sábado, 30 de maio de 2009

E o burro sou eu??

Aviso: Este post contém linguagem susceptível de chocar pessoas mais sensíveis.
...
Como eu sei que agora é que ninguém vai deixar de ler, considerem-se avisados.

Li recentemente uma notícia que dava conta duma proposta dum grupo tecnológico russo para aquisição de acções do Facebook.

De acordo com o Wall Street Journal, a Digital Sky Technologies ofereceu 142 milhões de euros para aquisição de acções ordinárias do Facebook, actualmente a rede social com mais pessoas inscritas no mundo, e avaliada em 4,64 mil milhões de euros.

Em Portugal, e de acordo com a Marktest, as redes sociais continuam a recolher a preferência dos internautas.

A mesma fonte cita que mais de 84% dos utilizadores de internet em Portugal acederam às redes sociais em 2008, com o Hi5 a manter-se no topo das preferências obtendo quase 87% do total de navegação em páginas desta natureza.

Ainda de acordo com a Marktest, em 2008 foram lidas 7 mil milhões de páginas de redes sociais, ou seja, cerca de 2741 por cada utilizador.

Por outras palavras, ao longo do ano passado cada internauta português consultou em média 7 páginas e meia por dia.

Aplicando esse valor médio à percentagem de visitas nas redes sociais (84%) facilmente chegamos a um valor conclusivo: perto de 6 visitas por dia - 6,3 para ser mais preciso.

Aplicando agora o mesmo valor ao universo dos Homens com Cão, o mesmo é dizer que cada um de nós visitou em média 6 perfis de Mulheres com Gato por dia ao longo de 2008. Dá o bonito valor de 2190 mulheres com gato no final do ano. São muitas miadelas.

Pergunta: então como é que se diferencia UMA mulher com gato no meio de 2190?

Ergh... Claro que esta era uma pergunta de retórica.

Partindo do princípio – válido, a meu ver - de que a comunicação visual é o primeiro ponto de contacto existente entre internautas nas diferentes redes sociais, rapidamente chegamos a um quorum: se eu não gostar do que tu escreves tu não vais continuar a fazê-lo durante muito mais tempooooo!

À partida isto funciona assim, excepção feita aos tipos que escrevem textos enormes para miudas com peitos 38 C ou maiores, e quando recebem um oix lol na volta do correio acham que houve ali uma químicaaa...

Pois houve. A tal química afinal chama-se implantes mamários e custa uns 5000€ já com IVA. Pooooois é...

Excepção feita aos idiotas que acreditam neste tipo de química – não vou agora ceder à tentação do rumor fácil e do boato irresponsável, dizendo que muito provavelmente a maior parte dos homens com cão acredita na ligação química a um belo par de mamas -, mas excepção feita a TODOS esses idiotas, a separação do trigo e do jóio tem de começar por aquilo que se lê.

E é aqui que começam a cair as tais 2190 mulheres com gato para números francamente mais modestos, e o mesmo deve acontecer com as mulheres em relação a nós, homens com cão.

Presumo que sim, mas admito que possa estar enganado.

Chamem-me complicadinho, esquizitóide, digam que tenho pancada eu sei lá, mas não pode haver química possível com pessoas que entendem que a escolaridade mínima obrigatória resume-se a aprender a escrever o nome sem dar erros!

Na internet a iletracia está à distância dum clik, e – pior do que isso – está cada vez mais globalizada através das redes sociais. Diria mesmo que estamos perante uma pandemia de estupidez de proporções bíblicas. Ao pé desta praga as gripes das aves e dos porcos podem ser comparadas a uma pequena crise de renite alergica.

Há uma nova Ordem Estupidológica, com uma linguagem própria e com nativos que comunicam alegramente entre si, e com entusiasmo redobrado sempre que encontram do outro lado alguém igualmente estúpido.

Estabelecer um diálogo com estas pessoas não é tarefa fácil. Requer alguma destreza verbal e um regulador de acidez para combater a azia.

A pensar nisso mesmo, aqui ficam então alguns conceitos dominantes na nova Ordem Estupidológica, bastante úteis caso queiram estabelecer um diálogo monosilábico com um qualquer idiólatra da Comunidade, ou apenas fazerem-se passar por imbecis durante algumas horas.

É assim...
Sem dúvida alguma o expoente máximo da retórica estupidológica.

Este é um termo que não acrescenta coisa alguma, e normalmente quem o usa também não tem nada a dizer. Ao invés tentam camufular a falta de ideias com uma afirmação convicta, típica de quem não faz ideia do que vai dizer a seguir.

Expressão habitualmente reservada aos grandes chefes da comunidade, pessoas que habitualmente usam um chapéu de chefe e que gostam de se fazer passar por inteligentes.


Tipo...
Outra expressão reservada aos iluminados. Há inclusivamente quem articule o tipo com o é assim, o que resulta em autênticas pérolas estupidológicas: tipo, é assim...
É o elogio da ignorâcia no seu estado mais puro.

Destrocar ou Destroca-me aí
Os nativos desta Comunidade conseguem coisas realmente fantásticas, como trocar várias vezes a mesma nota até ficarem exactamente com aquela que tinham no início.

Deslarga-me
Da família do destroca-me.
Des e larga-me consiste no acto de largar 10 vezes.

É dois ou é dez
Há múltiplas variantes, mas seja qual for a forma final é difícil a um nativo que use esta expressão passar despercebido num qualquer balcão, a não ser que esteja num clube em que exijam cartão de consumo à porta, e o porteiro também diga é 10 euros. É natural que venha a encontrar mais ignorantes como ele lá dentro.

Númaro
Inacreditável o númaro de pessoas que verbalizam esta anormalidade.

É uma expressão tão curriqueira no seio da Comunidade Estupidológica, que nem os próprios conseguem mensurar a dimensão da sua inépcia no que toca à língua portuguesa falada.

O númaro de mentecaptos que insiste neste disparate não pára de aumentar e, provavelmente, esta será outra palavra que mais tarde ou mais cedo irá cair sob a alçada dum qualquer acordo ortográfico. Em vez de combatermos a iletracia legalizamos a estupidez.


A turba aplaude enebriada pela própria vulgaridade.

Samos
Nós samos muitos! Samos uns 4 ou 5! Samos às dezenas! De facto são cada vez maiores as anormalidades que vou encontrando um pouco por todo o lado.

Só posso imaginar como é que surgiu este samos. No alfabeto o “a” nem sequer fica junto ao “o”, mas como dizia o poeta, nós samos aquilo que samos.

Êros
Moeda alternativa ao “euro” dentro da Comunidade.
Quando confrontados com a palavra “euro” os nativos reagem com alguma suspeição. Desconhecem a origem da palavra mas dão-lhe pouca importância, afinal o êro vale o mesmo que o “euro” e as notas até são parecidas.

Falastes, dissestes ou pagastes
Variação da 4ª pessoa do singular.
É das tais coisas que quando pensamos já ter ouvido todas as anormalidades possíveis, rapidamente chegamos à conclusão de que afinal não ouvimos.

Os nativos da Comunidade gostam de utilizar algumas variações bastante peculiares. É habitual trocarem o dissestes por disseste-le ou disseste-le-lhes.
Esta última palavra não é para todos, e deve ser articulada de forma rápida e com convicção!

Prontos
Termo fofinho maioritariamente utilizado pelas nativas da Comunidade.
Surge habitualmente a rematar uma frase que começou por é assim, e é acompanhado ou com um levantar de um dos ombros, ou com o inclinar da cabeça para um dos ombros, o que realça ainda mais o carácter fofinho do prontos.

Quaise
Outra expressão que recolhe grande simpatia por parte da turba.
Os mais experientes gostam de abrir bem as duas vogais, prolongando o “ai” do “quaise” e prolongando inevitavelmente a sua própria ignorância no espaço e no tempo.

Treuze
Da família do quaise. Pouco há a dizer em relação a esta palavra.

A sua génese permanece uma incógnita. Ninguém sabe bem quando surgiu no léxico estupidológico. Sabem apenas que o treuze vem a seguir ao douze.

Cambra
Esta palavra apresentada isoladamente perde muito do seu charme.
Os nativos gostam de articular cambra com municipal, e aí sim chegamos à conclusão que afinal trata-se da câmara municipal, mas com uma pronunciação fonética muito mais harmoniosa.

Depois há Todx ox/ax idiotax k eskrvm axim e k axam k xao mtt girox!

É a eloquência gritante duma comunidade virtual que prima pela estupidez.

Depois chamam-me complicadinho.

O Scolari é que tinha razão quando disse “e o burro sou eu”?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Corega Sem Sabor



O mês de Maio está praticamente no fim, e fazendo um balanço destes últimos últimos 31 dias chego à conclusão de que não foi um mês de grande produtividade na blogosfera.

Quem leu a última entrada do Blog certamente deve ter reparado na frase de fecho do post: Tenho de arranjar uma namorada.

Já agora, aproveito a oportunidade para agradecer publicamente às duas pessoas que se mostraram disponíveis a abraçar esta causa, o que só me faz pensar que ainda existem neste mundo seres humanos com espírito de sacríficio, e capazes de ajudar os outros.

Mas, efectivamente, a ideia de poder vir a terminar os meus dias a arrastar-me em salões de baile fez-me colocar as coisas em perspectiva.

Não que tenha algo contra os salões de baile, simplesmente não quero abordar uma “babe” de 60 anos e perguntar-lhe, A menina não leve a mal, mas tem um sorriso tão bonito.. Posso perguntar-lhe qual é a marca da sua pasta fixadora?
Eerrgh..

Ehpaa, não estou ainda preparado para isto, portanto resolvi ser proactivo em relação a esta coisa da namorada.

Está explicada a minha ausência do Blog nos últimos 20 dias.

Houve que meter a mão na massa como dizem os padeiros, e pelo caminho lá ia mudando de canal sempre que aparecia o tal anúncio da pasta fixadora Corega Sem Sabor 40 G. Blheerk...

20 dias volvidos regresso ao Blog e sem novidades. Está tudo como dantes, à exccepção dum pequeno pormenor: estou 20 dias mais perto das matinés da Sela e da Cleóptra, essas reputadas casas de bailarico. E reputadas não foi um trocadilho.

O mistério adensa-se... O que se passa afinal?!

Olhando para trás rapidamente chego à conclusão de que o problema não é de agora.

No ciclo – o equivalente aos actuais 5º e 6º anos – não tive namorada por exemplo.

Nessa altura o mais perto que estive de ter uma namorada durou apenas uns breves segundos e foi num jogo de bate-o-pé, num tanque junto a um canavial, na periferia da Escola Preparatória do Bocage. Um sítio romântico portanto, com aquele bailado das canas ao sabor do vento, a renite alérgica e as picadas das vespas e dos mosquitos... Isso é que era...

Lembro-me perfeitamente desse primeiro beijo. Foi especial. Babei a camisa.

E até me recordo do nome da fulana que até hoje deve ter pesadelos com o meu aparelho para os dentes. Chamava-se Sandra, coitada.

Confesso que na altura até as fotos tipo passe tinham medo de mim. Era em tudo parecido com o Richard Kiel, o actor que fez de Boca de Ferro no James Bond, The Spie Who Loved Me, mas com uma diferença: o Boca de Ferro era muito mais giro e não tinha acne.

Depois da preparatória veio a escola secundária Sebastião da Gama. Mais do mesmo. Mais acne, mais ferro na boca e nenhuma namorada.

Recordo com especial carinho o meu primeiro dia de aulas na Sebastião da Gama. Na parte da manhã servi de saco de pancada para uns tipos do 10º ano porque não consegui dizer as horas num relógio sem ponteiros, e na parte da tarde tive de medir o campo de futebol com um fósforo. ...
Duas vezes.

Naturalmente fiquei sem a mochila, sem o lanche, sem dinheiro para os caramelos e ainda rasgaram os cadernos diários. Vá lá não terem partido os óculos já foi uma sorte.

Foi também no secundário que comecei a ser rotulado de geek, um estatuto que garantia inúmeros previlégios tais como não poder utilizar o polivalente, as casas de banho, e ser sempre eu o primeiro e o único a entrar à estátua. Era girooooo.

Obviamente que a solidão a que fui remetido obrigou-me a associar-me a outros geeks, também eles proscritos pelos demais colegas, e quanto mais me dava com os cromos mais longe ficava do grupo das miudas.

A minha passagem pela Sebastião da Gama durou pouco tempo e terminou com o episódio mais afamado do meu trajecto escolar nessa escola: o dia da bola de futebol.

Um certo dia fazia eu o meu habitual trajecto em redor do pátio da escola – outra àrea interdita aos geeks -, quando ouço chamarem o meu nome. Olho, e à minha frente estava uma bola de futebol, redondinha e mesmo a jeito, era só chutar.

Eu não me atreveria a tocar na bola mas por incrível que pareça alguém grita chutaaaa!, e eis que a minha hora tinha finalmente chegado!

Começo a correr e a grandeza do momento quase foi traduzida num super slow motion acompanhado pelo Chariots of Fire, do Vangelis. Enchi o peito de ar, puxei o pé atrás e desferi um portentoso pontapé que ficou para sempre imortalizado nas páginas douradas da minha adolescência.

Infelizmente a bola estava cheia de areia e pedras e acabei estatelado no chão e desta vez sim, com os óculos partidos.

Com o orgulho ferido de morte achei que dificilmente poderia sacar uma miuda na Sebastião da Gama, a menos que estivesse a pagar uma promessa, por isso resolvi pedir transferência para a escola secundária da Camarinha.

E antes que façam a pergunta, eu respondo: não, também não arranjei uma namorada, mas valeu a pena o esforço.

Também recordo com nostalgia o primeiro dia de aulas na Camarinha. Na altura estavam muito na moda os blusões de penas da Duffy, um artigo caro e por isso pouco acessível à maior parte dos bolsos.

Felizmente tive a sorte de receber um e foi com orgulho que entrei no pátio, ostentando o meu vibrante blusão de penas Duffy amarelo.

Não foi preciso esperar muito tempo para ficar sem o blusão, transformado em tiras esvoaçantes quando fui abordado pelo Gang do Bloco B, armado de ponta-e-molas e outros objectos cortantes.

Escusado será dizer que isso foi só o início. Depois disso veio a interdição do polivalente, a chacota geral e a condição de eterno suplente nos jogos de futebol em educação física. Ou seja, daí a não ter namorada foi outra vez um curto passo.

E se tinha algumas esperanças de sacar uma miuda no secundário, elas ruiram quando a minha professora de português decidiu começar a ler as minhas redacções em voz alta para a turma, apontando-me como um exemplo a seguir no que dizia respeito ao bom português, escrito e falado.

Ora, quem já engatou uma miuda no secundário com uma redacção por favor meta o dedo no ar!

.....

Continuando.

Com isto cheguei ao 12º ano, sem namorada, e a desenvolver um sério problema de calosidade na mão direita! Coooooff!

No essencial, não deixa de ser irónico pensar que quase 20 anos volvidos encontre agora os mesmos problemas que atormentaram a minha adolescência, mas duma forma completamente diferente.

Já não há redacções nas aulas de português, mas um Blog num espaço virtual que aquela data não tinha sido inventado sequer.

Já não meço campos de futebol com fósforos, mas o tempo continua a sua marcha mesmo nos relógios sem ponteiros, e cada minuto que passa estou 1 minuto mais próximo dos bailaricos e de saber tudo sobre a COREGA SEM SABOR 40 G, a tal pasta fixadora que não retira o sabor aos alimentos.

Blheeerk!

sábado, 9 de maio de 2009

Pêxe da Prrofundurra


O problema dos carros velhos é que no dia seguinte estão sempre um dia mais velhos que no dia anterior, e um dia mais próximos do abate compulsivo.

Estava eu todo feliz da vida com o meu FIAT UNO quando de repente o carro resolve entregar a alma ao criador da forma mais dramática possível. Pega fogo numa bomba de gasolina.

Aparentemente terá sido um problema no sistema de refrigeração do motor a provocar o fogo. Felizmente andava com algumas garrafas de água na bagageira, e consegui apagar as chamas a tempo de evitar problemas maiores.

Não fossem os problemas de refrigeração do motor que provocaram o incêndio, e eu não andava com as benditas garrafas de água atrás.

Bem vistas as coisas, no meio do azar acabei por ter sorte.

Privado do meu meio de transporte unipessoal vi-me obrigado a recorrer ao meio de transporte alternativo predilecto das classes médias sobreendividadas: o combóio.

Não há muitos dias atrás regressava eu do trabalho no habitual trajecto Roma/Areeiro – Setúbal, quando a minha mente desperta para uma conversa entre duas passageiras sentadas imediatamente atrás do meu banco.

Olhei de soslaio por cima do ombro fingindo que estava a arrumar qualquer coisa na minha mochila. Duas senhoras na casa dos cinquentas, tipicamente setubalenses, vestidas com aquela roupa da modista, e aformoseadas por uma quantidade significativa de bijuteria. Uma viúva, a outra divorciada.

Madame 1: Atão vizinha você tem saíde mais pa onde?

Madame 2: Ê tenhe ide é mais é pá Sela. Goste daquile, do ambiente e das pessoas muito bem aprresentadas..

Madame 1: E a música é muito boa... Porr acaso vão lá uns conjuntos de baile muito bons.

Madame 2: É verrdade, ainda no outrre dia fui ver o Eurrico Andrré.. Aquele moçe toca muito bêim.. Goste tante!

Madame 1: Olhe ê atão é mais é Cleópatrra.

Madame 2: Ah! Diz qu’é muite bom! Nunca lá fui mas já ouvi dizerr que tá semprre muito chêie.

Madame 1: E tem lá uns homens muito bonites também..

(risos)

Madame 2: Ah! Mas lá d’onde ê vou também há disse! Mas ê na ‘tou intrressada... Eles quando vêm assim à arrastarr a asa ê digue logo “desamparra-me a loja”...

Madame 1: Na é q’eu estêja intrressada, mas goste muite de bailarr quando me convidam...

Madame 2: Ê também! E ê na vou assim como você me tá a verr! Mête um vestidezinho, um perrfume, vou à cabelêrrêrra... Nem parreço eu! Vou nos trrinques!

Madame 1: Mas você baila com eles?

Madame 2: Sim! Só que quando eles começam com aquelas histórrias do “goste tante do sê prrefume” ê dôu logue pa trrás...

Madame 1: Ê também... Na querro mais marrides...

Madame 2: Mas ali você na vai encontrrar nenhum marride.

Madame 1: Pois ê sei... O que eles querrem sei eu..

Madame 2: Sexe! Eles querrem todes a mesma coisa...

Madame 1: É tudo pêxe da prrofundurra.

Madame 2: De vez em quande lá aparrece um mais jêtosinhe mas ê cá na querro chatices, tenho a minha casa paga, é só minha e querro lá agorra andarr a trratarr dum homem!

Madame 1: Pois ê perrcebo.. No mê case é diferrente sabe.. Desde que o mê Frrancisque se finou nunca mais tive ninguém, já lá vão quatrre anes...

Madame 2: Pois, uma pessoa vê-se sozinha assim dum momente parra o outrre...
Madame 1: É assim a vida...

(pausa)

Madame 2: Olhe pelo menos vai sainde aos bailes e na ficou fechada em casa!

Madame 1: Ê saio muito, até vou às matinés e tude! Lá da Cleóptarra toda gente já me conhece.

Madame 2: Temos de combinarr as duas uma matinézinha um dia destes!

Madame 1: Você vai gostarr! Ainda vai arranjarr assim um homem jêtose parra lhe fazerr companhia vai verr..

(risos)

Madame 2: Oh migaaa! É quase tude pêxe da prrofundurra...

- Próxima paragem... Setúbal.

Dou comigo a pensar se daqui a uns anos não vou ser também eu um dos peixes da profundura de que falam estas duas senhoras.

Imagino-me de fatinho cinza brilhante, sapatos lustrosos, com uma camisa branca de listas vermelhas aberta pelo peito para mostrar o belo do fio de ouro, cabelo cheio de brilhantina e puxado para trás por um daqueles pentes fininhos que se guardam no bolso das calças, com um bigodinho ralo e uma rosa vermelha presa no paletó.

Um autêntico pêxe da prrofundurra...

Medoooooo!

...
Tenho de arranjar uma namorada!