou pretendente a qualquer coisa, mais este valor será dividido. Um exemplo prático:

Duarte, 34 anos, engenheiro civil.

Inteligência 4
Caracter 4
Sensibilidade 4
Respeito 4
Capacidade de amar 8
Total 24
Ciumes 3
Total final 8

Neste caso os 24 pontos dos 5 elementos foram divididos por 3 porque o Duarte é possessivo, ciumento e paranóico a ponto de fazer um escândalo porque um tipo qualquer na discoteca não tirava os olhos de si. Aquilo que era um bom resultado transformou-se num verdadeiro desastre.
Mas numa boa relação nem só de boa personalidade vive uma mulher com gato.
O Físico é igualmente importante e também resulta da soma de 5 elementos fundamentais:

corpo; cara; estilo; charme; e cama.

Os primeiros 4 elementos pontuam de 0 a 5. Como é óbvio a cama é o elemento mais decisivo na parte física, e como tal pontua a dobrar, de 0 a 10.

O mecanismo é exactamente igual e depois de atribuido um valor a cada elemento basta fazer as contas e achar o valor total da soma das partes.

Mas também aqui há um elemento divisor, neste caso o egoismo numa escala de 0 a 3.

0 pessoa completamente altruísta. Dá tudo o que tem.
1 se é egoísta não se nota, nem nos dias maus.
2 egoista em muitas coisas, especialmente nos afectos. Recebe mais do que dá.
3 pessoa totalmente egocentrada. É a última coca cola do deserto.

É certo e sabido que pessoas muito bonitas são normalmente muito egocentradas, egoístas e viradas para o seu próprio umbigo. É por isso justo que seja este o elemento que come pontos na parte física. Vamos a um caso prático:

Henrique, 38 anos, médico.

Corpo 3
Cara 3
Estilo 4
Charme 5
Cama 8
Total 23
Egoismo 1
Total final 23

Henrique pode não ser a última bolachinha do pacote, mas é competente, charmoso e tem um estilo sóbrio e personalizado. Fez quase os mesmos pontos que o nosso amigo Engenheiro Civil, mas por ser uma pessoa que não vive centrada no seu umbigo mantém os 23 pontos.

Ora bem, chegados aqui falta somar o valor da Personalidade de Duarte, o Engenheiro Civil, ao valor do Médico, Henrique.

Claro que no seu teste a pessoa será sempre a mesma, mas no nosso caso o somatório da Personalidade e do Físico corresponde a (8 + 23 = 31)/2 = 15.5 valores.

Se Duarte o Engenheiro Civil fosse um pouco menos ciumento, em vez dos 8 miseráveis pontos somados na Personalidade teria feito 12, e isso teria sido suficiente para atingir um valor de 17,5 valores, ou seja, um homem com cão já muito próximo da perfeição. O verdadeiro supra-sumo da batata frita!

Parece complicado mas é na verdade muito simples. Basta que responda com honestidade e verá que o resultado pode ser surpreendente.

E por falar em resultados, se já fez as contas duas vezes e continua a da o mesmo valor, então fique a saber o seguinte:

0 a 4,5 valores

Houston, we have a problem...

Já percebeu ou quer que eu faça um desenho? Está claramente a perder o seu tempo com a pessoa errada. Faça-se a vida e seja positiva, afinal pior que este resultado é quase impossível, portanto à partida qualquer outro homem é melhor que o seu!

4,5 a 9,5 valores

A menos que um dos lados compense o outro, sugiro que repense a sua relação com alguma urgência. Com estes resultados você não pode ser uma pessoa realizada emocionalmente, e resta a dúvida de saber se ele é óptimo na cama e um miserável fora dela, ou se é uma excelente pessoa mas miserável na cama.

9,5 a 13.5 valores

Este é o terreno indefinido da relação. Não é negativo nem muito positivo, não é bom nem é mau, não é carne nem é peixe.
Se gosta do assim assim, do pode ser, de carros cinzentos, de fazer férias em Albufeira em pleno mês de Agosto e de fazer compras no Jumbo no final do mês, então um homem mediano está óptimo para si, porque a média dos portugueses faz tudo aquilo que foi descrito com grande frequência. Mas não se iluda, a menos que ache apaixonante ir ao Jumbo fazer compras no final do mês, paixão é a última coisa que sustenta a sua actual relação.

13,5 a 17,5 valores

Diga lá se não suspirou de alívio depois de fazer as continhas?! Não só tem um excelente homem com cão ao seu lado, como ainda olha para ele exactamente da mesma forma como olhava no início, ou seja, continua a achá-lo lindo, encantadador, e muuuito bom na cama.
Um aviso porém: pelo sim pelo não divulgue este resultado apenas às suas amigas mais chegadas, não vá despertar a cobiça alheia nos olhares mais invejosos.

17,5 a 20 valores

Se não rezou já a todos os santinhos a agradecer a sorte que teve então comece a fazê-lo!
Você não só tem um homem com cão quase perfeito, sólido do ponto de vista emocional, com carácter forte, que a adora, e que está disposto a viver para fazê-la feliz, como tudo isso vem ainda por cima embrulhado em papel George Clooney!

Uma ida a Fátima a pé não seria de todo despropositada.
Há porém um lado menos bom. Esqueça o euromilhões. Com tanta sorte no amor não vai ganhar 1€ que seja nos próximos anos.

Então do que está à espera? Comece a fazer as contas e descubra o que lhe saiu na rifa!

Se não gostou do resultado lembre-se que na quermesse as rifas nunca acabam e sai sempre prémio..

I'm (not) Happy!

Uma das coisas que mais vontade me dá de rir – e quando digo vontade de rir quero dizer rir como se não houvesse amanhã – são os temas especiais das revistas femininas.

Já sei o que estão a pensar e primeiro que tudo convém desde já desmistificar esta questão: sim, eu leio revistas femininas.

Melhor dizendo, eu TAMBÉM leio revistas femininas. Assim está melhor.

O também faz toda a diferença nesta frase, não só porque afasta quaisquer suspeitas que possam recair sobre mim no que toca à minha sexualidade (promove a ideia de que somos muitos a ler as revistas femininas, logo não podemos ser todos gay), mas também porque é um dado adquirido que em quase tudo o que são cabeleireiros, salas de espera, consultórios e gabinetes há sempre uma revista feminina com pelo menos um ou dois anos de idade, e com temas surpreendentemente actuais. Mais tarde ou mais cedo acabamos sempre por ler.

Vamos avançar com um exemplo, e para não ferir susceptibilidades achei por bem proceder a uma escolha completamente aleatória. Saiu a Happy!

Na capa de Março deste ano a Happy fazia alarde aos seguintes temas:

- Que idade tem a sua pele?

- Roteiro de Swing.

- Espíritos: fomos falar com eles!

Há 7 meses atrás, na edição de Agosto de 2008, a mesma Happy avançava com os seguintes temas:

- À procura do melhor hidratante: quando a pele pede água.

- Guião para se tornar uma dominadora: uma viagem alucinante ao mundo da dominação!

- Viagem aos seus outros “eus”: regressar à infância sem terapia.

Rapidamente concluimos que passados apenas 7 meses a Happy ainda continua a falar da sua pele, continua a vender sexo quase como se tivesse colocado um repórter infiltrado durante meses num qualquer sub-mundo fetichista e subversivo, (quando na verdade devem ter realizado uma pesquisa rápida na internet), e continua a explorar o seu lado mais esotérico, e se há 1 ano atrás prometia uma viagem à sua infância por apenas 1,50€ (preço em vigor em Agosto de 2008), há 4 meses atrás deram-se ao trabalho de entrevistar espíritos a um preço que nem o Prof. Karamba ou o Mestre Mambo conseguem superar.

Ora já é suficientemente mau que a Happy ocupe cerca de 60% do seu espaço gráfico com publicidade directa ou indirecta, mas é ainda pior quando os 40% destinados a conteúdos editoriais são ocupados com coisas tão credíveis como entrevistas a espíritos.

Não quero parecer mesquinho mas isto a mim soa-me a aldrabice.

Outra coisinha que causa alguma urticária é a escolha da modelo que habitualmente faz a capa das Happy. A este respeito tenho apenas uma pergunta a fazer: porque razão escolhem sempre modelos anoréticas, com aquele aspecto doentio de quem só comeu uma folha de alface e meio tomate nos últimos 5 dias?

Aqui as revistas masculinas ganham aos pontos. Na FHM ou na Maxmen por exemplo as modelos nas capas vendem saúde, e não têm aquele aspecto enfermo de quem está a precisar duma tosta mista e duma transfusão de sangue a qualquer momento.

Mas o problema não está na embalagem, está naturalmente nos conteúdos, o que nos remete para o primeiro parágrafo deste post, os temas especiais das revistas femininas:

Sara, 30 anos, casada e com um filho: venceu a hipocondria.

Mas quem é esta Sara? Não tem último nome?

Filipe, 32 anos, arquitecto: gosta de ser dominado pela mulher quando chega a casa.

Humm.. E não é isso que acontece a todos os homens quando chegam a casa do trabalho?

Mariana, 34 anos, gestora: gosta de usar pinças, chicotes e mordaças.

Reparem que as jornalistas da Happy nunca perguntam o 2º nome aos entrevistados. Dá aquela ideia de estarmos a falar com alguém que nos é próximo, quase família! Muito bem pensado!

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: gosta de passar uma semana na praia com o filho Miguel, e uma semana a divertir-se com os amigos fora do país.
Este testemunho é tão real mas tão real que parece ter saído do programa da Conceição Lino da SIC, o Nós Por Cá. Reparem nas semelhanças:

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: trabalha 9 horas por dia para ganhar 800€/mês e ao fim-de-semena vai com as amigas para Ibiza.

É no mínimo absurdo que a revista feminina que mais vende em Portugal esteja tão distanciada da nossa realidade, o que só vem provar que as pessoas gostam de sonhar com um estilo de vida que na realidade sabem que não vão ter em momento algum da sua vida.

Voltemos aos contéudos. Convencido de que também eu seria capaz de produzir conteúdos igualmente happy!, resolvi debruçar-me seriamente sobre o assunto. Propus-me então encontrar um daqueles temas especiais de capa, forte, apelativo e com uma aplicação prática no quotidiano das mulheres com gato.

Um artigo one-fit capaz de servir a todas as mulheres com gato. Acima de tudo algo credível. Bom, talvez não tanto como as entrevistas a espíritos, mas afinal eu também não trabalho na Happy!

Esta é portanto a minha sugestão para a capa da revista Happy do próximo mês de Agosto, e com isto pretendo provar duas coisas:

- não percebendo nada de revistas femininas, consigo fazer melhor que a Happy.

- tenho um jeito incrível para vender melões na recta do Porto Alto.

Ele é o homem certo para si? Descubra a resposta nesta edição!
Método revolucionário escolhido por juri científico.

Cá está. Não conheço mulher com gato capaz de resistir a uma capa destas, e estou certo que uma revista feminina com este tema na capa vendia mais que melões na recta do Porto Alto.

Esta é a minha sugestão, e a mulher com gato que nunca quis se o fulano tal é o homem certo, que atire o primeiro melão.

...

Bem me parecia.
post-scriptum acrescento só mais uma coisa: como sou dado a efemérides, 1 ano depois de comprar a revista Happy pela 1ª vez (em Agosto de 2008), resolvi fazê-lo novamente com a edição de Agosto de 2009. E 1 ano depois encontro exactamente o mesmo tema na capa (regressão), e as mesmas modelos anoréticas, pálidas e com ar doentio.
Ou muito me engano ou não tarda mesmo nada devem estar para rebentar mais entrevistas a espíritos..

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caglota, a segueia

16 de Julho. Chegou ao fim a primeira etapa do desenvolvimento académico do meu filho. Hoje cumpriu o seu primeiro objectivo, e com mérito: terminou a pré-primária.

Bem sei que a efeméride é de importância relativa para quem está de fora, mas para mim, um confesso pai babádo, hoje o Martim consolidou o primeiro alicerce daquilo que virá a ser enquanto homem, anos mais tarde.

A data foi devidamente assinalada com uma festa de finalistas no anfiteatro da escolinha.

Tudo corria dentro da normalidade quando o animador de serviço anunciou uma peça de teatro chamada Carlota, a sereia. Ajeitei-me um pouco melhor na cadeira – porque estas coisas dos miudos demoram sempre o seu tempo -, e fez-se silêncio na sala.

Três ou quatro minutos depois começo a ouvir a voz da narradora.

Caglota, a segueia..

Susti a respiração por breves instantes porque pareceu-me ter ouvido mal..

Ega uma vez uma segueia chamada Caglota..

Hummm.. Não, não ouvi mal. A narradora trocava os erres pelos guês. Será possível que ninguém tenha dado por isso no ensaio da peça? Aparentemente não porque a coisa continuou no mesmo guegisto, desculpem, registo.

Caglota vivia sozinha no mag, e estava tguiste pogque não tinha nenhum amigo paga bguincague..

Procuro mudar novamente de posição. Avizinha-se uma crise de urticária fulminante.

Um dia Caglota conheceu um pescadogue chamado Jeguemias..

Jeremias?! Mas será que não havia nenhum texto com mais “erres”?!

Apeguecebendo-se que Caglota estava tguiste, Jeguemias pegguntou a caglota se ela não queguia bguincague no bagco dele..

A nagadôga continuou neste registo durante toda a peça, o que naturalmente deu asas à minha imaginação prodigiosa.

Por exemplo, como seria viver um amor com uma pessoa assim? Sempre ouvi dizer que o amor não se procura, encontra-se. Então e se a senhoga dos guês me encontrasse? Como seria viver apaixonado por uma pessoa assim?

Teguêsa: Queguido, passas-me o entguecosto pogue favogue?

Eu: O entrecosto linda?

Teguêsa: Sim, o entguecosto..

Eu: Oh Teresa, diz comigo vá.. Entree...

Teguêsa: Entgueeee..

Eu: (... suspiro ...)

Teguêsa: Quegues mais sumo de laganja amogue?

Ahhhhhhhhhhhh! Não dá! Eu não sei se existem muitas mulheres com gato que troquem os erres pelos guês, mas se existem, essas à partida deixam de fazer parte da solução.

Este episodio insólito fez-me lembrar outros incidentes do género, por entre os muitos que vão decorando o meu álbum particular dedicado a encontros imediatos de 3º grau.

Assalta-me à memória um já antigo, com uma namorada do meu período pós-adolescente. Chamava-se Natacha e depois de algum tempo de troca de olhares e muito flirt, as coisas aqueceram numa saudosa noite de verão na Discoteca Seagull. Saudosa pela discoteca entenda-se, que explodiu em 1998 e com ela as recordações duma geração inteira, vaporizadas em segundos numa enorme bola de fogo.

Eu e a Natacha prosseguimos com o nosso affair, e pouco tempo depois calhou irmos até uma panificadora (ainda) muito afamada na zona, popularmente conhecida como bolos quentes. Provavelmente porque também vendem bolos, e porque estão quentes. Humm..

A Natacha teve então a infeliz ideia de pedir um palmier recheado. Infeliz porque entretanto começou a falar, do quê não me lembro bem mas lembro-me claramente de ver o palmier a revolver-se na boca dela dum lado para o outro. Blheeerk..

A história da Natacha terminou mais ou menos nesse momento, e durou pouco mais que o tempo de vida dum palmier.

O lado positivo da história: eu como de boca fechada, e não consigo afeiçoar-me a pessoas que comem de boca aberta. É um princípio elementar da educação.

O lado negativo da história: quando vou beber café com alguém tem de ser um café e um bolinho, não vá afeiçoar-me depressa demais à pessoa e ao bolinho.

Este episódio já tem uns aninhos largos, mas outro bastante mais recente promete ultrapassar os limites dos insólitos Yorn, onde tudo pode acontecer.

Conheci a Sofia pela net. Uma mulher moderna, culta, muito elegante, cuidada, e embora sofresse duma crise de auto-estima agudizada por uma relação recente menos conseguida, era uma pessoa que mantinha as suas prioridades bem presentes.

As coisas foram acontecendo de forma natural e numa certa ocasião aceitei o convite para um jantar chez-Sophie.

O facto de ser o primeiro jantar a sós conferia alguma formalidade ao acontecimento, que a própria Sofia nunca contrariou. Seria portanto um alegado – gosto muito desta palavra porque dá imenso jeito e alegadamente dá para usar em qualquer circunstância – jantar romântico.

Dizem os especialistas que 45% da primeira imagem que construimos de alguém vem apenas daquilo que conseguimos captar com os olhos. Ora, os 45% dessa primeira imagem foram dizimados por duas pantufas gigantes em forma de leão com pêlos até aos joelhos, e um deprimente robe numa côr indefinida entre o lilás e o violeta.

Jantamos bacalhau com natas, e a as pantufas eram de tal forma desproporcionadas que a ideia de colocar uma tijelinha no chão para alimentar as duas feras, na altura pareceu-me fazer todo o sentido.

Não me recordo do que falamos. Confesso que entrei naquele estado Charlie Brown em que já não ouvimos mais nada, só os monosílabos da professora uô uuô.. uô uô uô..

Ali estava eu aprumado com rigor e carinho, a dar o melhor de mim para duas feras de pêlo farfalhudo ao melhor estilo dos marretas, enrolados num robe que podia ter saído do guarda-roupa da minha falecida avó.

Escusado será dizer que as pantufas tiveram o mesmo desfecho que o palmier.

Posto isto pergunto-me, caramba, será assim tão difícil encontrar a peça que falta?

O palmier, as pantufas, os guês, e todos os epifenómenos ao melhor estilo da Quinta Dimensão que foram acontecendo comigo até aqui, pergunto-me, será que nesta história não serei eu o visitante do espaço?

Se calhar estacionei a minha nave espacial em 2ª fila numa qualquer rua de Lisboa, e foi rebocada pelo pessoal da EMEL. É isso.

Começo a questionar-me se toda esta história dos erres pelos guês não será no fundo uma grande metáfora da minha vida recente. Uma epifânia iluminada na forma duma narradora disléxica!

E se for eu o elemento estranho no meio de tudo isto? E se for eu o érre que não se adapta num mundo de guês?

Eu: Peço desculpa, mas têm horas que me digam?

Senhoga 1: São quatgo e tguinta e tguês..

Eu: Ah! Obrigado!

...

Senhoga 2: Guepagaste? Este tgoca os “guês” pelos “erres”..

Senhoga 1: Guepaguei! Que cgomo! (risos)

terça-feira, 14 de julho de 2009

T2 para 3.

Amor a dois, sexo a três.

Isto traduzido para francês escreve-se ménage-à-trois, e sim, depois de não-sei-quantas entradas no blog do Homem com Cão vamos finalmente falar de sexo!

Confesso que pensei para mim próprio bem se calhar é melhor introduzir esta temática senão vão pensar que és gay! Digo isto porque no universo dos homens com cão as coisas são muito simples.

Por exemplo, numa conversa entre dois homens com cão, se um deles não fala de sexo ao final de 5 minutos então é um gajo tímido.

Simples.

Mas se o mesmo indivíduo continua a não falar de sexo ao final de 10 minutos, então é de certeza mais gay que o Elton John. Só pode.

(ao final de 3 minutos..)

Gajo 1: .. e lá no meu escritório é que se ‘tá bem.. Tenho lá uma gaja com um par da mamas que é uma lô-cu-ra!

Gajo 2: Pois eu não tenho nada disso, mas ontem montaram uma fotocopiadora nova no piso 2!

Gajo 1: Uma fotocopiadora nova.. Ouve lá?! Tu és um bocado tímido não és?

(ao final de 8 minutos)

Gajo 1: .. e a gaja dobrou-se toda para apanhar o agrafador e não estás bem a ver, aquele rabo todo redondinho ali à minha frente!

Gajo 2: Pois.. Nós estamos em contenção de custos e retiraram-nos os agrafadores..

Gajo 1: Ouve lá?! Tu és um bocado abixanado ou é impressão minha?!

Gajo 2: Eu?!

Gajo 1: Pshtaa! Não me toques q’ainda me passas qualquer coisa!

Simples, portanto.

Voltando à vaca fria – em francês la vache frois, embora neste caso o estrangeirismo fique claramente a perder -, o sexo a três está a subir de interesse não só entre os homens que continuam a perseguir o El Dourado – estar com duas mulheres em simultâneo mesmo sabendo que mal dão para uma -, como entre as mulheres, e esta é que é a novidade.

Independentemente das razões – rotina, álcool ou simplesmente porque a mulher do vizinho é melhor que a minha -, o sexo a três parece ser cada vez mais politicamente correcto.

Aquilo que era considerado perverso, ou até mesmo um comportamento desviante há anos atrás, é agora uma prática social liberalizada e enquadrada por um novo conjunto de regras éticas.

Há anos atrás quando dois casais discutiam pormenores da sua vida íntima, o pináculo da loucura era admitir que faziam sexo no carro! Ou num sítio público onde se calhar pelo menos uma pessoa pode ter visto qualquer coisa ao longe. Uuuuh..

Casal 1 dos anos 80: Então e digam lá.. O que é que vocês, seus doidos, gostam de fazer?

Casal 2 dos anos 80: Nós.. Ainda há dias.. Fizemos dentro do carro, na praia! Uhhh!

Casal 1 dos anos 80: A sério??! E não tiveram medo que passasse alguém?!

Casal 2 dos anos 80: Era de noite e a praia estava deserta, mas passou um barco ao fundo!
Sonoooo..

Hoje em dia tudo está diferente.

Loucura é dizer que se esteve com a namorada no meio de 50.000 pessoas num festival de rock enquanto uma banda qualquer estava a tocar, ou num domingo à tarde na praia com água pela cintura.

Fetiche já não passa por fazer numa casa-de-banho dum centro comercial, mas no sofá duns amigos durante uma festa, numa cabine dum peepshow com a stripper a ver, ou com outro casal no mesmo sítio.

Os tempos são outros e o que era censurado há anos atrás é hoje em dia mais ou menos natural atendendo à cada vez maior liberalização sexual duma sociedade que foi, até aqui, conservadora e de bons costumes. Pelo menos fora de portas.

E é neste contexto que surgem os trios, mas é também chegado aqui que nos deparamos com um problema assaz perturbador. Os homens com cão querem e as mulheres com gato aparentemente também. Mas será que querem a mesma coisa?

Conselheira Matrimonial: Já ponderaram a possibilidade de introduzir uma 3ª pessoa na vossa relação?

Marido visivelmente entusiasmado com a ideia: Oh Dra. eu acho que isso pode resultar sabe?

Conselheira Matrimonial: Penso que pode ser uma solução, sim.. Mas depende de consentimento mútuo.

Marido ainda mais entusiasmado com a ideia: Mas claro que nós aceitamos! Até já estou mesmo a ver a pessoa ideal para isto, aquela nossa vizinha do 2ºB, aquela doida!

Conselheira Matrimonial: Eu disse uma 3ª pessoa. Pode ser um homem.

Marido já não muito entusiasmado com a ideia: Oh Dra. (cooff cooff!) isso está completamente fora de hipótese. É que nem se coloca a questão.

Conselheira Matrimonial: Mas porque não?

Marido visivelmente irritado com a ideia: Porque não! Porque na minha mulher ninguém toca! Olha agoooora..

Certamente não terá passado despercebido a ninguém o insuspeito questionário alinhado em rodapé ao longo das últimas semanas.
Perguntava então qual é a fantasia mais recorrente das mulheres com gato, avançando 4 possibilidades: estar com o namorado e com outra mulher; estar com o namorado e com outro homem; aventurar-se no swing; ou ficar simplesmente a ver.

O resultado foi elucidativo. 82% de mulheres com gato responderam que a fantasia mais recorrente é estar com o namorado e outro homem. Ou seja, de todas as mulheres que responderam a este questionário e que querem realizar este desejo, apenas 18% estão dispostas a fazê-lo com outra mulher.

(importa fazer uma pausa para dizer que neste preciso momento já chegaram aqui ao blog 32 mensagens de homens com cão, a pedirem o e-mail desses 18% que estão dispostas a fazê-lo com outra mulher...)

Olhando para isto com alguma seriedade, no post anterior ficamos a saber que 68% das mulheres entre os 25 e os 49 anos vivem sozinhas por opção, e neste acabamos de ser esmagados com uns esclarecedores 82% de mulheres que acham que não chegamos para as encomendas.
É o desespero.

Aparentemente as mulheres com gato não só não querem viver connosco, como também não querem f**** connosco. Passa-me à memória o livro do Miguel Esteves Cardoso, O Amor é Fodido.

Cai por terra o El Dourado dos homens com cão.

Para a maior parte de nós este vai continuar a ser o desejo maior que todos os anos pedimos ao pai natal.

Humm.. É talvez por isto que tantos de nós ainda acreditam no pai natal.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sozinha em Casa

É um facto incontestável: existem cada vez mais mulheres a viverem sozinhas por esse mundo fora, em Portugal mais concretamente, e no meu prédio em particular!

A dimensão do problema é global e para ter essa percepção basta uma rápida pesquisa no google, e encontramos desde logo resultados perfeitamente esclarecedores.

Há que usar algum cuidado na terminologia mas os resultados estão à distância dum clik.
No meu caso de dois cliks, porque o primeiro foi duma ingenuidade que já não se usa em pesquisas na internet nos dias de hoje. Experimentem procurar em mulheres sozinhas e no topo dos resultados encontramos logo mulheres carentes e sozinhas à procura de prazer em Aveiro.
...
Mas porquê Aveiro?! Será esta uma cidade particularmente carente e à procura de prazer?!

Corrijo o erro para um menos lúdico mulheres a viver sozinhas.

Tec tec tec.. enter!

O primeiro resultado não deixa margem para quaisquer dúvidas. São cada vez mais as mulheres a viver apenas com o seu gato, e existe até um blog (!) com dicas e sugestões para lidar com todo este processo duma forma mais segura e confiante.

A julgar por um recente estudo realizado nas grandes capitais europeias, quase 68% das pessoas a viverem sozinhas entre os 25 e os 49 anos são efectivamente mulheres, o que coloca uma outra questão muito pertinente: se a cada 100 mulheres entre os 25 e os 49 anos de idade 68 vivem sozinhas, isto significa que existem 68 homens completamente entregues à sua sorte, sem comida no frigorífico, com roupa espalhada por toda a casa, e com a PS3 permanentemente ligada no chão da sala.

Ainda há dias falava com uma amiga minha, e a propósito duma foto que ela tinha publicada no perfil disse-me que todas as 5 amigas que estavam nessa foto viviam sozinhas.

Homens com cão, lembram-se do filme Apollo 13? Poooois é..

Houston, we have a problem.

Resolvi fazer aquilo a que os brasileiros chamam dum enquéte (lê-se enquétchi mas em português escreve-se inquérito mesmo..) junto das minhas amigas que optaram por esta forma de estar aparentemente desalinhada, mas feliz.

Os resultados são surpreendentes, mas apenas para os homens com cão mais distraídos.
À pergunta o que mais detestavas quando estavas junta, as respostas sucedem-se mas sempre com estes pontos em comum:

1. O Relatório.
Perguntar a uma mulher com gato onde é que estiveste? deve ser seguramente uma das coisas mais absurdas que qualquer homem com cão pode perguntar. Sobretudo se for no final dum dia de trabalho, quando só apetece é entrar na banheira e relaxar num demorado banho de imersão (que nunca será muito demorado porque é preciso fazer o jantar..).

Prestar contas é aliás uma das coisas que mais muda de tom ao longo duma relação, senão vejamos:

(no final do primeiro mês)

Ele a fazer o jantar: Onde é que estiveste queridinha?

Ela: Ohh tão querido! Estás preocupado com o teu bichinho bébé?

(no final do primeiro ano)

Ele sentado no sofá a ler o jornal: Mas onde é que tu estiveste?

Ela: Lá vens tu com as tuas perguntas! Estive a trabalhar, o que achas?!

(antes da separação)

Ele refastelado no sofá, a ver a Sporttv, com os pés em cima da mesa de centro, e a beber cerveja à patrão, já com duas garrafas vazias a manchar o soalho: ‘Atão?! Vais dizer-me onde é que estiveste ou não?!

Ela: Olha, nem te respondo... Fizeste alguma coisa cá em casa ao menos?

2. Adeus cozinha!
A primeira coisa que as mulheres com gato deixam de fazer depois de conquistada a sua independência é... o jantar!

Se há coisa que irrita é, logo a seguir ao relatório, ter de ir a correr para a cozinha fazer o jantar, e muitas vezes fazer o jantar para o seu marido/junto, porque se fosse só para si provavelmente passava bem só com uma sopa e umas tostas integrais.

E depois há homens com cão que não se alimentam com qualquer coisinhaaa...

Ele: Vais fazer o quê para o jantar amor?

Ela: Ainda não sei bem..

Ele: Sabes o que me apetecia?

Ela: Humm.. O quê?

Ele: Um bifinho grelhado com umas batatas fritas e um ovo estrelado!

Ela já a fazer contas à louça: ... Um bifinho grelhado ...

Ele: Sim! Com batatinhas fritas e um ovo estrelado. E com um arrozinho de manteiga igual aquele que a minha mãe faz, estás a ver?

Ela: ... Igual ao que a tua mãe faz ...

Ele: Sim! Olha e entretanto podias era trazer aquelas tuas tostinhas integrais com manteiga e uma Heineken aqui à sala. Está a dar o jogo.

3. Horários.
Dividir a casa com alguém significa obrigatoriamente ter horários para tudo, e o problema assume outra dimensão quando o seu horário passa a ser o horário dele, e o despertador toca às 6.30h quando você só precisa de sair da cama às 8h.

Isso só por si já é mau, mas pior ainda é passar essa hora e meia a dizer vá levanta-te; está na hora; assim vais chegar atrasado; vá láaa.. deixa-me dormir!

Do jantar já falamos, mas também para isto tem de haver horas marcadas, e mais uma vez o seu relógio terá de entrar no fuso horário do seu marido/junto, obrigando-a a desdobrar-se em esforços para que chegada a hora esteja a comida posta no prato.

Pior mesmo só ter horas marcadas para ter sexo, e aqui a questão assume outros contornos uma vez que nesta situação é o seu relógio biológico que tem de adaptar-se, e não aquele que traz no pulso.

Neste capítulo em particular as sozinhas em casa são incomparavelmente mais felizes e mais satisfeitas, uma vez que podem escolher quem querem ter na sua cama, a que horas, e durante quanto tempo. E se não quiserem ter ninguém na cama, podem fazer o que bem entenderem porque não está lá ninguém a perguntar isso leva pilhas?

4. Tampo da sanita para baixo.
Parece uma coisa tão simples - e é assim tão simples – mas não há volta a dar.
Conseguimos descobrir o fogo, inventar a roda, a televisão, ir à lua e papar as telenovelas da TVI, mas ainda não conseguimos baixar o tampo da sanita.

O verdadeiro teste à capacidade de adaptação de qualquer homem com cão. E são poucos os que o conseguem rotinar por iniciativa própria, sem as habituais reprimendas das companheiras.
E se no início quando tudo são rosas, a coisa até se leva com alguma boa disposição, o passar do tempo encarrega-se de transformar um gesto aparentemente inofensivo no assunto recorrente de qualquer discussão conjugal.

Os homens com cão simplesmente não percebem a amplitude da questão, mas para uma mulher com gato aflitíssima, depois de correr pelo corredor em bicos de pés com a ligeireza do Francis Obikwelo, chegar à casa-de-banho, ter de desapertar uma série de botões, o cinto, baixar as calças e encontrar ainda o tempo da sanita levantado... Enfim, é desesperante!

E falar do tampo da sanita levantado é o mesmo que falar do lavatório cheio de pêlos depois da barba e do aparar de cabelo, ou do rolo de papel higiénico gasto que fica eternamente pendurado no suporte.

Há aliás casos documentados de homens com cão que venderam as suas casas, ainda com o rolo que inicialmente estava pendurado quando fizeram a escritura da casa pela 1ª vez.

5. O roupeiro é meu!
Qualquer mulher com gato que resolva juntar os trapinhos, aceitando dividir o seu castelo com o namorado (nestes casos diz-se namorado do inquilino que não paga renda), passa pela experiência traumatizante de ver o seu espaço gradualmente reduzido dentro da sua própria casa.

Tudo começa com um objecto aparentemente inofensivo: a escova de dentes. Pequena, portátil e dissimulada a escova de dentes funciona como uma espécie de Cavalo de Tróia. Quando der por si tem a casa virada do avesso e o seu estilo de vida está em vias de extinção.

Pior, em vez de ter o Brad Pitt de sandálias a dar-lhe cabo dos bibelots, tem o seu namorado de sandálias a dar-lhe cabo dos bibelots. Entretanto toma consciência de outra realidade deprimente: o seu namorado não é o Brad Pitt.

Com o passar do tempo (dois ou três dias no máximo..) o caos chega ao seu roupeiro. E onde até à pouco tempo atrás (dois ou três dias antes..) tudo estava arrumado de acordo com cores, padrões, estilo, estação e acessórios, agora está amontoado numa pilha desordenada, porque precisou de libertar espaço para as t-shirts coçadas do seu namorado, aquelas dos tempos de solteiro que ele insiste em guardar e você não percebe bem porquê.

Daí a ter roupa suja junto da sua que está impecavelmente limpa é um passo ainda mais curto, e daí ao par de patins é mesmo um instante.

Lembram-se de ter dito qual era a primeira coisa que uma mulher com gato deixa imediatamente de fazer quando está sozinha? O jantar. E porquê? Porque vai arrumar o roupeiro.

Bottom line, as mulheres estão cada vez mais fartas dos homens, e a julgar pelos resutados estatísticos não os querem para viver nem sequer enrolados em algodão doce.
Tomam as suas próprias decisões, voam nas asas do desejo e vivem o momento livres, no conforto do silêncio, sem horas marcadas, sem rotina, e sem compromissos.

Resta saber onde termina a felicidade e começa a solidão.