segunda-feira, 30 de março de 2009

Nós e os Carros - Parte II

Conhecer o homem com cão passa primeiro que tudo por conhecer o seu carro. Existem excepções obviamente, mas duma forma mais alargada é possível arrumar a generalidade dos homens com cão em determinadas categorias, mais ou menos abrangentes, em função do tipo de carro que conduzem.

Gostaria no entanto de sublinhar com veemência que o exercício seguinte não pretende sugerir que as mulheres com gato escolhem o homem com cão em função do carro, embora conheça pessoalmente alguns casos em que este é o modus operandi predilecto desta fauna mais predadora. Medooooo.

Outro assunto para outro post.

Também não é líquido que todos os homens com cão se revejam neste exercício, mas penso que a generalidade dos leitores conseguirá encontrar alguns pontos em comum.

A menos que importe um DÁCIA construído na Roménia para fingir que tem um carro, dificilmente conseguirá comprar um carro novo em Portugal por menos de 10.000€.

Da mesma forma, e a menos que acerte no euromilhões na próxima 6ª Feira, dificilmente poderá gastar mais de 60.000€ num carro novo nesta vida, portanto centremo-nos no intervalo entre os 10 e os 60.000€.

UTILITÁRIOS
Em tempos de crise os utilitários proliferam a olhos vistos.

Com preços de entrada a partir dos 12.000€ os pequenos citadinos são carros despretenciosos, compactos, económicos e funcionais. Exactamente como os seus donos.

O homem com cão dum Ford Fiesta, dum Suzuki Swift ou dum Mazda 2 é acima de tudo um homem prático, moderno, descomplexado e com uma forma de viver a vida 100% cool.

Sabe que dificilmente irá impressionar alguém com o seu pequeno carro, por isso contrapõe com um sentido de humor inteligente e muito jogo de cintura.

Não podendo investir muito no carro, investe em si próprio. Faz sentido.

Há no entanto um senão.

Este é também um carro muito procurado pelos recém-encartados, e há uma forte possibilidade deste homem com cão jogar afinal na Selecção Nacional de sub-21. Se assim for prepare-se para levar o miudo ao McDonalds, e peça a saladinha Caesar se quiser manter a linha.

MINI COOPER, FIAT 500, ALFA ROMEU MITO
3 ícones da indústria automóvel.

Pessoalmente confesso-me um apaixonado à primeira vista pelo Fiat toppolino, mas não posso ficar indiferente ao design arrebatador do Alfa, nem às performances do Mini.

Estes são 3 carros para o homem com cão que sabe o que quer, e que pede as coisas pelo nome. Este homem com cão nunca irá pedir um whisky cola por exemplo, mas sim um Famous Grouse cola, ou puro só com gelo.

Trata-se dum homem moderno, com um look urbano muito trendy e de extremo bom gosto. Veste-se bem e é um conhecedor das coisas boas da vida.

Mas também aqui ha um senão.

Estes são reconhecidamente 3 carros de solteiros, e se ao fim de 5 anos de namoro a opção recair no Mini, no Fiat 500 ou no Mito, então prepare-se para mais 5 anos de chove não molha. Este homem com cão não vai entregar a sua liberdade de mão beijada, pelo menos não enquanto tiver o Mini, o Toppolino ou o Mito.

Infelizmente com um carro tão pequeno você também tem a certeza de que o fulano não faz surf, não tem aquele tom de pele que até enerva de tão bom que é, e não tem os abdominais do Cristiano Ronaldo. Uma desvantagem sem dúvida...

SAAB 9.3 SPORT HATCH ou VOLVO V70
É um cliché dizer-se que os carros suecos são os carros dos tios, mas isso continua a ser uma verdade insofismável.

Quem opta por gastar no mínimo 45.000€ com uma carrinha SAAB ou VOLVO, fá-lo conscientemente sabendo que os mesmos 45.000€ - mais coisa menos coisa - pagavam um AUDI A4 ou um BMW SERIE 3.

Homem com cão que se apresente ao volante duma carrinha sueca não quer ser confundido com os outros.

Pode ter menos potência debaixo do pé direito, menos valor de mercado na hora da retoma, e mais dificuldades de assistência, mas o prazer de guiar um carro discreto, elegante e com personalidade faz deste homem e do seu canídeo um exemplo de bom gosto, e mostra simultaneamente que é uma pessoa preocupada com a sua segurança, e com a segurança de quem vai a bordo. E essa pessoa pode muito bem ser você.

O problema dos homens com cão que têm VOLVOS ou SAABS, é que na maior parte das vezes são engomadinhos demais.

Aquela camisinha impecavelmente passada a ferro, as calças sem um único vinco, o cabelinho penteado para o lado, e a roupa clássica em perfeito Pandam com o cinto de fivela dourada e os sapatinhos de vela (ergh), tudo aquilo irrita profundamente e só apetece é encher o sujeito de estalada quando nos vem falar das suas últimas férias na América do Sul.


AUDI A4, BMW SERIE 3 e MERCEDES CLASSE C
É o Portugal dos pequeninos no seu melhor. No sector médio-alto estes são os carros que representam a maior fatia de vendas no nosso país, o que dá que pensar quando por todo o lado se fala da crise e do poder de compra cada vez menor dos portugueses.

Escolher um homem com cão que tenha um destes 3 carros é sempre um risco tripartido. Pode ter a sorte de ser uma excelente pessoa que gosta do rigor dos carros alemães, mas pode também ser um daqueles cagões que atira as chaves do carrinho para cima da mesa e que não permite que você coma sequer uma pastilha elástica dentro do carro.
Ou, pior que isso, pode ser um construtor civil de 3ª categoria se for para o Mercedes.

Medo. Muito meeeedooooooo...

BMW X3, VOLVO X70 ou MERCEDES ML
Subimos um degrau e mais 10.000€ em relação aos modelos anteriores, e encontramos o homem com cão que gosta de SUV’s – Sports Utility Veichles.

Se por acaso tem fobia a lama e areia fique a saber que este carro não é um jipe, e como tal não terá de preocupar-se em trocar os seus sapatinhos envernizados da ALDO pelo par de ténis para passear ao fim-de-semana.

Bonitos, caros e muito fashion para os padrões actuais, estes carros fazem-se pagar e normalmente acompaham um estilo de vida que já inclui pequenos luxos como uma casa na praia, um monte no alentejo, ou uma vivenda com garagem para guardar a moto de água.

Mas atenção, se o carro vier com uma cadeirinha no banco de trás o mais certo é ser casado e a outra mulher com gato não vai abdicar de tudo isso assim sem mais nem menos. Se quiser ir para a frente mesmo com a cadeirinha, espere uma luta até à morte.

PORSCHE BOXSTER, AUDI TT e MERCEDES SLK
Nesta categoria há que diferenciar dois tipos diferentes de homens com cão: os que compram estes carros novos, e os que andam com modelos de 1999.

No primeiro caso (carros novos) nunca escolha o fulano do Porsche. Porquê?

Um homem com cão que tenha dinheiro para comprar um Boxster novo significa duas coisas: tem mais de 60.000€ na conta o que é bom, mas também significa que não teve dinheiro para chegar ao CAYMAN, o modelo a seguir na hierarquia da Porsche, esse sim um verdadeiro desportivo com preços a começarem nos 75.000€.

O fulano do Boxster é um eterno insatisfeito. É um Porsche, mas é o Porsche dos pobres. Descarte-o com a mesma facilidade que descartou o seu último namorado, depois de o apanhar na cama com a sua ex-melhor amiga.

Do lado oposto estão os fulanitos que se passeiam com os modelos de 1900 e troca o passo. É o pior que há. Fuja destes meninos como o diabo foge da cruz. São na sua maior parte uns perfeitos asnos, mas estão convencidíssimos que são a última bolachinha do pacote, e não vão hesitar em trocá-la por um “modelo” mais recente e bem equipado. Lembre-se que estes carros são de 2 lugares e só há um residente, o condutor.

Nem tudo é mau. Homens com cão ao volante dum AUDI TT ou dum MERCEDES SLK novos são um exemplo de bom gosto. Confiantes, serenos e muito seguros de si estes homens com cão sabem bem o que querem, e apreciam as coisas boas da vida com discrição e savoir faire. São sem dúvida uma boa escolha.

Há apenas um senão, sem bancos traseiros e espaço para os miudos nenhum destes homens com cão está a pensar em crianças num futuro imediato.

Obviamente que muitas outras categorias podiam ser para aqui chamadas, mas estas – penso eu – são já bastante representativas.

Escolher um carro é no fundo como escolher um homem. A decisão é emocional e no fim levamos quase sempre o mais giro e bem equipado, excepção feita aos homens com cão que são obrigados a escolher um Ford Fiesta, e às mulheres com gato que são obrigadas a escolher o tipo do Ford Fiesta.

E ainda dizem que o amor é lindo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Nós e os Carros - Parte I


A pergunta é de resposta simples, previsível e consensual:

Qual é no universo conhecido do Homem, o nosso maior motivo de adoração? Aquilo a que dedicamos mais atenção na hora da escolha, tratamos com mais estima durante toda a vida, e que recordamos com a mesma paixão passados 20 ou 30 anos depois do primeiro encontro?

Se respondeu “a mulher” fique a saber que não acertou, mas leva para casa o prémio de consolação porque essa deveria ser de facto a resposta certa.

Deveria. Conjugação do verbo “dever” na 3ª pessoa do singular, no futuro do pretérito indicativo... Deveriaaaaa!


3. Nós e os Carros.
Lembro-me perfeitamente do meu primeiro carro. Um Citröen Visa Platine de 1984 que tinha pertencido ao meu pai, e que em 1991 veio parar às minhas mãos com pouquíssimos kms.
Era um carro lindíssimo e muito raro na altura.

Tratava-se duma série especial limitada a 2000 unidades no mundo inteiro. Equipada com estofos num tecido xadrez antracite, este modelo contava ainda com uma pintura exclusiva num cinzento escuro metalizado, spoiller traseiro, rádio com K7 e jantes de liga leve. Um mimo portanto.

E foi com este carro que vivi a minha adolescência, com amigos que ficaram e outros que partiram.

Lembro-me de passar tardes inteiras em casa a gravar as minhas k7’s Extra-Ferro da Maxwell, e preparar meticulosamente a banda sonora de cada viagem, por mais curta que fosse. E não era só uma k7 com música. Era a minha música para ouvir no meu carro.

“Loosing my Religion”, dos R.E.M. era um dos meus temas favoritos e quase sempre tinha direito a repetição no lado B da k7, juntamente com o “unbelievable” dos EMF, o vibrante “I’ve been thinking about you” dos London Beat, o “Joyride” dos Roxette, e o “Cream” do Prince.

Para alturas especiais tinha uma k7 humm... diferente. Lembro-me do sugestivo rótulo escrito a vermelho usar só em caso de emergência, uma completa geekice da minha parte confesso, aprimorada com temas de fazer chorar as pedras da calçada como “Everything I do” do Bryan Adams, ou o “Rush Rush” da Paula Abdul.

Escusado será dizer que nunca me safei à conta dessa k7, mas dava-me ânimo saber que o meu carro estava preparado para qualquer eventualidade.

Esta foi a banda sonora de 1991, o meu primeiro ano de carta com o Visa Platine, por sinal o meu primeiro carro.

Vista duma forma desapaixonada, a relação de cumplicidade que um homem com cão consegue desenvolver com o seu carro é no mínimo absurda, especialmente para as mulheres com gato acostumadas que estão a entenderem o carro apenas como um meio de transporte, capaz de levá-las do ponto A ao ponto B o mais depressa possível.

Com os homens isso não é assim.

Para nós homens o carro é um novo membro da família, e é nosso por direito! Aliás, o carro está para os homens com gato como o poder régio estava para as monarquias: é um direito consagrado pela Igreja, e quem disser o contrário pode sempre ir aquecer os pezinhos na fogueira mais próxima.

Pessoalmente a ideia faz-me alguma confusão, mas a verdade é que o carro continua a ser um feudo dos homens com cão.
Quantas vezes deparamo-nos com a imagem do “Xô Silva” a passear com a sua esposa ao lado, e com os pirralhos lá atrás?
Aos Domingos então, uiii! Lá vai o “Xô Silva” aos comandos do “seu” carro, de braço esticado e de ar emproado, a ocupar duas faixas de rodagem, e a andar bem devagarinhooo como um caracol ferido de morte a tentar subir um eucalípto.

Confessem, assim de repente não dá uma certa vontade de arranjar um rolo compressor?

Depois há aqueles que fazem tudo isto mas com um bónus delicioso: ligam o sistema de navegação para a habitual voltinha na avenida, talvez com receio de se perderem a caminho do café. Rolo compressor, parte II...

Para a maior parte dos homens com cão conduzir um carro é um exercício de poder. Reforça a nossa condição de machos, e se há milhares de anos atrás o tipo com a moca maior ditava a sua lei, agora a hierarquia social é definida em função da marca, do tamanho e do preço do carro.

Um exemplo concreto: um homem com cão que se exiba em plena avenida numa tarde domingueira ao volante do seu Mercedes Classe E impecavelmente limpo, não está só a passear. Está a marcar território como se andasse a fazer xixi atrás de cada árvore, e quanto mais caro for o carro maior é o rasto.

Lá do alto do seu trono este senhor da estrada olha com desdém para os seus semelhantes. Pode até ser um autêntico coninhas fora do carro, mas atrás do volante o comando é meo, e não há homem e carro que lhe meta medo.

A este propósito, foi recentemente tornada pública uma investigação levada a cabo pela Universidade de Wales, em Cardiff, no Reino Unido.
Os investigadores concluiram que homens com carros mais caros têm mais possibilidades de seduzir uma mulher. A ideia pode parecer absurda mas o método utilizado foi até bastante simples.

Neste estudo um grupo indiferenciado de mulheres foi confrontado com duas fotografias. Na primeira um homem posava junto a um Bentley Continental, ao passo que na segunda foto outro homem posava junto a um Ford Fiesta.

Depois foi pedido a cada mulher que descrevesse os dois homens, e os resultados foram conclusivos. A maior parte das mulheres avaliou com maior precisão o homem que posava junto do Bentley.

Este estudo foi publicado na edição de Março do Jornal Britânico de Psicologia, e no mesmo estudo o pesquisador Michael Dunn concluiu que os homens testados não repararam nos carros (Bentley e Ford Fiesta), mas sim nos traços físicos das mulheres.

O endeusamento de toda esta questão em redor dos carros pode parecer excessiva, mas a verdade é que estudos como este não auguram nada de bom para homens com cão que andem por aí com um Ford Fiesta. Então o que dizer de tipos como eu com um Fiat Uno de 1992...

É por essa razão que escolher um carro novo é um processo tão complicado. Perdemos dias a discutir a cor dos frisos, o padrão do tecido dos bancos, a cor da carroceria (que é quase sempre cinza metalizado), devoramos informação e comparamos resultados nas publicações especializadas, não porque isso faça alguma diferença mas porque temos de estar preparados para explicar porque razão o carro de fulano tal é pior que o nosso.

E quando no calor da luta faltarem os argumentos, temos sempre a nossa arma secreta: as minhas jantes são muito mais bonitas que as tuas. O carro pode ser uma merdinha, mas que ninguém se atreva a falar mal das nossas jantes de liga leve!

Pior ainda que as jantes é a paranóia colectiva em redor dos faróis de nevoeiro, num país que raramente tem nevoeiro.
Pergunto-me se isto não serão traumas de 1578 quando o D. Sebastião desapareceu no meio do nevoeiro:

Escudeiro 1: Mennn... O Sebas desapareceu no meio da névoa!
Escudeiro 2: Altameeeeentee! Lá se foi a segunda Dinastia meeennn!
Escudeiro 1: Mennn... Deviamos ter montado faróis de nevoeiro no cavalo do Rei!

Tenho quase a certeza que foi nessa altura que começou a discutir-se esta problemática dos faróis de nevoeiro em Portugal.

Com ou sem faróis de nevoeiro, com ou sem jantes de liga leve, um carro dum gajo é sempre o “seu” carro, e é com ele que vamos para a estrada enfrentar todos os outros homens com cão cá do burgo. A competição é feroz e o maior vence quase sempre.

Sofremos duma obsessão colectiva em redor do tamanho e da quantidade.
Mais é sempre melhor. Um exemplo concreto:

Indeciso entre dois restaurantes – o restaurante A com a esplanada vazia e o restaurante B com fila de espera e esplanada cheia -, o hábil homem com cão prefere ir para a fila e esperar 20 minutos por uma mesa no restaurante B, mais 20 minutos para ser atendido e ainda mais 40 minutos para ser mal servido, a sentar-se sozinho na esplanada vazia do restaurante A, mesmo que esse restaurante tenha uma estrela do Guia Michelin.

E porquê? “Mais é sempre melhor”, e se ali estava cheio é porque a comida é boa.

Nos carros o processo é idêntido. O “sonho” do português médio é ter um BMW ou um AUDI familiares, e de preferência cinza metalizados. Esta é uma combinação particularmente atractiva para o homem com cão português, juntar a cor mais escolhida em Portugal com os modelos que mais vendem no nosso país.
Mais é sempre melhor, mesmo quando tudo parece indicar que afinal... ergh.. não é!

Amigo 1: Ehpa já viste o anúncio do novo OPEL INSIGNIA?
Amigo 2: ‘Tá lá calado! Já vi! Está espectacular! E diz que o carro é bom pah!
Amigo 1: Pois deve ser. Foi carro do ano em 2009.
Amigo 2: Pois, diz que foi.
Amigo 1: E diz que teve 5 estrelas lá nos testes de segurança da NACAP, ou da CNAP ou lá o que é...

(EURO NCAP: European New Car Assessment Programme)

Amigo 2: É diz que sim...
Amigo 1: 5 estrelas é muita fruta pah.
Amigo 2: Pois é. É mais que 4!
Amigo 1: À vontade!

(pausa)

Amigo 1: Ehpa e diz que é 10.000€ mais barato que um BM ou um AUDI!
Amigo 2: Por acaso o carrinho está espectacular...
Amigo 1: Já viste o equipamento daquilo?
Amigo 2: Ehpa diz que vem com tudo não é?
Amigo 1: Tem até uma cena que lê a estrada pah!
Amigo 2: Pois é! Mas como é que aquilo funciona?!
Amigo 1: Ehpa então como é que funciona? É uma cena que consegue ler a estrada!
Amigo 2: Fogo! Espectacular!
(pausa)

Amigo 1: E tu já decidiste que carro é que “vais buscar” afinal?
Amigo 2: Já está encomendado pah!
Amigo 1: Naaaaa?!
Amigo 2: Yaaa! “Fui buscar” um AUDI A4 de 2007, com 80.000 kms, cinza metalizado com umas jantes de liga leve e uns faróis de nevoeiro que até te passas puto!

Perante esta ordem estupidológica reinante, não consigo deixar de pensar no trabalho e nos milhões de dólares que devem ter custado à General Motors construir este novo carro, aclamado pela crítica em todo o mundo menos pelos portugueses.

Aqui não interessa para nada se o carro do ano é um OPEL, ou se o C5 bateu aos pontos o A4 ou o BMW 320, por ser melhor, mais bem equipado, por ter a maior garantia e por serem ambos 10.000€ mais baratos que os modelos alemães.

How can that be?” perguntam os lívidos norte-americanos da GM, estarrecidos pela indiferença do mercado nacional perante o seu novo produto.

Bem, há um factor concorrencial que a GM certamente não observou no estudo de mercado global que antecedeu a construção do novo OPEL. É uma coisa só nossa, e talvez por isso tenha passado despercebida.

Nós adoramos medir pilas em plena rodovia, e a verdade é que um OPEL está para o mundo automóvel como 12 cms estão para uma noite de núpcias. Não se nota no ir e vir.

A ideia pode parecer redutora mas nós homens medimos tudo com a fita métrica, e nos carros como no sexo, o maior, o mais potente, o mais bem equipado e performante vence quase sempre por knock out.

E é a pensar nessa guerra da “minha pila é maior que a tua” que passamos os fins-de-semana a lavar o carrinho à mão para não ficar riscado, e passamos a camurça para o calcário da água não manchar a pintura.

É por isso também que andamos sempre com aqueles toalhetes de limpeza para hidratar o tabelier, e sacudimos os tapetes gentilmente para não coçar o pêlo.

No fundo, é por isso que fazemos dum carro um assunto tão sério, e, ou muito me engano, ou vai ser também por isso que a OPEL não vai vender muitos INSIGNIAS em Portugal.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Nós e a Bola



Qualquer mulher com gato que já tenha vivido, namorado, ou partilhado algo mais do que apenas um, ou vários orgasmos – fingidos ou não isso não interessa para nada -, com um homem com cão, sabe que existe um programinha particularmente irritante quando o dito homem e o seu canídeo resolvem juntar-se à manada dominante.

Normalmente ocupa grande parte do dia, ou da noite – quando não o dia todo mesmo -, envolve uma abstração total de tudo o resto porque nesse dia só aquilo importa, provoca mudanças de humor frequentes que se manifestam de forma patológica muito depois de ter terminado, e é uma das coisas que qualquer homem com cão mais aprecia fazer com a sua manada, por oposição a ficar em casa enroscadinho na mulher e no gato!

Falo, claro está, do jogo da bola!

2. Nós e a Bola.
Primeiro que tudo confesso-me um irredutível Benfiquista.
Sócio 134411, um entre muitos no universo de maior dimensão clubística em Portugal, logo a seguir ao ACP.

Aceito o fanatismo desmedido com que me entrego a um qualquer jogo do Sport Lisboa e Benfica. Nem que seja o Torneio do Guadiana. É mais forte do que eu. Diz a ciência que quando estamos apaixonados a parte do nosso cérebro que permite o pensamento crítico desliga. Está explicado o amor pelo meu clube.

O jogo pode ser um Benfica – Naval 1º de Maio, e pode até nem decidir o que quer que seja, mas quando ainda sonhamos com o campeonato a paixão que nos move consome tudo à sua passagem, tolda-nos a razão e alimenta a nossa fé, levando dezenas de milhar em peregrinação até à Catedral do futebol português: O Estádio da Luz.

E agora vá-se lá explicar isto a uma mulher com gato que não gosta de futebol, ou, pior ainda, a uma zbordinguista? Não dá!

Um jogo do Glorioso não se resume aos 90 minutos da partida.

Começa muito antes, no início da semana, alimentando páginas e páginas de jornais e conversas de café pelo país inteiro. Torna-se uma presença constante, e vai reclamando para si cada vez mais atenção à medida que se aproxima a hora do apito inicial.

Discutem-se virtudes e pontos fracos dos adversários, as ausências por lesão ou castigo, o momento que nunca é o ideal para jogar esta partida, o estado de espírito do balneário como se nós próprios estivessemos lá dentro, a táctica do Quique que é sempre pior que a nossa, e o árbitro nomeado que por sinal já roubou o Benfica num jogo qualquer com o Farense em 1991. Simmmm, porque nós não esquecemos.

E se tudo isto já provoca alguma perplexidade entre as mulheres com gato que nunca trocariam uma tarde no shopping por um jogo de bola, o que dizer então do ambiente que rodeia a Catedral num dia de futebol!

O caos total no trânsito, as filas intermináveis, o ruído da multidão, as barraquinhas de venda ambulante completamente cheias, as minis geladas e as bifanas a pingarem gordura, os últimos prognósticos feitos em voz alta antes de sermos engolidos pela turba pintada de vermelho que se precipita para o interior do Estádio minutos antes do pontapé de saída.

Este cenário não é de todo território virgem para a maior parte das mulheres com gato, habituadas há muito ao mesmo trânsito e a filas igualmente intermináveis na abertura da época oficial de saldos.

Quanto ao ruído, arrisco-me a dizer que nada se compara ao primeiro dia das concorridas rebajas, e para as barraquinhas de venda ambulante facilmente encontramos paralelo nas lojas repletas de gente, onde no meio do caos reinante se ergue uma estranha ordem semelhante ao padrão utilizado pelas formigas! Quem sai da loja dá sempre prioridade a quem entra, e por mais carregadas de sacos que estejam, as mulheres com gato nunca chocam entre si.

As disparidades ganham outra consistência quando chegamos à parte das minis geladas e das bifanas a pingarem gordura. É um traço de vulgaridade comum a todos os homens com cão que vão à bola, e que as mulheres com gato simplesmente não compreendem.

Mas o que choca verdadeiramente a maior parte das mulheres com gato – há excepções – é a consciência de que afinal o “seu” homem com cão, por mais refinado e bem ensinado que esteja, tem no sangue os mesmos genes de taberneiro que todos os outros têm e que ela não escolheu!

Somos afinal capazes de rir em barda com a boca cheia e com uma mini na mão.
Somos igualmente capazes de falar em voz alta enquanto comemos, e falamos uns com os outros mesmo com aqueles que não conhecemos, só porque estão ao nosso lado na barraquinha das bifanas.
Somos ainda capazes de começar uma frase por “fod#-se” e terminar a mesma frase por “car#lho”, para espanto da nossa mulher com gato que nunca nos ouviu dizer tal coisa a vida inteira.
E se for preciso somos até bem capazes de coçar as partes íntimas articulando gestos dignos dum qualquer primata, em plena fila para aceder ao recinto desportivo.

E é isto que as mulheres com gato abominam! Constatar afinal que o “seu” príncipe encantado – para quem o tem - não é mais do que um saguim aos pulos num zoo ruidoso, à espera que lhe atirem uns amendoins torrados na forma de golos na baliza adversária.

Depois, mesmo as mulheres que gostam de futebol têm dificuldades em lidar com este tipo de manifestações sociais mais.. ergh.. prosaicas.

A este propósito recordo-me duma ocasião em que resolvi convidar uma amiga com gato para acompanhar-me a um jogo do Benfica.
Como essa amiga até simpatizava com o Benfica, e nunca tinha entrado no Estádio da Luz, achei que seria uma boa ideia convidá-la para um programa.. humm.. diferente.

As coisas começaram logo a correr terrivelmente mal quando vi a indumentária escolhida para o jogo.. Calças de ganga dois números abaixo, sandálias de salto alto vermelhos tchanaan!, e um top branco com armação extremamente decotado, bem preenchido e capaz de se fazer notar em qualquer ponto do 3º anel do Estádio da Luz.

Claro que a menina estava em pandam total com a ocasião, mas ir assim para o meio de 50.000 gajos com os genes de taberneiro a reclamarem posição na cadeia de ADN não me parece uma ideia brilhaaaante!

Por sorte consegui convites para o Balcão 1, imediatamente abaixo dos camarotes e muito perto da Tribuna Presidencial, ou seja, longe dos saguins.
Ainda assim foi difícil evitar olhares mais indiscretos, já para não falar dos comentários assassinos que a menina deve ter motivado junto das mulheres com gato circundantes, claramente com menos pandam.

Com o jogo já a decorrer a primeira dificuldade foi explicar porque razão os vermelhos não eram o Benfica que, afinal, equipava de branco... Isto ocupou-nos largos minutos.

Aquirido que estava o conceito de 2º equipamento, foi necessário explicar porque razão é que o Benfica atacava para tão longe dos nossos lugares, o que por incrível que possa parecer, não fez sentido nenhum à menina! Mais alguns minutos em redor desta questão...

Depois toda aquela situação pantanosa das faltas foi um pouco difícil de explicar, e com isto chegamos ao intervalo. Zero-zero no marcador.
Sempre muito solícito pergunto-lhe se quer alguma coisa para comer...

Eu: Olha vou ao bar! Queres alguma coisa para comer?
Ela: Humm.. Não sei.. Olha achas que pode ser uma salada e uma água? Está tanto calor...

Uma salada... No Estádio da Luz... Hummmm...

Eu: Ergh... Eu vou ver...

Claro que eu sabia que não havia salada nenhuma...

Eu: Olhe desculpe tem por aí alface e tomate?
Senhor: Alface e tomate?
Eu: Sim, alface e tomate... É a minha mãezinha sabe. Ela só pode comer verduras.
Senhor: Olhe a minha sogra está na mesma!
Eu: Sério?
Senhor: ‘Tou-lhe a dizer a verdade! Diz que é qualquer coisa do “indestino”!
Eu: Ahhh.. Pois.. É capaz sim.. Então tem alface e tomate que me arranje?
Senhor: Mas também deixe estar que aquilo nem a morte quer levar!
Eu: ......
Senhor: É uma ruindade aquela mulher!
Eu: ......
Senhor: Também a filha tem a quem sair porra!
Eu: Ergh..
Senhor: Ainda por cima é do Sporting!
Eu: Olhe! E a alface?
Senhor: Ao menos aqui ‘tou sossegado! Pior é o nosso Benfica.. Este Quique...
Eu: É preciso calma.. O homem tem valor! Olhe e a Alface?
Senhor: Não tenho, mas posso vender-lhe uma sande de carne assada e você tira a alface e o tomate...
Eu: Eu queria mesmo era a alface e o tomate só. Não pode vender-me só isso?
Senhor: Posso, mas leva a sande e a carne assada à mesma!

É este tipo de constrangimentos que uma mulher com gato nos coloca!
No final e depois dum frustrante 0-0, ainda tive de digerir um extasiante olha o Benfica não ganhou mas tinha o equipamento mais fashion lol!

Claro que também existem muitas mulheres com gato que gostam e percebem de futebol.
Eu próprio conheço várias, e que certamente não dariam parte fraca em qualquer uma das etapas que constituem no fundo o ritual do jogo da bola, especialmente na barraquinha das bifanas.

Confesso que eu sou do tipo de homem com cão que substitui a mini gelada pelo sumol de ananás, e já aconteceu sentir a reprovação dos meus pares em plena barraquinha das bifanas! Regra geral, costuma ser o senhor das bifanas a dar o mote com qualquer coisa do género Sumol de Ananás?! Se quiser um copinho de leite também se arranja! seguido duma risada geral nas 3 ou 4 barraquinhas mais próximas.

Ora, há muitas mulheres com gato que vão literalmente a jogo e partem a louça toda, sem perderem o que têmde mais feminino. Eu acho isto tremendamente sexy já agora, mas só se for uma mulher com gato do Benfica! Se for simpatizante de outro clube qualquer é literalmente um pesadelo!

Um gajo aguenta tudo, menos ver-se batido em argumentos por uma mulher com gato sexy que perceba de futebol.

É por estas e por outras que nós e a bola continua a ser uma coisa só de gajos, como as minis geladas, o sumol de ananás, e as bifanas a pingarem gordura, sem alface e concerteza sem tomate.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Nós, os Gajos


Ao contrário do que a imagem possa sugerir, não vamos passar os próximos minutos a falar do Tony Soprano, mas sim de um dos mais temíveis concorrentes – senão mesmo o maior rival – de todas as mulheres com gato.

Aliás o presente post inaugura uma trilogia completamente dedicada aos homens com cão, ao longo da qual proponho-me revelar os meandros das 3 maiores instituições que sustentam a nossa própria existência enquanto.. ergh.. homens!

Se isto não é colocar a fasquia alta de mais, então eu vou ali e já venho!

Com isto espero igualmente silenciar as vozes mais críticas que se ergueram ao longo dos restantes posts, encabeçadas por mulheres com gato descontentes pela forma sexista com que os diferentes temas foram sendo abordados.

1. Nós, os Gajos.

É seguramente um dos maiores adversários de qualquer mulher com gato que pretenda consolidar uma relação LP (longo prazo) com um qualquer homem com cão.
É inevitável como o destino, omnipresente, indissolúvel, insubstituível, inexorável, hermético, e para a maior parte das mulheres com gato absolutamente inintelegível.
Ou seja, é uma perfeita estupidez!

Falo claro está do único reduto que nem o casamento consegue fazer tremer, o grupinho de amigos dos homens com cão.

Desde os primórdios da Humanidade que o homem aprendeu a unir-se em redor dos seus semelhantes, em grupos cooperantes alicerçados em relações de dependência e confiança mútua.
Inicialmente motivado pela necessidade de sobreviver, o homem com cão de há 150.000 anos atrás não podia comprar as convenientes embalagens de frango no Modelo, nem tinha cartões de descontos do Feira Nova.


Ao invés estava no fundo da cadeia alimentar e quando não servia de aperitivo para os tigres dentes-de-sabre, era frequentemente espezinhado pelas manadas de mamutes que fugiam em debandada dos tigres dentes-de-sabre.

Pequenino mas astuto o homo sapiens organizou-se em complexas redes sociais. Foi nesta altura que surgiram os primeiros princípios de família e comunidade organizada. Os homens com cão de há 150.000 anos atrás foram os primeiros a entender o mundo como um projecto comum e não individual, e desde então não mais deixaram de partilhar valores, crenças e normas sociais.

Tudo isto para dizer que nós os gajos já andamos nisto dos grupinhos de amigos há muuuuito tempo!

A necessidade de nos estabelecermos em manada vem portanto de longe, e essa herança cultural nunca será apagada do nosso código genético.
Por muito que custe, a verdade é que TODAS as mulheres com gato serão episodicamente trocadas pela manada num determinado ponto da relação. Pode ser mais cedo, pode ser mais tarde, mas é certinho como o destino.

Por muito que o vosso homem com cão – se for o caso – goste do sofá, dos mimos, de passear de mão dada na praia, de carregar os sacos das compras, e de ir ver livros à FNAC, a verdade é que até estes mais dia menos dia vão sair-se com o hoje não dá bebé, vou sair com o pessoal.

Ah pois é bébé!

E não vale a pena pensar que ele vai levá-la consigo. Desengane-se. Isso nunca irá acontecer. Neste tipo de grupinhos meninas não entram. Vocês têm o dia 8 de Março e nós temos... Bem, nós temos o ano inteiro basicamente!

Há apenas uma hipótese remota duma mulher com gato ser pontualmente aceite – repito, pontualmente aceite, ao contrário de aceite e ponto final -, mas as possibilidades são de tal forma diminutas que é mais provável ganhar o euromilhões duas vezes na mesma vida, a alguma vez vir a fazer parte duma genuína manada de gajos.

Para que se compreenda a complexidade deste assunto, deixo apenas alguns dos items que constam da larga lista de condições sine qua non que actualmente regulam universalmente a admissão de mulheres com gatos nos grupinhos de amigos:

- tem que ser muito gira.
- tem que ser muito boa.
- tem que ser muito gira e muito boa.
- tem que ter um belo par de mamas e uma paixão desmedida por decotes.
- tem que ter um namorado que não seja ciumento.
- tem que ser vista pelos outros elementos como uma maninha, apesar de ser muito gira, muito boa e de ter um belo par de mamas.
- tem que gostar de futebol e de F1.
- tem que perceber de futebol e de F1.
- tem que fingir que não percebe de futebol e de F1.
- tem que dizer palavrões, sobretudo durante o jogo de futebol.
- na F1 nunca se dizem palavrões.
- tem de gostar de cerveja, sobretudo durante o jogo de futebol e quando não está a dizer palavrões.
- tem de saber conversar como um gajo e ser feminina ao mesmo tempo.
- ajuda muito se disser que gostava de fazer um trio com o seu namorado e outra amiga.

E mesmo assim, haverão sempre situações em que a menina não entra mesmo.

Claro que neste momento existirão algumas mulheres com gato que estão certamente a dizer:

Ai, o meu Bernardo não é nada assim...

O Bernardo se calhar é aquele tipo fofinho, muito atencioso, discreto e introvertido, que usa aquelas camisolas de malha da Burberrys e sapatinhos de vela, sem um único vinco nas calças que são sempre de tecido e nunca de ganga, tão engomadinho que até apetece dar um estalo, que sai consigo aos domingos à tarde para beber um chá e que nunca parte um prato...

Se calhar estamos a falar do mesmo Bernardo que na despedida de solteiro do seu melhor amigo acabou em cima do palco só com as boxers da Throttleman, com o cinto no pescoço e a ser montado por uma stripper brasileira que lhe deixou o rabo a arder de tanto apanhar... Pois, esse Bernardo!

As coisas nunca são o que parecem, e um tipo só se deixa ver genuinamente quando está entre iguais. Aí, nem que seja apenas por umas horas, pode ser o que quiser ser e não aquilo que esperam que seja, e pode fazê-lo em segurança porque estamos lá uns para os outros.
Dentro da manada sentimo-nos protegidos, exactamente como nos sentiamos há 150.000 anos atrás quando começamos a limpar o sarampo aos mamutes usando técnicas de caça em grupo.

Não quero com isto dizer que entre amigos esquecemos os valores e princípios que nos guiam no dia-a-dia. Longe disso.
No seio da manada podemos simplesmente reviver aquilo que eramos há uns anos atrás, com o saudosismo próprio de quem já se deixou disso há muito tempo, mas que lá no fundo ainda sente algumas saudades.

O grupo de amigos é o nosso Santo Graal. A fonte da nossa eterna juventude.
É um refúgio onde depositamos parte do nosso código genético que deixou de ter qualquer utilidade quando decidimos dar um novo rumo à nossa vida. Funciona como um fiel depositário, e de tempos a tempos sentimos necessidade de regressar ao passado, e até aquela altura em que eramos irreverentes a ponto de acreditarmos que um dia iriamos conquistar o mundo.

Mas o grupinho de amigos é também, e sobretudo, o sítio onde podemos falar de... Gaaajas!
E neste capítulo dispenso o olhar reprovador, se for esse o caso. Eu sei que vocês sabem que eu sei que vocês também falam de nós.

Há no entanto uma importante ressalva a fazer. Nós, os homens, nunca falamos daquilo que é nosso. Falamos sim da gaja do anúncio da cerveja, da nossa vizinha do 3º esquerdo, da miuda nova que chegou ao trabalho ou da amiga da namorada do Zé, da mãe do Francisco que é colega do nosso filho na escolinha, da loura bombástica ou da professora de pump lá do ginásio. Falamos da tatuagem nas costas da amiga da Teresa, e do peircing no umbigo da prima da Sofia.

Às vezes não é preciso falar sequer e basta um lembram-se da Catarina? Ao qual todos respondem Uuuuui a Catarinaaaaa! Mesmo aqueles que nunca viram, conheceram ou estiveram com a Catarina.
É mesmo assim, e é próprio das conversas de gajos.

Naturalmente tudo isto é um forte motivo de preocupação para qualquer mulher com gato que, dum momento para o outro, não só se vê privada de companhia, como vê o seu gajo à mercê duma pandilha desgorvernada, sem rumo, e completamente exposta aos perigosos efeitos colaterais do álcool.

Isto já para não falar do complexo vaca nova, ou seja, da fauna que habita a maior parte dos microsistemas nocturnos, e que na flor da idade e com as hormonas aos saltos não hesitam em exibir com opulência os dotes que a gravidade ainda não reclamou.
Exactamente como num sushi volante, está tudo lá e pronto a comer.

As mulheres com gato sabem disto, e talvez por isso nunca vão encontrar um sentido para este tipo de programas.
Por mais que se tente explicar, não faz sentido algum trocar uma noite com tudo incluído, por uma noitada de copos com os amigos e uma ressaca violenta no dia seguinte.
Especialmente se o tudo incluir um jantar a dois, seguido de um dvd e mimos no sofá, e para rematar a noite aquilo a que eu chamo Sexo Lionel Richie, ou seja, All Night Long!

Confesso que assim de repente, e colocadas as coisas desta forma, nem eu que sou gajo acho muito sentido a estas saídas com os amigos.
Porém, o peso do grupo sobre o indivíduo é esmagador, e no fundo todos nós vacilamos perante a ideia de estarmos a quebrar a confiança e união da nossa manada.
É o mesmo que há 150.000 anos atrás deixarmos os nossos melhores amigos partirem sozinhos para a caça de mamutes. Seriam espezinhados, e a última coisa que queremos é ter um animal de grande porte a pesar na nossa consciência.

Há no entanto boas notícias para as mulheres com gato.
Apesar de toda a envolvente indicar o contrário, muito raramente este tipo de programas resultam no tal sushi volante de que falei acima.
Não há nada mais patético do que um grupo de homens com cão, meio alcoolizados e fora da sua caverna.
Experimentem atirar amendoins e bananas aos saguins no zoo. O basqueiro é quase o mesmo.


Em manada, e caso consigam entrar em qualquer sítio minimamente in, com o avolumar do teor de álccol no sangue o mais provável é serem expulsos pelos seguranças antes do fim da noite. E se há 150.000 anos atrás a caça em grupo resultava com os mamutes, actualmente a fauna volante que habita a noite é quase toda ela caça grossa e de trabalho solitário, ou quanto muito aos pares porque as mulheres nunca saiem sozinhas.

Posto isto, a verdade é que nós precisamos do nosso refúgio, porque sempre o tivemos desde pequenos.
Precisamos de reunir a irmandade e regressar à caverna de tempos a tempos.

Precisamos de reviver os anos em que juntos davamos caça aos mamutes, apesar de no final do dia gostarmos de passar no Modelo para comprar o tal franguinho embalado em plástico, que cuidadosamente iremos preparar para o jantar, antes do dvd, dos mimos no sofá e do Lionel Richie no final da noite. Porque isso é que é bom.

terça-feira, 10 de março de 2009

Colhogar, cor do lar

“Clara, 28 anos, o seu namorado acaba de deixá-la, pela 5ª vez...”

Não, isto não é ficção! É realidade! Ou pelo menos é o que dizem os senhores da Colhogar naquele anúncio em que a Clara está sentada na casinha de banho, vestida com um vestido de noiva feito de papel higiénico. Tão fofinhooooo!

Até aqui tudo bem, até porque bem vistas as coisas, depois de acabar com o 5º namorado aos 28 anos, a Clara está literalmente na merda portanto o anúncio até está bem conseguido!
A parte que não me convence é aquela em que a Clara está super feliz, muito sorridente e a soprar tirinhas do vestido de papel higiénico fofinho para o ar.
Helloooo?! Tens 28 anos e estás outra vez sem namoradoooo?! Pela 5ª vez?!

Esta foi a minha reação quando vi o anúncio pela primeira vez. Mas depois instalou-se a dúvida: então e se isto for muito mais que um simples anúncio a um papel higiénico fofinho? E se isto é mesmo assim na vida real? E porque raio as mulheres com gato acabam tantas vezes?!

A pergunta é meramente retórica. Acho que nem vocês sabem a resposta, pelo menos a julgar pela sondagem do mês de Fevereiro quando à pergunta Porque razão as mulheres com gato fartam-se dos homens com cão, a esmagadora maioria respondeu Essa questao devia ser colocada aos homens.

(A este propósito, já está disponível nova sondagem no rodapé da 1ª página do Blog)


Não existem dados científicos que sustentem a minha teoria, mas, duma forma geral, acho que é correcto dizer-se que as mulheres com gato têm uma predisposição maior a despachar os homens, e os respectivos cães, como se não houvesse amanhã!


Neste momento vários homens com cão pararam de ler o post, e pelo sim pelo não estão a escrever no telemóvel:
olá fofinha.. estava a pensar em ti e fiquei com saudades.. beijinhos grandes!

...

4 em cada 10 homens com cão já não foram a tempo... Pooooooois é!

A verdade é que as mulheres com gato têm um medo de morte da rejeição.
Dê por onde der não podem nunca correr o risco de ficarem por baixo quando uma relação termina, por isso mesmo preferem ser elas a acabar tudo antes que tudo o resto acabe com elas.

Pode parecer um contrasenso mas é uma verdade insofismável. As mulheres com gato têm de acabar primeiro! Mesmo que depois isso leve a uma realidade ainda mais difícil de suportar: a solidão.
Pouco importa. Acabar primeiro é salvar os dedos quando os aneis estão perdidos, e para as mulheres com gato é essa a diferença que separa a eterna coitadinha, sempre preterida pelos homens, da grande mulher que apenas tem muito azar na vida. E esta, acreditem, é uma daquelas coisas que faz toda a diferença num grupo de amigas.

A coitadinha, ao contrário da grande mulher, não pode opinar sobre os homens com cão, afinal ela é um desastre à espera de acontecer e aos 28 anos já conta com 5 relações sérias completamente frustradas.
Do lado oposto está a grande mulher, que aos 28 anos já despachou 5 idiotas que não eram suficientemente bons para ela.
A quem é que vocês pediam conselhos? Ooooooora aí está!

Se é para acabar acaba-se já e não há mais conversas!
Este é normalmente o último pensamento das mulheres com gato antes de passarem à acção. Segue-se uma visita à Decathlon e ao final do dia lá está o belo par de patins à porta de casa.

Neste momento vários homens com cão pararam de ler o post, e pelo sim pelo não atiraram-se da janela do 2º andar do prédio.

Perceber o que vai na cabeça duma mulher com gato é quase tão difícil como encontrar uma relação de mera casualidade entre a nomeação dum qualquer ex-ministro do PS, para um cargo executivo duma qualquer empresa pública.

Aqui a solução não passa por perceber as mulheres como um todo, mas sim tentar perceber pelo menos uma pequena parte. Pelo menos aquela parte que faz a gestão das relações!

Normalmente as mulheres com gato despacham os homens com cão depois de terem aquele feeling de que eles simplesmente se estão a borrifar para elas. Por isso é que no parágrafo acima 4 das 10 mensagens fofinhas enviadas não surtiram qualquer efeito, porque em boa verdade eles já se estavam a borrifar há algum tempo a esta parte.

Para nós, homens com cão, parece quase um absurdo pensar que um mero feeling pode estar na base duma decisão tão radical, mas de facto está! As mulheres com gato chamam a isso o 6º sentido, e é uma arma poderosa que ajuda a clarificar ideias em caso de dúvidas.


E dúvidas é o que há mais depois do 6º sentido ter captado o tal feeling que antecede os patins. Dúvidas como será que ele ainda gosta de mim? ou piores ainda como será que ele tem outra?. Esta é uma dúvida particularmente nefasta que rapidamente evolui para o ele tem outra!, ou seja, uma afirmação que deixou de ser uma dúvida...

Paaaaaatiiiinnnnnnnnsss!

Voltando à prevenção, o importante é antecipar o feeling e enviar a tal mensagem fofinha quando ainda vamos a tempo, quando ainda faz a diferença.

A solução parece simples mas na verdade nunca é, porque neste caso um outro problema se levanta, este ainda mais complexo e que tem a ver com a natureza comodista dos homens com cão.

A verdade é que nós intalamo-nos nas relações! Acomodamo-nos de tal forma à situação que passados 2 meses estamos prontos para conquistar metade do roupeiro à nossa namorada, na sua própria casa! Isto já para não falar do lavatório cheio de pêlos da barba e do tampo da sanita constantemente levantado!

Os homens são e sempre foram excelentes caçadores. Desde os primórdios com o homo erectus há 1,5 milhões de anos atrás.
Proactivos, inteligentes e imaginativos fomos aprimorando as nossas técnicas de caça, e se na altura faziamos armadilhas para apanhar mamutes, nos tempos que correm surpreendemos as mulheres com gato com fins-de-semana em spas, massagens, e jantares cozinhados por nós apenas de avental e com umas shorts da Hugo Boss.

Mas ultrapassada a fase da caça, mostramo-nos incapazes de contrariar a nossa herança cultural e num ápice voltamos ao tempo das cavernas, instalados no sofá de pernas esticadas em cima da mesa de centro, a arrotar como se não houvesse amanhã, e a palitar os dentes com as unhas enquanto vemos a bola e bebemos bejecas com os amigos.

Chegados a esta fase podemos ter a nossa mulher com gato vestindo apenas um conjunto extremamente justo da Miss Kitty à nossa frente, que a única coisa que vamos conseguir articular é querida, traz-me outra cerveja.

(Só para que conste da acta, eu desligava logo a televisão! A menos que fosse o jogo do título e tendo em conta que o Benfica já não ganha há muitos anos, acho que é legítimo dizer-se que há coisas mais importantes na vida durante 90 minutos!)


Depois de tudo isto, e já com o par de patins à porta, sentimos o nosso orgulho ferido de morte quando percebemos que afinal ela acabou tudo porque teve um feeling!

Anos mais tarde percebemos enfim que esse feeling surgiu depois de muitas dúvidas, que por sua vez surgiram depois dos pés em cima da mesa de centro, do palitar dos dentes com as unhas, dos arrotos, dos jogos da bola, do tampo da sanita levantado, dos pêlos no lavatório, da roupa espalhada pela casa, da playstation, das bejecas com os amigos, e antes dos patins. Esse feeling.

Afinal os senhores da Colhogar é que sabem. Mas só se enganaram numa coisa. O anúncio devia dizer:

“Clara, 28 anos, acabou de terminar tudo com o seu 5º namorado”.