quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Kiss Me

Não aguento mais. Nos os dois sabemos que mais tarde vamos beijar-nos à porta da tua casa. Para quê ficar a sofrer a angústia do momento do beijo se podemos despachar isto já, e desfrutar duma noite agradável?

A frase pertence a Alvy Singer, personagem incontornável da comédia romântica Annie Hall, a primeira obra-prima de Woody Allen, e que mereceu ao sarcástico realizador nova-iorquino 4 óscares da academia de Hollywood, em 1977.

No filme Woody Allen é Alvy Singer, um humorista neurótico que tenta manter uma relação com Annie Hall, personagem interpretada por Diane Keaton, à data namorada do realizador norte-americano, e cujo verdadeiro nome é Diane Hall, Annie para os amigos.

E apesar de Woody Allen nunca ter assumido o carácter auto-biográfico do filme, foi a similaridade da ficção com a realidade que fez deste filme o mais consensualmente aclamado entre a longa filmografia do realizador.

Annie Hall termina com Alvy Singer a meditar sobre a importância do amor, e da natureza complexa e dolorosa das relações tão necessárias à nossa felicidade. Ou seja.. 32 anos depois nada mudou nas relações modernas entre os homens com cão e as mulheres com gato(!).

Esta é a primeira conclusão. A segunda prende-se com a importância que o beijo assume no sucesso, ou no fiasco total da relação antes mesmo de ela acontecer. Partindo do princípio que a ideia foi perfeitamente assimilada pelas mulheres com gato, para os homens com cão com maiores dificuldades em processar a informação, o beijo faz a diferença entre marcar o golo da vitória no último minuto da final da Liga dos Campeões – vamos manter a linguagem acessível a toda a gente -, ou ir para casa ver o jogo num canal codificado. E não, não estou a falar da Sporttv.

Sabendo disto e da sua incapacidade em lidar com a pressão do 1º beijo, Woody Allen inventou Alvy Singer, um alter-ego capaz de desconstruir a ansiedade desse momento decisivo duma forma pragmática, sedutora, e harmoniosa.
No filme Allen recebe um beijo apaixonado de Diane Keaton, e os dois acabam por ceder à paixão e ao romance. Que bonitooo… Quase nos esquecemos que segundos antes do beijo Woody Allen disse qualquer coisa como vamos lá despachar isto…

Nem a propósito. Como estamos na altura das profecias do novo ano, não é preciso ser o Prof. Karamba para adivinhar o que vai acontecer a seguir se você arriscar um vamos lá despachar isto. Não está a ver? Então experimente e uns dias depois ligue a ver o que acontece. Eu não sou o Prof. Karamba mas arrisco uma previsão: a voz que vai ouvir é a operadora e diz, o número que marcou não se encontra atribuído.. o número que marcou..

Mas o que tem afinal o primeiro beijo de tão especial para fazer tanta diferença em tão pouco espaço de tempo?



Eu sei a resposta, estava só a criar ambiente.

Os primeiros relatos de beijos datam de 2.500 a.C., e aconteceram na Índia, apesar de sabermos hoje que os homens das cavernas também beijavam, mas para procurarem sal no suor, ou para alimentarem os recém-nascidos.

Homem das Cavernas 1: (nhaac.. chomp.. nhaac..) Atão o teu entrecosto está bom de sal?

Homem das Cavernas 2: (chomp.. chomp..) está um bocado para o ensonso, passa aí o teu braço!

Blheerk..

Gregos e romanos por exemplo faziam-no com especial alarde sempre que os seus regressavam dos combates pelo próprio pé, numa prática que pretendia reconhecer a bravura do guerreiro, mas que redundou em algumas piadas de mau gosto quando dois fulanos de 120 kgs trocavam uma carícia em público. Os fofinhoooos…

Os romanos foram os grandes responsáveis pela generalização da prática beijoqueira ao Ocidente, e tinham na altura 3 tipos de beijos: o basium entre conhecidos, o osculum entre amigos, e o suavium entre amantes. Humm.. Chego à conclusão de que devo ter tido um tio-avô romano qualquer, ou não fosse eu um português (muito) suavium.

A verdade é que o beijo certo no momento certo faz ruir qualquer defesa, mesmo nas mulheres com gato que no primeiro “olá boa noite” já nos mostraram que pela frente temos o tanque das piranhas, o fosso dos crocodilos, e o campo minado à volta das muralhas do castelo, antes da ida ao circo com o sobrinho, o almoço com a família, e a habitual prova de fogo à nossa paciência: uma ida ao shopping para ver montras em vésperas de natal.

Mas o inverso também pode acontecer, e num segundo apenas todas as expectativas entretanto criadas podem ruir como um castelo de cartas. Se até ali estavamos na categoria dos giros com muito interesse, depois dum beijo sem chama passamos imediatamente para o grupo dos chatinhos que não param de enviar mensagens.
Momento de reflexão: se por acaso aquela mulher com gato não responde às suas mensagens há 3 ou 4 dias, provavelmente é porque beijá-lo a si foi uma experiência tão agradável como lamber um soalho em corticite. Wake up!

O beijo não é só um momento, é o momento, e para as mulheres com gato é muito mais que isso, é também um infalível e poderoso mecanismo de avaliação.

De acordo com a antropóloga norte-americana Helen Fisher, quando beijamos activamos o cérebro e permitimos o acesso a 3 sistemas cerebrais primários que determinam a conduta sexual, a capacidade de amar e o afecto. Ou seja, num segundo a astuta mulher com gato consegue perceber se queremos dar uma queca, se estamos apaixonados ou carentes. Qual delas a pior!
Já no nosso caso a única preocupação dos homens com cão é tentar perceber em que momento do beijo podem meter a mão no rabo dela. Complicar para quê?!

Independentemente da natureza do beijo, sexual, romântica ou carente, o homem com cão não consegue contrariar a sua natureza. A saliva contém fortes quantidades de testosterona, uma hormona capaz de despertar o apetite sexual das mulheres com gato, e é por essa razão que nós gostamos de beijos com muita saliva. Até podemos estar apaixonados e tal, mas queremos mesmo é chegar lá! Ah pois é!

Porém, na prática as coisas não são assim tão simples.

Cada um de nós recebeu à nascença um kit personalizado de neurotransmissores. Encontrar um beijo perfeito não depende tanto da imagem que criamos para nós da pessoa perfeita, mas sim da compatibilidade hormonal.

A dopamina por exemplo está associada a pessoas criativas e dispostas a procurar paixões avassaladoras. Do lado oposto está a serotonina, a hormona dominante em relações conservadoras. Por sua vez pessoas analíticas, excessivamente lógicas e que gostam de jogar soduku, sentem-se mais atraídas pelo estrogénio, abundante em pessoas muito imaginativas e que nunca conseguiram terminar o cubo mágico sem decalcar os autocolantes, como é o meu caso.

Claro que no meio dum beijo ninguém vai dizer um disparate como adoro o teu estrogénio, ou dá-me com a tua dopamina toda, mas enquanto estamos entretidos a brincar com a língua o nosso cérebro está a estabelecer contacto, e segundos depois chegam os sinais que determinam no fundo o sucesso ou o fracasso do beijo.
Alvy Singer, o humorista neurótico que Woody Allen interpretou em Annie Hall, ultrapassa esta questão com o genial sarcasmo que só um personagem de Woody Allen consegue encarnar, mas convém não esquecer que nos beijos como na vida não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Decotes e o Zodíaco

Sexta-Feira 30 de Outubro, numa estação de serviço algures entre Portalegre e Castelo Branco.

Não sei se já passaram um fim-de-semana sozinhos em Castelo Branco a trabalho. É mais ou menos o mesmo que assistir a um jogo de dominó entre 4 ou 5 reformados. É giro e tal mas não há muito movimento.

Sabendo disso de antemão, resolvi parar numa estação de serviço a meio caminho entre Portalegre e Castelo Branco, e arranjar qualquer coisa para ler à noite no quarto.

Um livro seria um compromisso demasiado sério e impossível de satisfazer numa noite só. Não. Teria de ser uma revista, algo que pudesse ler apenas naquela noite, e que não me obrigasse a ligar no dia seguinte a perguntar se foi bom e combinar um café.

Ora bem, deixa cá ver.. Humm..
As festas sexuais mais exclusivas estão a chegar a Portugal - uuhhh..
Perdi 5 cms em cada perna em apenas 3 sessões – treta..
Os cremes de acção imediata mais eficazes eleitos por um juri - há sempre um juri qualquer que escolhe os cremes nesta revista.

Escusado será dizer que comprei a Happy de Novembro. Castelo Branco consegue mesmo fazer com que um tipo perca a cabeça.

Olhei de soslaio procurando não ser surpreendido com uma revista de gaja nas mãos. Compreende-se. A meio caminho entre o alto alentejo e a beira interior gajo que é gajo gasta 1,90€ com três minis e três tijelas de tremoços, não vai comprar a Happy.

Como é habitual fazer sempre que levo uma revista, folheei algumas páginas apenas para satisfazer a curiosidade. Eis senão quando uma voz estridente invade a instalação sonora da estação de serviço:

O senhor que está a ler a revista ao fundo da loja, a consulta das revistas é proíbida.

Imediatamente 3 ou 4 nativos fulminaram-me com aquele olhar este deve ser de fora. O senhor que estava mais próximo fez questão de levantar o sobrolho empoleirado num bigode vistoso, onde eu juro ter visto algumas migalhas de pão caseiro, e restos da sopa de ontem.

Tudo isto para ler um artigo que prometia revelar o que dizem os signos sobre os homens. Personalidade, sexo e compatibilidades... Descubra tudo sobre eles. Claro que a ideia de descobrir o que dizem os signos de nós às mulheres acabou por ser irresistível, não só porque as mulheres com gato dão muita importância a estas coisas, mas sobretudo porque informação é poder!

Além do mais, para a maior parte dos homens com cão, o mundo das mulheres está para nós como Vénus está para o sistema solar. É um sítio perigoso, desconhecido e regra geral quem lá vai não regressa para contar a história. Medoooooo..

No essencial vejamos então o que diz a Happy dos homens com cão Virgem, e que valeu-me o olhar com desdém do homem do bigode vistoso com migalhas de pão caseiro, e restos da sopa de ontem.

Personalidade: de elemento Terra é o signo mais sexy e discreto do Zodíaco. Adepto da crítica e da actividade mental, o nativo de Virgem é um homem rigoroso e metódico. Exigente, criterioso, tem um dom para a análise e gosta de examinar todos os detalhes (...).
Como companheiro: (...) É fiel e espera que a companheira também o seja. É, contúdo, apreciador de um bom flirt, embora discreto.

Sexo: Um corpo nu visualmente agradável deixa-o louco de desejo, assim como um decote ousado. Fica doido ao ser seduzido em locais públicos. As fantasias do homem Virgem surgem usualmente com farda... Se quiser seduzi-lo aposte numa boa imagem de enfermeira! O nativo de Virgem procura a perfeição e atenta ao detalhe (...).

Ora bem, a primeira conclusão a retirar de tudo isto é que existe muito mais informação a nosso respeito à disposição das mulheres com gato. Basta abrir uma revista e tchaanaan!, eis-nos despidos das nossas armaduras, completamente desmontados como peças de um Lego nas mãos duma criança de 5 anos.

Já o contrário não se verifica. E porquê? Porque não queremos saber. Quando abrimos uma revista não temos paciência para ler as letras pequeninas. Aliás, nem as pequeninas nem quaisquer outras. Queremos é fotos e de preferência daquelas manhosas em bikini, ou de fio dental. E se aquilo estiver tudo bonitinho não há zodíacos nem bi-dentes que nos metam medo.

Neste aspecto – e em muitos outros – os homens com cão continuam a ser de Marte e as mulheres com gato continuam a ser de Vénus.

Em segundo lugar, percebe-se finalmente porque razão a dada altura numa qualquer conversa as mulheres com gato perguntam sempre, então fazes anos a que dia? E nós homens convencidíssimos de que elas estão preocupadas com a data, quando afinal estamos a ser diagnosticados da raiz dos cabelos aos dedos dos pés.
Atente-se no seguinte exemplo (acontece todos os dias):

Ela: Então diz lá, fazes anos a que dia?

Ele: Ohh que querida! Queres mesmo saber?

Ela: Claro que sim!

Ele: Faço a 5 de Dezembro!

Continuando com o mesmo exemplo, observemos agora as diferenças entre o que um homem com cão e uma mulher com gato dizem e pensam na mesma situação:

Ela: 5 de Dezembro? (humm.. Sagitário. Este gosta de noitadas e detesta a rotina)
Ele: Sim, e tu? (humm.. Ela está mesmo interessada em mim!)

Ela: Eu sou Capricórnio, faço a 17 de Janeiro. (não somos compatíveis)

Ele: Que giro fazemos em meses seguidos, devemos ser compatíveis então! Eu não ligo muito a signos, mas já li algures que os Sagitários são muito animados, gostam é de festa e aventura! E o que diz o teu de ti? (é melhor deixá-la falar..)

Ela: Capricórnio é o signo das pessoas complexas, persistentes e silenciosas.. (ou seja, o oposto de ti)

Ele: Ahhh.. Bom acho que os polos opostos atraiem-se não é? (uuups!)
Ela: Nem sempre.. (ainda por cima gosta de relacionamentos casuais, não quer casar e detesta a vida doméstica.. Nem pensar!)
Ele: Sabes, eu sinto um bom feeling entre nós os dois (adoro o teu decote!)

Ela: (pudera, não páras de olhar para as minhas mamas!) Sentes? Então e o que sentes em relação a compromissos a longo prazo, por exemplo? (surpreende-me..)
Ele: Ah! (esta é fácil) Eu sou 100% a favor de compromissos a longo prazo, desde que seja um dia de cada vez!

Ela: Ohpa, já viste as horas? Está a ficar tão tarde.. (socooorrooo!)

Ele: Pois a conversa voou (isto correu mesmo bem!)
Ela: Pois foi.. (eu é que vou voar daqui para fora!)

Ele: Então ligo-te amanhã?

Ela: Deixa estar, eu depois ligo-te!

Uma semana depois..

Ele: Deve ter esquecido de ligar.. Deixa cá ver o número.. 96.. 733.. 8.. Já está!

Operadora: “O número que marcou não se encontra atribuído... O número que marcou...”

Moral da história: as coisas são como são e dificilmente serão diferentes amanhã se nunca o foram até agora. O artigo da Happy serviu para uma coisa, perceber essencialmente que continua tudo na mesma.

As mulheres com gato estão cada vez mais (bem) informadas a nosso respeito, ao passo que nós, homens com cão, continuamos despreocupadamente desatentos ao pormenor, à espera que as coisas aconteçam e que o destino nos bata à porta.

As leis da atração continuam a depender dum equilíbrio de forças desigual. Para uma mulher com gato há mil e uma coisas que podem correr mal, ao passo que para um homem com cão apenas um coisa tem de correr bem.

Transportando tudo isto para o universo das revistas, enquanto que nós precisamos apenas de gostar daquilo que vemos, elas precisam essencialmente de gostar daquilo que lêem.

E se dúvidas existirem basta subir observar como destaquei a parte do decote ousado uns parágrafos acima. Resulta sempre! Maldito zodíaco.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sofá para 2

Pronto, é oficial. Lá se foi o verão.

Resultado prático, para além da chuva que caiu como se não houvesse amanhã durante a noite de ontem, hoje comi 4 donuts para oficializar condignamente o fim do período estival. Termina o verão terminam as dietas.

O Outono é aquela estação do ano que não se parece com nada. Nem está frio o suficiente para tirarmos os vincos das camisolas de malha que estão guardadas no roupeiro há 6 ou 7 meses, nem calor que chegue para andarmos na rua de manga curta com aquelas peças que compramos nos saldos de fim de estação, e que em boa verdade só vão servir lá para o verão de 2010.

É aquela estação do ano que irrita à brava, sobretudo quando no mesmo dia – como ontem por exemplo – a manhã começa com um nevoeiro cerrado capaz de fazer medo ao D. Sebastião, o meio-dia chega debaixo dum sol sufocante para quem saíu de casa preparado para o nevoeiro, às 4 da tarde começa a chover torrencialmente quando já estamos de manga curta, e ao final do dia vem aquele ventinho gelado do ártico mesmo a propósito para quem anda com os pés encharcados há umas 3 horas.

Caramba chamem-me implicativo, mas um tipo nunca sabe o que há-de vestir.

Curiosamente o Outono é aquela estação do ano que mais semelhanças encontra com a política, isto porque a maior parte dos portugueses nunca sabe em quem vai votar.
Veja-se o caso de José Sá Fernandes por exemplo, vereador independente eleito pelo BE, e que agora aparece nas listas do PS ao lado de António Costa nos outdoors espalhados pela cidade.

Sá Fernandes é aquele tipo de político que confunde imenso a roupa que vai vestir, mais ainda nesta altura do ano, e particularmente em vésperas de eleições autárquicas.

Mas nem tudo é mau. Para muita gente o Outono é aquela estação do ano em que começamos a comer de novo. Depois de meses de fome e privações sentimos que todo esse esforço merece afinal um prémio.


Quando há meses atrás procuravamos o peixinho grelhado com a batatinha cozida, agora nem pestanejamos ao mandar vir uma dose de feijoada à transmontana enquanto barramos a manteiga no pão. A propósito, ainda se lembra do sabor do pão? Costuma ser de trigo, leva àgua e sal? ... Não? ... É aquela coisa fofinha que está dentro dum cesto no centro da mesa!

O Outono é essencialmente um mês de (re)descobertas, a começar pela roda dos alimentos: olha a casa dos cerais e derivados! Já cá não vinha há uns mesitos!

Mas é também um mês de transição emocional entre homens com cão e mulheres com gato. Depois das longas noites de verão e das revoluções hormonais operadas pelo calor, Outubro traz-nos de volta à realidade.

De acordo com um estudo elaborado pelo website Meetic – o portal de online dating mais utilizado em Portugal e na Europa -, mais de metade dos portugueses inquiridos associam a Primavera ao romance, e o Verão ao desejo e à paixão. Uma relação aliás que só vem provar até que ponto o amor consegue ser lixado.

A propósito, lixado está em itálico porque lê-se lixado com “F” grande. Sobretudo para as mulheres que passam o inverno a fazer companhia ao gato no sofá, apaixonam-se na pior altura do ano por causa das alergias, e 3 meses depois são literalmente lançadas aos bichos num mercado feroz, e em que não há respeito algum pela propriedade privada.
É algo parecido com o mata-mata do Scolari cruzado com a febre nacionalista do Hugo Chavez, mas de saltos altos.

Medo. Muito medooo..

Ainda citando o mesmo estudo, se por um lado o verão significa desejo e paixão, por outro lado é a altura do ano em que mais relações encontram o seu fim. E o que é que isto tem de bom? Temos caminho aberto para finalmente encontrar alguém que nos aqueça os pés no Inverno.

E é precisamente disto que se trata quando falamos duma relação. Ter alguém que nos aqueça os pés nas noites mais frias (a propósito, apesar de eficaz o saco de àgua quente não conta).


A melancolia dos fins de tarde outonais, e as inóspitas noites de inverno remetem-nos para um cenário de solidão agravada. Dentro de dias estaremos barricados nas nossas próprias casas. Seremos prisioneiros da chuva e reféns das frentes frias. O tempo muda, e com ele o nosso estado de alma.

E se até aqui conseguimos disfarçar essa solidão graças à agitação caracteristica das noites de verão, quando há sempre alguém pronto para beber um café numa esplanada qualquer, daqui para a frente será muito mais difícil lidarmos com o barulho da chuva.

Talvez por isso 20% das pessoas inquiridas no estudo realizado pelo Meetic, confessou ser esta a altura ideal para assumir um compromisso sério nas suas vidas. Convenhamos, até se percebe porquê. A perspectiva de ficarmos sozinhos em casa enrolados numa manta nos próximos meses, coloca-nos em rota de colisão com o Natal dos Hospitais, e não há coisa mais deprimente que (re)ver a Isabel Angelino ao lado do Jorge Gabriel.

É por isso a altura ideal para tratar de si. Comece por coisas simples e que revitalizam o corpo e a mente. Os homens com cão chamam a isso Red Bull, as mulheres com gato preferem chamar compras. A chegada do frio é uma oportunidade óptima para renovar o guarda-roupa, e nada melhor do que ter alguém para carregar os sacos durante o seu banho de lojas.

E se calhar esta é talvez a única altura do ano em que isso não será um problema para a generalidade dos homens com cão, afinal também nós vamos ter de suportar o barulho da chuva sozinhos, e enfrentar aquela sensação desagradável de entrar numa cama fria e vazia à noite. Não vou arriscar dizer com lençois lavados porque isso já seria abusar da sorte, tratando-se de homens com cão sozinhos em casa.

A verdade é que também nós, os duros, sofremos com a melancolia e tristeza dos dias cinzentos. E é a olhar para a chuva que nesta altura do ano muitas vezes pensamos em duas coisas das quais sentimos falta: preciso de arranjar alguém e preciso dum guarda-chuva. Não por esta ordem necessariamente.


É certo e sabido que nós homens com cão só damos valor ao compromisso quando sofremos com a solidão. E no nosso caso o problema é ainda mais grave por sabermos que com os nossos não podemos contar.


Amigo 1: Então pah?! Mas o que se passa, conta lá ao teu mano!


Amigo 2: Ohpa não se passa nada. Está tudo bem...


Amigo 1: Ohhh! Passa-se qualquer coisa sim que eu sei. Nós já nos conhecemos há quantos anos? Vá diz lá..


Amigo 2: Ohpa... Não é nada de especial. Sinto-me sozinho sei lá.


Amigo 1: Sentes-te sozinho? Ohpa então vem sair com o pessoal!


Amigo 2: Oh! Não é nada disso Toni! Sinto-me sozinho.. Faz-me falta uma pessoa na minha vida pah.


Amigo 1: Ohpa então orienta-te dumas gajas! Olha aproveita e arranja uma para passar o fim-de-semana lá em casa contigo, pode ser que limpe aquilo tudo pah!

Ao contrário das mulheres com gato nós conseguimos ser muito mais solidários com os nossos amigos, mas em contrapartida somos péssimos conselheiros, especialmente quando o problema são as mulheres.


Para a generalidade dos homens com cão a tristeza dum amigo cura-se com uma noite de copos e gajas. Mas não são umas gajas quaisquer. São aquelas tipo buffet com tudo incluído! Claro que a ideia de comer tudo o que se consegue não deixa de ser tentadora, mas nestas coisas a quantidade não se dá com a qualidade, e no fim aos problemas que já tinhamos junta-se um novo: a ressaca, e uma tipa qualquer a deixar-nos 150 mensagens por dia no telemóvel, que entretanto nós demos porque estavamos bêbados.


Isto pode parecer inverosímil, mas nesta altura do ano nós, os duros, lidamos mal com a solidão, e quem disser o contrário está a mentir. A verdade é que também nós passamos as tardes cinzentas de Domingo enrolados no sofá, debaixo da mantinha, a devorar comédias românticas e Ferreros Rochés.

O Outono é um eclipse para nós, homens. Um breve período de ocultação em que as nossas prioridades alinham-se com as necessidades de todos os dias das mulheres com gato. E nesse sentido até mesmo o Natal dos Hospitais parece ser uma experiência transcendente, se for vivida a dois. Talvez não tanto com a Isabel Angelino, mas enfim.


Seja como for, uma coisa é certa. Não há altura como esta para dividir um sofá a dois.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ps: I Love You

Adoro-te anónimo: Olá.. Sou o Francisco, tenho 38 anos e não consigo dizer “adoro-te”.

Todos: Oláaaa Francisco!

Este podia muito bem ser o início duma qualquer reunião dos Adoro-tes Anónimos, um grupo de pessoas com problemas em dizer adoro-te.

A ideia pode parecer caricata mas não deixa de ter um fundamento de verdade, primeiro porque devem existir por aí muitos Franciscos que não conseguem dizer adoro-te, depois porque há muitos mais homens que Franciscos a sofrer do mesmo bloqueio.

Deve ser uma embirração qualquer com a palavra adoro-te, que curiosamente dizemos sempre com a maior das facilidades quando estamos prestes a passar para a parte física da adoração.
Regra geral adoro-te é das últimas coisas que dizemos antes de começarmos realmente a adorar o corpo da nossa parceira.

Mas o facto de não o dizermos não quer necessariamente dizer que não o sintamos, antes pelo contrário. Na verdade sentimos sim, simplesmente nós homens com cão temos diferentes formas de sentir, diferentes formas de comunicar com os nossos sentimentos, e sobretudo diferentes formas de verbalizar as nossas emoções.

Homem que é homem nunca vai dizer a outro gajo gosto de ti, a menos que tenha em casa o dvd do Brokeback Mountain. Em edição especial para colecionador. Ou seja, algo muito abixanado e suspeito.

Não. Homem que é homem limita-se a dizer sabes que ‘tás aqui broda, enquanto bate com a mão no peito à King Kong. Quanto muito admite-se um ligeiro vacilar na voz, imediatamente justificado por uma certa rouquidão para disfarçar a carga emotiva do momento.

E se entre nós homens com cão esta linguagem faz todo o sentido e é universal, as coisas complicam-se quando do outro lado está uma mulher com gato.

Amiga 1: Então?! Ele disse-te que gosta de ti?!

Amiga 2: Sim, disse..

Amiga 1: Yuuhuuu! Ai contaa contaaa! Como é que ele disse?!

Amiga 2 claramente desiludida: Ele disse, sabes que estás aqui sister... E depois bateu com a mão no peito. Parecia o King Kong.

Ergh.. Pois, isto assim não dá. E não dá porquê? Numa palavra: inteligência emocional.

Ok, são duas palavras, mas têm apenas um significado.

A inteligência emocional representa a capacidade que cada um de nós tem para reconhecer, interpretar e lidar com as emoções. A chave da inteligência emocional é a autoconsciência, ou seja, a capacidade de reconhecer um sentimento quando ele ocorre.

Nos homens essa capacidade está mais direcionada para coisas importantes como ... hummm ... O futebol!

(no estádio)

Adepto: Foda-s#! É penalty! Como é que o árbitro não viu?! Seu filho da put######!

Adepto na cadeira ao lado: Eu compreendo a razão da sua frustração, porém o importante agora não é o penalty, mas sim a autoconsciência e o reconhecimento emocional que vai permitir com que você lide melhor com as suas emoções...

Adepto: O quê?! Ohpa vai-te fod##!

Como é sabido o bem estar emocional depende em grande medida do controlo que nós temos das nossas emoções e sentimentos, e existem sentimentos como a ira que destabilizam emocionalmente as pessoas, especialmente dentro dum estádio de futebol.

Quando isso acontece o individuo tende a procurar de novo o equilíbrio emocional. É aí que entra a polícia de intervenção à bastonada e ficamos de novo calminhos.

Adiante.

A grande diferença entre os homens com cão e as mulheres com gato, é que enquanto nós incosncientemente suprimimos as emoções no nosso dia-a-dia (excepção feita aos jogos de futebol), as mulheres com gato enfrentam-nas frontalmente até encontrarem um equilíbrio, e é nesta diferença que nos desencontramos quando se trata de lidar com sentimentos.

As emoções vivem no plano de fundo da vida de um homem e no primeiro plano da vida de uma mulher
in: The Lazy Husband, Josh Coleman.

E por muito que nós homens quiramos que não seja assim, infelizmente o nosso adn faz-nos lembrar o contrário: é mesmo assim. Por isso é que homens e mulheres estão habitualmente em pólos opostos nas discussões.

Ela sente-se ferida de morte porque ele esqueceu-se do aniversário de casamento, ele por outro lado acha que ela está a exagerar porque estas coisas acontecem, e para o ano compensa.

Não querendo desculpar a aparente indiferença que os homens com cão conseguem ter para com as datas importantes da vida dum casal, a verdade é que o problema já nasceu connosco.

De acordo com o International Center for Health Concerns, o nosso cerebro está dividido em duas partes: o lado esquerdo (responsável pelo pensamento lógico), e o lado direito (responsável pelas emoções). No caso das mulheres com gato a ligação entre o lado lógico e o lado emocional é muito maior, quase como se existisse uma auto-estrada entre o lado esquerdo e o direito que não só facilita a comunicação, como faz com que as mulheres raramente dissociem a lógica da emoção.

Um exemplo: uma mulher com gato vê um par de sapatos lindos de morrer, daqueles que não fazem falta nenhuma mas que TEM MESMO de comprar. Compra. Decisão lógica ou emocional? Lógica porque no caso das mulheres a emoção de ter um par de sapatos irresistiveis faz todo o sentido.

Já no nosso caso as coisas não se processam desta forma. A distância entre o lado lógico e o lado emotivo é maior, isto porque existe uma espécie de estrada secundária entre os lados esquerdo e direito do nosso cérebro, que torna a comunicação entre ambos muito mais demoraaaadaaaa..

Por isso é que um homem com cão perguntaria sempre à mulher com gato do par de sapatos mas tu precisas mesmo desse par de sapatos?

É inevitável. Nós reagimos de formas diferentes às emoções, e no nosso caso concreto temos tendência para esquecê-las mais depressa, precisamente porque o acesso ao nosso lado emotivo é mais complexo.

É por isto também que as mulheres com gato conseguem coisas realmente incríveis, como puxarem para uma discussão em tempo real algo que se passou quando o Marquês de Pombal ainda era vivo.

Ela: .. e tu lembras-te daquela vez em que eu disse que não me apetecia comer sardinhas e tu insististe em irmos ao restaurante de peixe-assado?

Ele: Desculpaaa?!

Um estudo recente publicado no Journal of Personality confirma tudo isto de forma inquestionável. As mulheres com gato têm maior facilidade em lidar com as emoções, enquanto nós homens com cão sentimos maiores constrangimentos na hora de exprimir os nossos sentimentos.

É por isso que a médio e longo prazo o divórcio costuma ser mais devastador para os homens.
Remete-nos para um campo minado de emoções, um território virgem, inexplorado e com o qual aprendemos a lidar com muita dificuldade. Quando aprendemos.

A ideia dos adoro-tes anónimos pode parecer absurda, mas iria certamente abalar as certezas de muitas ex-mulheres com gato convencidas de que o ex-homem com cão simplesmente deixou de se importar, quando provavelmente apenas não se conseguiu explicar.

E como é que tudo isto se resolve? Com post-its. Quando sair de manhã deixe um colado no despertador dela. Ou dele, porque também há muitas mulheres que não sabem dizer..
ps: I Love You.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A tragédia grega

Aposto que desta vez perdeu mais alguns segundos do que é habitual antes de se debruçar sobre o tema propriamente dito.

Admita, esteve debruçada sobre a foto, certo? Acredito que sim, e há razões para isso. Afinal trata-se tão somente do homem mais bonito do mundo.

Este é Sakis Rouvas.

E quem é Sakis Rouvas, pergunta você? Bom, Sakis Rouvas é um cantor grego natural da ilha de Corfu, na Grécia pois claro, e que nos últimos meses tem aparecido nas caixas postais electrónicas um pouco por todo o lado, não só aqui no meu prédio mas aparentemente na minha rua, e ao que parece no mundo inteiro.

Alegadamente Sakis Rouvas terá sido eleito o homem mais bonito do mundo. Dizem que venceu um concurso, mas ninguém sabe explicar muito bem que concurso foi esse, quem votou, e quem foi a votos com o grego.

Até há poucos meses atrás Sakis Rouvas era conhecido simplesmente como o Ricky Martin da Grécia. Ou seja, só era conhecido na Grécia.

Rouvas granjeou este rótulo à custa de muito jogo de cintura, e de videoclips que levam as suas fãns à loucura. Mas as semelhanças com Ricky Martin não se ficam por aqui. Ao que parece Rouvas também gosta imenso de brincar aos ferryboats, aquele barco que é conhecido por atracar dos dois lados.

Verdade ou mentira ninguém sabe ao certo. Aquilo que se sabe é que o mail circula na web. Eu já o recebi, e como eu milhões de pessoas no mundo inteiro. Apresenta Sakis Rouvas como o homem mais bonito do mundo, depois duma eleição fantasma que ninguém parece conseguir comprovar em lado algum, e que provavelmente terá tido apenas uma pessoa a votar: a mãe de Sakis Rouvas.

Aposto que neste preciso momento a Carolina Patrocínio está a dizer para si própria como é que eu não pensei nisto antes?! Bom, talvez porque é preciso pensar e isso como é sabido não está ao alcance de todos, a julgar pelos disparates que a bimbolette da SIC diz a cada vez que abre a boca.

Esquema ou não a verdade é que a popularidade do cantor grego disparou desde Novembro do ano passado – altura em que começou a espalhar-se o rumor -, e alguns meses depois Rouvas foi escolhido para representar a Grécia no festival da Eurovisão da canção em Moscovo, onde já não esteve o mítico Eládio Clímaco, esse mesmo que na última edição apresentada por si disse para o ano vamos estar em Reykjavic, na Finlândia! Sim, essa Reykjavic, a capital da Islândia.

Mas voltemos a Sakis Rouvas.

Independentemente de ser verdade ou não uma coisa é certa: este é o tipo de homem com cão que preenche o imaginário de todas as mulheres com gato. Ou quase todas porque nisto das mulheres há sempre alguém que é do contra.

Dito de outra forma, este gajo é o tipo de gajo com o qual as mulheres (e alguns homens como o Ricky Martin por exemplo) fantasiam a vida toda. O homem com quem fugiriam para uma ilha deserta se pudessem escolher, aquele que esconderiam das melhores amigas se fosse preciso, e que levariam para o altar se fosse possível.

Sim, já há quem discorde neste preciso momento:

Mas que disparate! Alguma vez trocava o meu marido por este fulanito?!

Por acaso trocavam sim! Passo a explicar. No último mês as leitoras mais atentas repararam certamente na sondagem postada no rodapé do Blog:

Se por magia pudesse desaparecer durante um fim-de-semana sem que ninguém reparasse, quem levaria consigo para uma ilha deserta no pacífico?

26% das mulheres com gato inquiridas levariam uma paixão nova, avassaladora e completamente inconsequente para um fim-de-semana romântico numa ilha deserta.

66% - pasme-se! – confessaram que a escolha seria sem dúvida aquela pessoa em quem de vez em quando penso “como seria”.

Surpreendentemente (ou talvez não) apenas 8% das mulheres com gato responderam o meu marido/namorado/junto.

Ou seja, dois terços (!) das mulheres com gato que responderam a este questionário escolheriam o Sakis Rouvas das suas vidas para se entregarem à luxúria numa ilha perdida no meio do Pacífico. Dois terços. É uma maioria parlamentar muito respeitável.

Sakis Rouvas é afinal muito mais que a versão xué do Ricky Martin. Sakis Rouvas pode até nem ser o homem mais bonito do mundo (não é seguramente o mais feio), mas representa no fundo tudo aquilo que as mulheres mais desejam, e que bem vistas as coisas não podem ter: a ideia do Deus grego. O homem perfeito.

Sou naturalmente avesso a generalizações, mas esta é uma tragédia grega a que eu próprio já assisti vezes sem conta na 1ª pessoa. Sei por isso do que estou a falar.

Acontece muitas vezes. Elogiam o carácter e o sentido de humor, valorizam o conteúdo e a sinceridade, acham-nos queridos e super simpáticos, mas tudo isso só dá para sermos a pessoa muito especial. Não chega.

Amiga 1: Então querida? Como estão as coisas contigo e com aquele teu amigo, o Francisco?

Amiga 2: O Francisco é um queridoooo. Super simpático, atencioso, faz-me rir.. É uma pessoa muito especial..

Amiga 1: Muito especial. Ou seja, não vais sair com ele.

Amiga 2: Não! (risos) Estou a sair com o Ricardo, yuhuuu!

Amiga 1: Não me falaste dele!

Amiga 2: Tenho aqui uma foto dele na praia no meu telemóvel, espera...

Amiga 1: Uaaauuuu! Bem amiga, ele é podre de bommm!

Amiga 2: Pois é!

Poooois é. E é mais ainda quando se trata de mulheres realmente muito bonitas.

Este é apenas um exemplo mas serve na perfeição para ilustrar a tragédia grega a que repetidamente as mulheres se entregam: uma amiga minha de quem não interessa agora saber o nome, queixa-se desde sempre que tem azar com os homens. Ouço-a dizer vezes sem conta que nós somos todos iguais, e que os homens são todos a mesma porcaria, e que só a querem para a cama.

Os homens não são todos a mesma porcaria. Ela é que escolhe sempre a mesma porcaria de homens. Essa é a grande diferença. E isto acontece com quase todas as mulheres: regra geral escolhem sempre o mais giro. Regra geral o mais giro é sempre o pior. E regra geral acreditam sempre que com elas vai ser diferente.

E podia continuar a citar (muitos mais) exemplos, mas este é já suficientemente ilustrativo.

Se dúvidas existirem basta clicar num qualquer site social como o Netlog, por exemplo. Homens mais bonitos do mundo como o Sakis Rouvas há-os às centenas. De tronco nu, cheios de abdominais e com um sorriso pepsodent. Basta escolher um ao acaso, clicar numa foto, e em poucos segundos encontramos dezenas de comentários de mulheres que nos fazem esquecer rapidamente a importância do interior numa pessoa.

Como disse antes sou naturalmente avesso a generalizações. Há excepções concerteza, mas eu conheço muito poucas.

E desafio quem se atrever a dizer o contrário. Conheço uma mão cheia de tipos que podiam à confiança enviar mails dizendo que foram eleitos os homens mais feios de Portugal. Poucas pessoas iriam duvidar. São no entanto das melhores pessoas que eu conheço, mas comentários nas fotos em perfis sociais nem vê-los.

Sakis Rouvas. O Ricky Martin da Grécia. Nasceu numa pequena ilha no mediterrâneo chamada Corfu.
Diz por aí que foi eleito o homem mais bonito do mundo.
Pergunto-me se alguma vez ouviu isto em grego:


Είστε πολύ πρόσθετο πρόσωπο, αλλά όχι.(*)

Pois, se calhar não ouviu.

(*) és uma pessoa muito especial, mas não dá.

sábado, 22 de agosto de 2009

Carolina Patrocínio e a Miss Piggy

Eu vejo pouca televisão mas confesso que habituei-me a conviver com a presença da Carolina Patrocínio muito por culpa do meu filho, que como tantos outros na sua idade raramente perdem o Disney Kids.

A coquete da SIC já saíu do programa infantil, mas apesar do seu estilo prosaico tão distintivo de quem não acrescenta nada ao teleponto, sempre revi nesta figurinha os maneirismos próprios das novas vedetas da televisão em Portugal, inaugurada pela geração Morangos com Açucar: encolhe a barriguinha, estica o rabinho, e agora sorri, sorri muito!

A Carolina Patrocínio faz tudo isto muito bem, e quem a vê ao lado do João Manzarra no Todos Gostam do Verão, na SIC, até se esquece por breves minutos de que a Carolina não tem qualquer talento ou formação para assumir-se como uma das caras da estação de Carnaxide, e no entanto lá está ela de barriguinha encolhida, a esticar o rabinho e a sorrir, a sorrir muito, como tão bem sabe fazer.

Felizmente para a Carolina, no TGV a coquete da SIC pode pendurar-se no talento natural de João Manzarra, um ícone em construção e com a telegenia própria de quem comunica com o espectador de forma natural. Ou seja, sem o tal sorriso plasticizante.

Como disse no início, raramente vejo televisão mas pareço fadado para acompanhar de perto a ascenção – vou corrigir para ascenção e queda - da Carolina.

Há semanas atrás fiz-me acompanhar da televisão durante um almoço tardio de fim-de-semana. O zapping levou-me até ao Episódio Especial que a SIC transmite aos Sábados, e o mínimo que posso dizer é que foi de facto muuuito especial ver a entrevista da Carolina nesse episódio, aparentemente especial.

Confesso que parei de mastigar durante largos minutos – eu e toda a gente que estava a almoçar aquela hora em Portugal concerteza -, incrédulo com as anormalidades que a coquete da SIC conseguiu verbalizar em pouco mais de 8 minutos, numa demonstração categórica de que afinal não há limites para a estupidez humana.

Numa altura de sufoco económico contínuo, em que diariamente são exigidos cada vez maiores sacrifícios às famílias portuguesas – entre as quais eu me incluo -, acho no mínimo patético que a SIC ajude a promover barbies como a Carolina Patrocínio, que em entrevista a um canal aberto de referência em Portugal, diz que só come cerejas quando a empregada tira os caroços.

Mas a teen não se ficou por aqui. Entusiasmada pelo endeusamento promovido pelo entrevistador, um tal de Daniel Oliveira, a ex-Disney Kids revelou ainda maior soberba ao afirmar que é uma trabalheira descascar a fruta, e que pede à sua empregada para tirar as grainhas das uvas, porque só assim consegue comer uvas.

As revelações por esta altura já me provocavam asco, mas ao mesmo tempo senti-me incapaz de mudar o canal hipnotizado por tamanha futilidade. Senti-me como a traça a esvoaçar em redor do clarão da lâmpada: foge da luuuz Pedro, foge da Luuuuz!

Mas eu não fugi, e assim continuei a acompanhar este momento de televisão que tão cedo não vai desaparecer dos arquivos do Youtube.

E quando pensei pior não pode ficar, eis que a coquete da SIC assume sobranceiramente perante as câmeras, que odeia perder e que prefere fazer batota a perder.

Neste caso, porém, a culpa não pode ser incutada à barbie Carolina mas porventura aos seus pais, que poderão ter falhado na transmissão de valores básicos que devem alicerçar o caracter de qualquer indivíduo, como a honestidade.

Reparem que digo porventura poderão, e não estou a afirmar cabalmente que falharam, nem poderia fazê-lo porque em abono da verdade não sei se sim ou se não.

Costuma dizer-se que a maçã nunca cai muito longe da árvore. Vou no entanto cingir-me às palavras da Carolina, até porque a menina é neta de Vasco Vieira de Almeida, da Sociedade de Advogados Vieira de Almeida, que curiosamente esteve nas primeiras páginas do Correio da Manhã alegadamente por ter recebido 6,5 milhões de euros do Freeport.

En passant diga-se que esta notícia foi considerada grave e difamatória pela mesma sociedade de advogados, que de imediato desencadeou uma acção judicial contra o Correio da Manhã, isto apesar da Polícia Judiciária ter levado a cabo buscas nos escritórios da Vieira de Almeida.

Mas vamos cingir-nos ao que é realmente importante: Carolina Patrocínio, a menina da SIC que vive no mundo da fantasia e que só come cerejas e uvas se a empregada tirar os caroços e as grainhas. A menina que prefere fazer batota a perder.

Não sei se o José Socrates teve conhecimento desta entrevista, mas a verdade é que pouco tempo depois Sócrates empossou a coquete da SIC como mandatária para a Juventude do Partido Socialista nas próximas eleições.

Não quero parecer mesquinho e entregar-me à maledicência pura, mas por mais que pense não consigo encontrar uma razão plausível para que Sócrates escolha Carolina como a representante dos jovens em Portugal, isto apesar de ambos terem pelo menos duas coisas em comum:

- Carolina não tem qualquer talento especial para fazer televisão, já Sócrates não tem qualquer talento especial para ser Primeiro Ministro.

- Carolina não tem qualquer licenciatura em comunicação social, já o diploma de Sócrates foi assinado num domigo em Setembro, e segundo o semanário Expresso de 31 de Março de 2007, Frederico Oliveira Pinto na altura presidente do conselho cinetífico da universidade Independente, nunca viu Sócrates na instituição durante todo o curso.

Os dois diferenciam-se precisamente na questão da batota. Carolina diz despudoradamente que prefere ser desonesta a perder, já Sócrates por seu lado aceita com liberdade democrática e com um sorriso nos lábios que digam e provem que ele não tem razão, e nunca mentiu aos portugueses desde que foi eleito. Pois.

E por falar em erro, este da Carolina Patrocínio ser a mandatária do PS para a juventude só pode ser um erro grosseiro de casting, ou então uma piada de muito mau gosto.

Pergunto se os jovens deste país se revêm nesta pessoa fútil e vazia que agora os representa? Duvido.

Duvido que a maior parte dos jovens tenha empregadas em casa para descascar a frutinha e tirar os caroços às cerejas, e as grainhas às uvas por exemplo. Criadagem em Portugal é coisa que só existe nas telenovelas da TVI, ou em famílias abastadas como a da princesa Carolina.

Duvido também que a maior parte dos jovens em Portugal possam dar-se ao luxo de acordar tarde, como faz assumidamente a teen da SIC. Na mundo real as pessoas acordam cedo para estudar e trabalhar, mas a Carolina fica a dormir até mais tarde com o Coelho Gigante e a Alice, no país das Maravilhas.

Também duvido que a maior parte dos jovens pensem em sair de casa aos 20, com o propósito assumido de arranjar uma casa própria, entre outras coisas para dar festas para os amigos, como disse Carolina Patrocínio numa entrevista em 2008.

Finalmente duvido muito do bom senso de Sócrates, e de quem o assistiu nesta decisão absurda para não dizer rídicula.

A menina da SIC faz-me lembrar uma figura com a qual cresci há muitos anos atrás, a Miss Piggy dos Marretas. A Miss Piggy não tinha qualquer talento, mas tal como a Carolina achava-se bela, e acreditava que isso bastava para ser a estrela da companhia.

Tal como a Miss Piggy no universo dos Marretas esse é o único mérito que eu lhe reconheço: é gira.

E infelizmente isso parece chegar numa sociedade cada vez menos assente num sistema meritório, e cada vez mais vazia de ideias e de referências sólidas e inspiradoras, e que insiste em dar pérolas a porcos. Ou neste caso a porcas, como a Miss Piggy.
E agora como diria a estrelinha da SIC: 3, 2, 1 já está!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Clint Eastwood e as não relações

O destino tem destas coisas.

Há dias atrás, e depois de vários meses sem falar com uma amiga minha, fui surpreendido por uma sms da Carla à qual respondi e acabamos por trocar algumas palavras simpáticas de ocasião.

Nessa mesma noite e de forma completamente inesperada, cruzamo-nos numa conhecida discoteca da margem sul. Inesperada não tanto pela Carla porque é uma habitué confessa da noite, mas por mim que raramente vou a discotecas, ainda para mais longe do perímetro urbano.

Curiosamente, há poucos meses atrás dei de caras com outra amiga minha, numa ainda menos vista aparição num espaço nocturno do mesmo género, mas desta feita no Montijo.

Não deixa de ser surpreendente atendendo ao facto de que em 2009 apenas fui a discotecas (humm.. ora deixa cá fazer contas..) duas vezes.

O Porto tem as noites brancas – e aproveito para esclarecer que não são festas onde o branco é o dress code obrigatório. Não. São festas onde se executam empresários e porteiros a tiro de pistola e shot guns, e não, não é preciso convite.

Se no norte o estilo da máfia local é ainda muito ao género do mítico spaghetti western de Sergio Leone Por um punhado de dólares, com muitos tiros, gajos feios, com cara de mau e com roupas que ninguém usa, por cá os enredos assumem uma dimensão muito mais sofisticada, elegante e de salto alto, ao melhor estilo do Sexo e a Cidade.

Lá em cima uma pessoa sai à noite e arrisca-se a dar de caras com um qualquer gang armado até aos dentes. Aqui por baixo uma pessoa sai à noite e dá de caras com as exs. Escolha difícil, gang armado até aos dentes ou exs. Humm..

Exageros à parte, os dois encontros imediatos de 3º grau não foram nada assustadores, bem pelo contrário, mas apesar de agradáveis partilharam algumas coincidências verdadeiramente incríveis, e isso sim é que é assustador.

É certo que faltam ainda 135 dias para o final do ano, mas nas duas vezes em 2009 que eu resolvo andar uns 20 kms de carro para não ser cumprimentado pelos dois gorilas à porta, depois de esperar uma eternidade para levar um cartão de consumo de 15€ e finalmente conseguir entrar, nessas duas vezes dou de caras com o meu gang armado privado.

Curiosamente as duas ocasiões envolveram as únicas duas pessoas a quem eu posso chamar ex qualquer coisa nos últimos tempos, o que não deixa de ser intrigante.

Eu ainda sou do tempo em que nós putos diziamos às miudas queres namorar comigo? Depois o namorar comigo foi substituído pelo andar comigo, e quando eu esperava que a seguir viesse o queres correr comigo? eis que surge o conceito da não relação, em que se assumem compromissos não se dizendo coisa alguma.

A Carla e a Ana (nomes que podem ser fictícios) enquadravam-se neste contexto das não relações sérias. Eu era o não namorado, não oficial, não assumido e presente apenas quando isso não envolvia estar com mais alguém!

É um não conceito de não relações muito moderno, mas quanto a mim padece duma certa e determinada negatividade. Reparem que nos últimos três parágrafos usei 9 vezes a palavra não. 10 com esta.

Foram portanto as duas últimas vezes no último ano e meio talvez, em que eu não tentei assumir uma não relação, porque achava que realmente valia a pena não tentar.

Isto pode parecer confuso mas compreender a dimensão deste não problema é até bastante simples, basta inverter a lógica do discurso e tudo fica mais claro: é um problema quando tentamos assumir uma relação porque achamos realmente que valia a pena. Cá está, muito mais claro!

Com a Carla e a Ana achei realmente que valia a pena não tentar. De tempos a tempos passam-me estas não coisas pela minha cabeça..

E quando achamos que vale realmente a pena as coisas mudam. Um beijo não é só um beijo, e quando um beijo deixa de ser só um beijo isso sim é um problema, especialmente quando estamos numa não relação.

As duas não relações duraram praticamente o mesmo tempo, e numa coincidência retorcida de fazer arrepiar aquele fulano macabro dos insólitos Yorn, as duas não relações terminaram pelas mesmas não razões. Essas guardo para mim, mas em jeito de desabafo deixaram-me profundamente não desiludido.

Nos meus tempos de puto era tudo mais fácil. As coisas tinham nome e não ficavam não arrumadas em meias palavras. Era o tempo do gosto de ti e do queres namorar comigo? do sim e do não, das dúvidas e das incertezas, das paixões e das tristezas. Tudo coisas que desapareceram com as não relações, e porquê? Porque não faz sentido.

Claro que não voltava para lá nem que me pagassem, porque foi também o tempo de coisas muito más como os New Kids on The Block, os penteados à Gloria Estefan e o acne, qual das três a pior.


Seja como for, as não relações de hoje continuam a ser dificeis de interpretar.

Imagino-me muitas vezes no meio do elenco de Por um punhado de dólares, a obra mais famosa de Sergio Leone.

Ali estou eu, duro, mau como as cobras, com barba de três dias, de chapéu à cowboy a sombrear-me os olhos enquanto masco o meu tabaco, com o poncho de alpaca a esvoaçar ao vento por entre dois revólver Colt prontos a disparar..

(entra a música)

tuuuiuuuiuuuuuuuu...

Avanço decidido para o confronto final, com o ruído das esporas a marcar a cadência dos meus passos..

tuuuiuuuiuuuuuuuu...

E no auge da intensidade dramática, com toda a gente presa ao ecrã.. desafio o Clint Eastwood para um não duelo!

Baaah!!

domingo, 9 de agosto de 2009

Dharma & Greg

De acordo com o INE a taxa de nupcialidade no nosso país tem vindo a abrandar nos últimos anos.

Em 2006 por exemplo celebraram-se 47.857 casamentos católicos e civis, contra apenas 46.329 em 2007, ou seja, menos 1528 casamentos. E este valor continuou a diminuir ao mesmo ritmo em 2008 com pouco mais de 44.800 ofícios nas conservatórias do registo civil em Portugal.

A primeira conclusão a retirar desta leitura é que contrariamente às expectativas europeias, somos um país cada vez com mais bom senso, mas não só. Somos também um país de pessoas cada vez menos interessadas em dividir o nosso roupeiro com quem quer que seja, e se dúvidas houvessem basta olhar para a taxa de divórcios: números redondos, 50 a cada 100 casamentos.

Uma segunda leitura permite-nos uma análise ainda mais pertinente. Não só queremos cada vez menos dividir o nosso roupeiro com outra pessoa, como metade dos que pensam ahh e tal não deve ser assim tão mau, afinal descobrem que sim, afinal é assim tão mau!

Mas à luz das estatísticas do INE há ainda uma outra leitura possível, essa sim realmente assustadora, senão vejamos: números redondos, das 90.000 pessoas que todos os anos prometem amar-se para todo o sempre, cerca de 45.000 começam à procura de outra pessoa para amar para todo o sempre ao final de 12 meses. É um todo o sempre assim a atirar para o curtinhooo..

É por isto que eu sou a favor do casamento entre pessoas estranhas.

Admito que a ideia pode parecer no mínimo absurda, para não dizer estúpida mesmo, mas só num primeiro momento.

Eu ainda sou do tempo do Impulse e do anúncio do desconhecido que oferecia flores. Isso já lá vai. Como as coisas estão hoje em dia se um desconhecido lhe oferecer flores provavelmente é um qué-frô a tentar fazer negócio. Mas se um desconhecido lhe pedir em casamento, isso não só é Impulse, como é também muito inteligente.

Em primeiro lugar nenhum dos dois conhece o respectivo cônjugue, é portanto garantia de que o estado de graça vai permanecer intacto durante largos meses. Ou seja, quando começar a descobrir aquelas pequenas coisas que a irritam de morte, provavelmente já passou a barreira psicológica do primeiro ano, o mais difícil para a maior parte dos casais. E quem aguenta 1 ano se calhar aguenta 10 ou 20!

A ideia que as actuais estatísticas sugerem é que o casamento é uma espécie de fuga para a frente. Um desfecho lógico mas não apaixonado.

Reparem neste testemunho que só por acaso não saiu na revista Happy de Agosto:

Daniela e Francisco. 8 anos de namoro e acomodados à segurança duma relação que não teve um motivo forte para terminar. Pressionados pela família resolvem dar um passo em frente. O passo lógico. Afinal começa a ficar tarde para pensar em filhos. Porque não?

Certamente nem todos os divórcios apresentam esta patologia, mas para muitos este será o quadro clínico de diagnóstico mais frequente. Muitos casais não encontram motivos fortes para terminarem, mas se calhar também não têm um motivo forte para continuarem. Continuam porque é o que eles e os outros esperam de si próprios.

Ora, o casamento entre estranhos é por si só uma completa aventura. Aqui não existe nenhum passo lógico porque a ideia é absurda, nem existem pressões por parte da família porque verdade seja dita ninguém estava à espera!

Depois há sempre o lado fetichista de ter sexo com um estranho, que afinal é o seu marido! Estão garantidas noites e noites de descoberta e mistério, ao invés do habitual e rotineiro sexo já com 8 anos de idade, aquele que dura quase sempre o mesmo tempo, que se faz quase sempre na mesma posição, e que termina quase sempre com o mesmo sono profundo sem direito a 2ª volta.

O casamento entre pessoas estranhas apresenta ainda outra vantagem que não deve ser subestimada. Não sabendo coisa alguma dos respectivos cônjugues, nem tão pouco quem eles são até à cerimónia propriamente dita, evita-se o contra-poder habitualmente instalado na pessoa das nossas sogras.

Mãe: Tu é que sabes filha, mas cá para mim ficavas muito melhor com o filho do Sr. Bento, lá da Mercearia.

Filha: ... Mãe eu amo o Ricardo.

Mãe: Oh filha mas ficavas tão bem com ele! É um rapaz com juizo. Está a terminar o curso e diz que está muito bem na vida.

Filha: ... Já falamos sobre isso mãe.

Mãe: Tem lá algum jeito agora ires casar com um músico, onde é que já se viu?! E que vida é que ele te vai dar querida?

Na sociedade actual em que vivemos informação é poder, e a falta dela neste caso concreto só traz vantagens. A todas as sogras devia ser interdito o acesso a informações como o grau de ensino dos futuros genros, as qualificações profissionais, se têm ou não emprego, quanto ganham, se têm ou não carro, etc, etc.

A verdade é para ser dita doa a quem doer. As sogras nunca olham para os futuros genros com o coração, mas sim com a cabeça. Ao contrário das filhas que estão apaixonadas, as sogras analisam tudo com um pensamento crítico particularmente acutilante. Posso estar enganado mas está para nascer a sogra que entre um futuro médico cirurgião e um aspirante a músico escolha o aspirante a Bono para a sua filha.

A ideia dum casamento entre estranhos pode continuar a parecer absurda, mas olhando para as estatísticas do INE não existe um único argumento que contrarie de forma assertiva a validade desta opção.
Os números demonstram de forma clara que um período longo de namoro não garante absolutamente nada quando chega o momento da verdade, e com um divórcio a cada dois casamentos apenas ao final de 12 meses, casar com um completo desconhecido oferece exactamente as mesmas possibilidades de sucesso que casar com o seu namoradinho do liceu, 50 – 50. E com uma vantagem. O sexo vai ser sempre uma surpresa. E quem é que não gosta de surpresas?

Por muito disparatada que a ideia possa parecer, a verdade é que já houve quem se lembrasse disto antes, mais precisamente a 24 de Setembro de 1997 quando foi para o ar o 1º episódio da série televisiva Darma & Greg.

Na série da ABC Jenna Elfman e Thomas Gibson interpretam Dharma e Greg, dois absolutos estranhos que conhecem-se e casam-se no primeiro encontro, apesar de serem o completo oposto um do outro. Uma ideia absurda que ao longo dos 115 episódios rendeu um Globo de Ouro, 6 Emmys, e 20 milhões de espectadores/ano nas primeiras 3 épocas.

Dharma & Greg estiveram juntos durante 5 anos, 4 anos mais que metade dos casamentos que se realizam em Portugal.

É verdade que se trata de ficção, mas quantas vezes a realidade imita a ficção, e com resultados supreendentes?

Da próxima vez que um estranho lhe oferecer flores, isso não é Impulse, é quase de certeza um pedido de casamento!

A ideia pode continuar a parecer absurda, mas diga lá que não ficou com vontade de dar um pulinho até à FNAC mais próxima para espreitar os preços do pack da 1ª temporada de Dharma&Greg?

terça-feira, 28 de julho de 2009

O teste Peter Pan


A última entrada no Blog do Homem com Cão terminou com uma questão à qual não dei resposta:

Ele é o homem certo para si?!
Método revolucionário escolhido por juri científico.

Acredito que a impertinência da pergunta merece algum desalinho da sua parte – especialmente se for casada com um homem com cão-, mas e se fosse mesmo possível quantificar até que ponto ele é, ou não, o homem certo para si? O que você faria?

Preferia viver na ignorância para sempre ou ia querer fazer as suas continhas?

Se por esta altura já está de máquina de calcular na mão e a esfregar as mãos de contente, então esta entrada foi mesmo escrita a pensar em si.

Primeiro que tudo convém explicar no que consiste afinal este método revolucionário.

Trata-se tão somente duma fórmula que permite calcular numa escala de 0 a 20 até que ponto o seu namorado, junto, ou marido, é ou não o homem certo para si. Preparada para o teste que pode mudar a sua vida? (esta frase é tãaaaao Happy!)

Depois de muitos meses de trabalho (dois dias) os investigadores (eu) descobriram uma fórmula simples, aplicável a todos os homens com cão, e por todas as mulheres com gato. É universal, objectiva, coerente e acima de tudo infalível. É o Teste Peter Pan!




H = (P + F)/2



A formula explica-se do seguinte modo:


Um homem – qualquer homem – é a soma de duas partes distintas. Personalidade e Físico (P + F) divididos por 2.

A Personalidade por sua vez resulta da soma de 5 elementos fundamentais:

inteligência; carácter; sensibilidade; respeito (por si próprio e pelos outros); e capacidade de amar ou gostar (de si próprio e dos outros).

Os primeiros 4 elementos pontuam de 0 a 5. O último é o elemento mais importante na Personalidade, e por isso pontua a dobrar de 0 a 10.

Depois de atribuir um valor a cada um destes elementos soma as 5 parcelas. Esse número terá então de ser dividido pelos ciumes na seguinte escala de 0 a 3:

0 não sente ciumes, nem mesmo quando você sai com o seu melhor amigo.
1 sente alguns ciumes mas não se nota nunca.
2 sente ciumes, amua ocasionalmente mas evita demonstrar.
3 sente muitos ciumes, faz cenas, e chega a ser paranóico.

Quanto mais ciumento for o seu namorado, junto, marido ou pretendente a qualquer coisa, mais este valor será dividido. Um exemplo prático:

Duarte, 34 anos, engenheiro civil.

Inteligência 4
Caracter 4
Sensibilidade 4
Respeito 4
Capacidade de amar 8
Total 24
Ciumes 3
Total final 8

Neste caso os 24 pontos dos 5 elementos foram divididos por 3 porque o Duarte é possessivo, ciumento e paranóico a ponto de fazer um escândalo porque um tipo qualquer na discoteca não tirava os olhos de si. Aquilo que era um bom resultado transformou-se num verdadeiro desastre.
Mas numa boa relação nem só de boa personalidade vive uma mulher com gato.
O Físico é igualmente importante e também resulta da soma de 5 elementos fundamentais:

corpo; cara; estilo; charme; e cama.

Os primeiros 4 elementos pontuam de 0 a 5. Como é óbvio a cama é o elemento mais decisivo na parte física, e como tal pontua a dobrar, de 0 a 10.

O mecanismo é exactamente igual e depois de atribuido um valor a cada elemento basta fazer as contas e achar o valor total da soma das partes.

Mas também aqui há um elemento divisor, neste caso o egoismo numa escala de 0 a 3.

0 pessoa completamente altruísta. Dá tudo o que tem.
1 se é egoísta não se nota, nem nos dias maus.
2 egoista em muitas coisas, especialmente nos afectos. Recebe mais do que dá.
3 pessoa totalmente egocentrada. É a última coca cola do deserto.

É certo e sabido que pessoas muito bonitas são normalmente muito egocentradas, egoístas e viradas para o seu próprio umbigo. É por isso justo que seja este o elemento que come pontos na parte física. Vamos a um caso prático:

Henrique, 38 anos, médico.

Corpo 3
Cara 3
Estilo 4
Charme 5
Cama 8
Total 23
Egoismo 1
Total final 23

Henrique pode não ser a última bolachinha do pacote, mas é competente, charmoso e tem um estilo sóbrio e personalizado. Fez quase os mesmos pontos que o nosso amigo Engenheiro Civil, mas por ser uma pessoa que não vive centrada no seu umbigo mantém os 23 pontos.

Ora bem, chegados aqui falta somar o valor da Personalidade de Duarte, o Engenheiro Civil, ao valor do Médico, Henrique.

Claro que no seu teste a pessoa será sempre a mesma, mas no nosso caso o somatório da Personalidade e do Físico corresponde a (8 + 23 = 31)/2 = 15.5 valores.

Se Duarte o Engenheiro Civil fosse um pouco menos ciumento, em vez dos 8 miseráveis pontos somados na Personalidade teria feito 12, e isso teria sido suficiente para atingir um valor de 17,5 valores, ou seja, um homem com cão já muito próximo da perfeição. O verdadeiro supra-sumo da batata frita!

Parece complicado mas é na verdade muito simples. Basta que responda com honestidade e verá que o resultado pode ser surpreendente.

E por falar em resultados, se já fez as contas duas vezes e continua a da o mesmo valor, então fique a saber o seguinte:

0 a 4,5 valores

Houston, we have a problem...

Já percebeu ou quer que eu faça um desenho? Está claramente a perder o seu tempo com a pessoa errada. Faça-se a vida e seja positiva, afinal pior que este resultado é quase impossível, portanto à partida qualquer outro homem é melhor que o seu!

4,5 a 9,5 valores

A menos que um dos lados compense o outro, sugiro que repense a sua relação com alguma urgência. Com estes resultados você não pode ser uma pessoa realizada emocionalmente, e resta a dúvida de saber se ele é óptimo na cama e um miserável fora dela, ou se é uma excelente pessoa mas miserável na cama.

9,5 a 13.5 valores

Este é o terreno indefinido da relação. Não é negativo nem muito positivo, não é bom nem é mau, não é carne nem é peixe.
Se gosta do assim assim, do pode ser, de carros cinzentos, de fazer férias em Albufeira em pleno mês de Agosto e de fazer compras no Jumbo no final do mês, então um homem mediano está óptimo para si, porque a média dos portugueses faz tudo aquilo que foi descrito com grande frequência. Mas não se iluda, a menos que ache apaixonante ir ao Jumbo fazer compras no final do mês, paixão é a última coisa que sustenta a sua actual relação.

13,5 a 17,5 valores

Diga lá se não suspirou de alívio depois de fazer as continhas?! Não só tem um excelente homem com cão ao seu lado, como ainda olha para ele exactamente da mesma forma como olhava no início, ou seja, continua a achá-lo lindo, encantadador, e muuuito bom na cama.
Um aviso porém: pelo sim pelo não divulgue este resultado apenas às suas amigas mais chegadas, não vá despertar a cobiça alheia nos olhares mais invejosos.

17,5 a 20 valores

Se não rezou já a todos os santinhos a agradecer a sorte que teve então comece a fazê-lo!
Você não só tem um homem com cão quase perfeito, sólido do ponto de vista emocional, com carácter forte, que a adora, e que está disposto a viver para fazê-la feliz, como tudo isso vem ainda por cima embrulhado em papel George Clooney!

Uma ida a Fátima a pé não seria de todo despropositada.
Há porém um lado menos bom. Esqueça o euromilhões. Com tanta sorte no amor não vai ganhar 1€ que seja nos próximos anos.

Então do que está à espera? Comece a fazer as contas e descubra o que lhe saiu na rifa!

Se não gostou do resultado lembre-se que na quermesse as rifas nunca acabam e sai sempre prémio..

I'm (not) Happy!

Uma das coisas que mais vontade me dá de rir – e quando digo vontade de rir quero dizer rir como se não houvesse amanhã – são os temas especiais das revistas femininas.

Já sei o que estão a pensar e primeiro que tudo convém desde já desmistificar esta questão: sim, eu leio revistas femininas.

Melhor dizendo, eu TAMBÉM leio revistas femininas. Assim está melhor.

O também faz toda a diferença nesta frase, não só porque afasta quaisquer suspeitas que possam recair sobre mim no que toca à minha sexualidade (promove a ideia de que somos muitos a ler as revistas femininas, logo não podemos ser todos gay), mas também porque é um dado adquirido que em quase tudo o que são cabeleireiros, salas de espera, consultórios e gabinetes há sempre uma revista feminina com pelo menos um ou dois anos de idade, e com temas surpreendentemente actuais. Mais tarde ou mais cedo acabamos sempre por ler.

Vamos avançar com um exemplo, e para não ferir susceptibilidades achei por bem proceder a uma escolha completamente aleatória. Saiu a Happy!

Na capa de Março deste ano a Happy fazia alarde aos seguintes temas:

- Que idade tem a sua pele?

- Roteiro de Swing.

- Espíritos: fomos falar com eles!

Há 7 meses atrás, na edição de Agosto de 2008, a mesma Happy avançava com os seguintes temas:

- À procura do melhor hidratante: quando a pele pede água.

- Guião para se tornar uma dominadora: uma viagem alucinante ao mundo da dominação!

- Viagem aos seus outros “eus”: regressar à infância sem terapia.

Rapidamente concluimos que passados apenas 7 meses a Happy ainda continua a falar da sua pele, continua a vender sexo quase como se tivesse colocado um repórter infiltrado durante meses num qualquer sub-mundo fetichista e subversivo, (quando na verdade devem ter realizado uma pesquisa rápida na internet), e continua a explorar o seu lado mais esotérico, e se há 1 ano atrás prometia uma viagem à sua infância por apenas 1,50€ (preço em vigor em Agosto de 2008), há 4 meses atrás deram-se ao trabalho de entrevistar espíritos a um preço que nem o Prof. Karamba ou o Mestre Mambo conseguem superar.

Ora já é suficientemente mau que a Happy ocupe cerca de 60% do seu espaço gráfico com publicidade directa ou indirecta, mas é ainda pior quando os 40% destinados a conteúdos editoriais são ocupados com coisas tão credíveis como entrevistas a espíritos.

Não quero parecer mesquinho mas isto a mim soa-me a aldrabice.

Outra coisinha que causa alguma urticária é a escolha da modelo que habitualmente faz a capa das Happy. A este respeito tenho apenas uma pergunta a fazer: porque razão escolhem sempre modelos anoréticas, com aquele aspecto doentio de quem só comeu uma folha de alface e meio tomate nos últimos 5 dias?

Aqui as revistas masculinas ganham aos pontos. Na FHM ou na Maxmen por exemplo as modelos nas capas vendem saúde, e não têm aquele aspecto enfermo de quem está a precisar duma tosta mista e duma transfusão de sangue a qualquer momento.

Mas o problema não está na embalagem, está naturalmente nos conteúdos, o que nos remete para o primeiro parágrafo deste post, os temas especiais das revistas femininas:

Sara, 30 anos, casada e com um filho: venceu a hipocondria.

Mas quem é esta Sara? Não tem último nome?

Filipe, 32 anos, arquitecto: gosta de ser dominado pela mulher quando chega a casa.

Humm.. E não é isso que acontece a todos os homens quando chegam a casa do trabalho?

Mariana, 34 anos, gestora: gosta de usar pinças, chicotes e mordaças.

Reparem que as jornalistas da Happy nunca perguntam o 2º nome aos entrevistados. Dá aquela ideia de estarmos a falar com alguém que nos é próximo, quase família! Muito bem pensado!

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: gosta de passar uma semana na praia com o filho Miguel, e uma semana a divertir-se com os amigos fora do país.
Este testemunho é tão real mas tão real que parece ter saído do programa da Conceição Lino da SIC, o Nós Por Cá. Reparem nas semelhanças:

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: trabalha 9 horas por dia para ganhar 800€/mês e ao fim-de-semena vai com as amigas para Ibiza.

É no mínimo absurdo que a revista feminina que mais vende em Portugal esteja tão distanciada da nossa realidade, o que só vem provar que as pessoas gostam de sonhar com um estilo de vida que na realidade sabem que não vão ter em momento algum da sua vida.

Voltemos aos contéudos. Convencido de que também eu seria capaz de produzir conteúdos igualmente happy!, resolvi debruçar-me seriamente sobre o assunto. Propus-me então encontrar um daqueles temas especiais de capa, forte, apelativo e com uma aplicação prática no quotidiano das mulheres com gato.

Um artigo one-fit capaz de servir a todas as mulheres com gato. Acima de tudo algo credível. Bom, talvez não tanto como as entrevistas a espíritos, mas afinal eu também não trabalho na Happy!

Esta é portanto a minha sugestão para a capa da revista Happy do próximo mês de Agosto, e com isto pretendo provar duas coisas:

- não percebendo nada de revistas femininas, consigo fazer melhor que a Happy.

- tenho um jeito incrível para vender melões na recta do Porto Alto.

Ele é o homem certo para si? Descubra a resposta nesta edição!
Método revolucionário escolhido por juri científico.

Cá está. Não conheço mulher com gato capaz de resistir a uma capa destas, e estou certo que uma revista feminina com este tema na capa vendia mais que melões na recta do Porto Alto.

Esta é a minha sugestão, e a mulher com gato que nunca quis se o fulano tal é o homem certo, que atire o primeiro melão.

...

Bem me parecia.
post-scriptum acrescento só mais uma coisa: como sou dado a efemérides, 1 ano depois de comprar a revista Happy pela 1ª vez (em Agosto de 2008), resolvi fazê-lo novamente com a edição de Agosto de 2009. E 1 ano depois encontro exactamente o mesmo tema na capa (regressão), e as mesmas modelos anoréticas, pálidas e com ar doentio.
Ou muito me engano ou não tarda mesmo nada devem estar para rebentar mais entrevistas a espíritos..

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caglota, a segueia

16 de Julho. Chegou ao fim a primeira etapa do desenvolvimento académico do meu filho. Hoje cumpriu o seu primeiro objectivo, e com mérito: terminou a pré-primária.

Bem sei que a efeméride é de importância relativa para quem está de fora, mas para mim, um confesso pai babádo, hoje o Martim consolidou o primeiro alicerce daquilo que virá a ser enquanto homem, anos mais tarde.

A data foi devidamente assinalada com uma festa de finalistas no anfiteatro da escolinha.

Tudo corria dentro da normalidade quando o animador de serviço anunciou uma peça de teatro chamada Carlota, a sereia. Ajeitei-me um pouco melhor na cadeira – porque estas coisas dos miudos demoram sempre o seu tempo -, e fez-se silêncio na sala.

Três ou quatro minutos depois começo a ouvir a voz da narradora.

Caglota, a segueia..

Susti a respiração por breves instantes porque pareceu-me ter ouvido mal..

Ega uma vez uma segueia chamada Caglota..

Hummm.. Não, não ouvi mal. A narradora trocava os erres pelos guês. Será possível que ninguém tenha dado por isso no ensaio da peça? Aparentemente não porque a coisa continuou no mesmo guegisto, desculpem, registo.

Caglota vivia sozinha no mag, e estava tguiste pogque não tinha nenhum amigo paga bguincague..

Procuro mudar novamente de posição. Avizinha-se uma crise de urticária fulminante.

Um dia Caglota conheceu um pescadogue chamado Jeguemias..

Jeremias?! Mas será que não havia nenhum texto com mais “erres”?!

Apeguecebendo-se que Caglota estava tguiste, Jeguemias pegguntou a caglota se ela não queguia bguincague no bagco dele..

A nagadôga continuou neste registo durante toda a peça, o que naturalmente deu asas à minha imaginação prodigiosa.

Por exemplo, como seria viver um amor com uma pessoa assim? Sempre ouvi dizer que o amor não se procura, encontra-se. Então e se a senhoga dos guês me encontrasse? Como seria viver apaixonado por uma pessoa assim?

Teguêsa: Queguido, passas-me o entguecosto pogue favogue?

Eu: O entrecosto linda?

Teguêsa: Sim, o entguecosto..

Eu: Oh Teresa, diz comigo vá.. Entree...

Teguêsa: Entgueeee..

Eu: (... suspiro ...)

Teguêsa: Quegues mais sumo de laganja amogue?

Ahhhhhhhhhhhh! Não dá! Eu não sei se existem muitas mulheres com gato que troquem os erres pelos guês, mas se existem, essas à partida deixam de fazer parte da solução.

Este episodio insólito fez-me lembrar outros incidentes do género, por entre os muitos que vão decorando o meu álbum particular dedicado a encontros imediatos de 3º grau.

Assalta-me à memória um já antigo, com uma namorada do meu período pós-adolescente. Chamava-se Natacha e depois de algum tempo de troca de olhares e muito flirt, as coisas aqueceram numa saudosa noite de verão na Discoteca Seagull. Saudosa pela discoteca entenda-se, que explodiu em 1998 e com ela as recordações duma geração inteira, vaporizadas em segundos numa enorme bola de fogo.

Eu e a Natacha prosseguimos com o nosso affair, e pouco tempo depois calhou irmos até uma panificadora (ainda) muito afamada na zona, popularmente conhecida como bolos quentes. Provavelmente porque também vendem bolos, e porque estão quentes. Humm..

A Natacha teve então a infeliz ideia de pedir um palmier recheado. Infeliz porque entretanto começou a falar, do quê não me lembro bem mas lembro-me claramente de ver o palmier a revolver-se na boca dela dum lado para o outro. Blheeerk..

A história da Natacha terminou mais ou menos nesse momento, e durou pouco mais que o tempo de vida dum palmier.

O lado positivo da história: eu como de boca fechada, e não consigo afeiçoar-me a pessoas que comem de boca aberta. É um princípio elementar da educação.

O lado negativo da história: quando vou beber café com alguém tem de ser um café e um bolinho, não vá afeiçoar-me depressa demais à pessoa e ao bolinho.

Este episódio já tem uns aninhos largos, mas outro bastante mais recente promete ultrapassar os limites dos insólitos Yorn, onde tudo pode acontecer.

Conheci a Sofia pela net. Uma mulher moderna, culta, muito elegante, cuidada, e embora sofresse duma crise de auto-estima agudizada por uma relação recente menos conseguida, era uma pessoa que mantinha as suas prioridades bem presentes.

As coisas foram acontecendo de forma natural e numa certa ocasião aceitei o convite para um jantar chez-Sophie.

O facto de ser o primeiro jantar a sós conferia alguma formalidade ao acontecimento, que a própria Sofia nunca contrariou. Seria portanto um alegado – gosto muito desta palavra porque dá imenso jeito e alegadamente dá para usar em qualquer circunstância – jantar romântico.

Dizem os especialistas que 45% da primeira imagem que construimos de alguém vem apenas daquilo que conseguimos captar com os olhos. Ora, os 45% dessa primeira imagem foram dizimados por duas pantufas gigantes em forma de leão com pêlos até aos joelhos, e um deprimente robe numa côr indefinida entre o lilás e o violeta.

Jantamos bacalhau com natas, e a as pantufas eram de tal forma desproporcionadas que a ideia de colocar uma tijelinha no chão para alimentar as duas feras, na altura pareceu-me fazer todo o sentido.

Não me recordo do que falamos. Confesso que entrei naquele estado Charlie Brown em que já não ouvimos mais nada, só os monosílabos da professora uô uuô.. uô uô uô..

Ali estava eu aprumado com rigor e carinho, a dar o melhor de mim para duas feras de pêlo farfalhudo ao melhor estilo dos marretas, enrolados num robe que podia ter saído do guarda-roupa da minha falecida avó.

Escusado será dizer que as pantufas tiveram o mesmo desfecho que o palmier.

Posto isto pergunto-me, caramba, será assim tão difícil encontrar a peça que falta?

O palmier, as pantufas, os guês, e todos os epifenómenos ao melhor estilo da Quinta Dimensão que foram acontecendo comigo até aqui, pergunto-me, será que nesta história não serei eu o visitante do espaço?

Se calhar estacionei a minha nave espacial em 2ª fila numa qualquer rua de Lisboa, e foi rebocada pelo pessoal da EMEL. É isso.

Começo a questionar-me se toda esta história dos erres pelos guês não será no fundo uma grande metáfora da minha vida recente. Uma epifânia iluminada na forma duma narradora disléxica!

E se for eu o elemento estranho no meio de tudo isto? E se for eu o érre que não se adapta num mundo de guês?

Eu: Peço desculpa, mas têm horas que me digam?

Senhoga 1: São quatgo e tguinta e tguês..

Eu: Ah! Obrigado!

...

Senhoga 2: Guepagaste? Este tgoca os “guês” pelos “erres”..

Senhoga 1: Guepaguei! Que cgomo! (risos)