segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sozinha em Casa

É um facto incontestável: existem cada vez mais mulheres a viverem sozinhas por esse mundo fora, em Portugal mais concretamente, e no meu prédio em particular!

A dimensão do problema é global e para ter essa percepção basta uma rápida pesquisa no google, e encontramos desde logo resultados perfeitamente esclarecedores.

Há que usar algum cuidado na terminologia mas os resultados estão à distância dum clik.
No meu caso de dois cliks, porque o primeiro foi duma ingenuidade que já não se usa em pesquisas na internet nos dias de hoje. Experimentem procurar em mulheres sozinhas e no topo dos resultados encontramos logo mulheres carentes e sozinhas à procura de prazer em Aveiro.
...
Mas porquê Aveiro?! Será esta uma cidade particularmente carente e à procura de prazer?!

Corrijo o erro para um menos lúdico mulheres a viver sozinhas.

Tec tec tec.. enter!

O primeiro resultado não deixa margem para quaisquer dúvidas. São cada vez mais as mulheres a viver apenas com o seu gato, e existe até um blog (!) com dicas e sugestões para lidar com todo este processo duma forma mais segura e confiante.

A julgar por um recente estudo realizado nas grandes capitais europeias, quase 68% das pessoas a viverem sozinhas entre os 25 e os 49 anos são efectivamente mulheres, o que coloca uma outra questão muito pertinente: se a cada 100 mulheres entre os 25 e os 49 anos de idade 68 vivem sozinhas, isto significa que existem 68 homens completamente entregues à sua sorte, sem comida no frigorífico, com roupa espalhada por toda a casa, e com a PS3 permanentemente ligada no chão da sala.

Ainda há dias falava com uma amiga minha, e a propósito duma foto que ela tinha publicada no perfil disse-me que todas as 5 amigas que estavam nessa foto viviam sozinhas.

Homens com cão, lembram-se do filme Apollo 13? Poooois é..

Houston, we have a problem.

Resolvi fazer aquilo a que os brasileiros chamam dum enquéte (lê-se enquétchi mas em português escreve-se inquérito mesmo..) junto das minhas amigas que optaram por esta forma de estar aparentemente desalinhada, mas feliz.

Os resultados são surpreendentes, mas apenas para os homens com cão mais distraídos.
À pergunta o que mais detestavas quando estavas junta, as respostas sucedem-se mas sempre com estes pontos em comum:

1. O Relatório.
Perguntar a uma mulher com gato onde é que estiveste? deve ser seguramente uma das coisas mais absurdas que qualquer homem com cão pode perguntar. Sobretudo se for no final dum dia de trabalho, quando só apetece é entrar na banheira e relaxar num demorado banho de imersão (que nunca será muito demorado porque é preciso fazer o jantar..).

Prestar contas é aliás uma das coisas que mais muda de tom ao longo duma relação, senão vejamos:

(no final do primeiro mês)

Ele a fazer o jantar: Onde é que estiveste queridinha?

Ela: Ohh tão querido! Estás preocupado com o teu bichinho bébé?

(no final do primeiro ano)

Ele sentado no sofá a ler o jornal: Mas onde é que tu estiveste?

Ela: Lá vens tu com as tuas perguntas! Estive a trabalhar, o que achas?!

(antes da separação)

Ele refastelado no sofá, a ver a Sporttv, com os pés em cima da mesa de centro, e a beber cerveja à patrão, já com duas garrafas vazias a manchar o soalho: ‘Atão?! Vais dizer-me onde é que estiveste ou não?!

Ela: Olha, nem te respondo... Fizeste alguma coisa cá em casa ao menos?

2. Adeus cozinha!
A primeira coisa que as mulheres com gato deixam de fazer depois de conquistada a sua independência é... o jantar!

Se há coisa que irrita é, logo a seguir ao relatório, ter de ir a correr para a cozinha fazer o jantar, e muitas vezes fazer o jantar para o seu marido/junto, porque se fosse só para si provavelmente passava bem só com uma sopa e umas tostas integrais.

E depois há homens com cão que não se alimentam com qualquer coisinhaaa...

Ele: Vais fazer o quê para o jantar amor?

Ela: Ainda não sei bem..

Ele: Sabes o que me apetecia?

Ela: Humm.. O quê?

Ele: Um bifinho grelhado com umas batatas fritas e um ovo estrelado!

Ela já a fazer contas à louça: ... Um bifinho grelhado ...

Ele: Sim! Com batatinhas fritas e um ovo estrelado. E com um arrozinho de manteiga igual aquele que a minha mãe faz, estás a ver?

Ela: ... Igual ao que a tua mãe faz ...

Ele: Sim! Olha e entretanto podias era trazer aquelas tuas tostinhas integrais com manteiga e uma Heineken aqui à sala. Está a dar o jogo.

3. Horários.
Dividir a casa com alguém significa obrigatoriamente ter horários para tudo, e o problema assume outra dimensão quando o seu horário passa a ser o horário dele, e o despertador toca às 6.30h quando você só precisa de sair da cama às 8h.

Isso só por si já é mau, mas pior ainda é passar essa hora e meia a dizer vá levanta-te; está na hora; assim vais chegar atrasado; vá láaa.. deixa-me dormir!

Do jantar já falamos, mas também para isto tem de haver horas marcadas, e mais uma vez o seu relógio terá de entrar no fuso horário do seu marido/junto, obrigando-a a desdobrar-se em esforços para que chegada a hora esteja a comida posta no prato.

Pior mesmo só ter horas marcadas para ter sexo, e aqui a questão assume outros contornos uma vez que nesta situação é o seu relógio biológico que tem de adaptar-se, e não aquele que traz no pulso.

Neste capítulo em particular as sozinhas em casa são incomparavelmente mais felizes e mais satisfeitas, uma vez que podem escolher quem querem ter na sua cama, a que horas, e durante quanto tempo. E se não quiserem ter ninguém na cama, podem fazer o que bem entenderem porque não está lá ninguém a perguntar isso leva pilhas?

4. Tampo da sanita para baixo.
Parece uma coisa tão simples - e é assim tão simples – mas não há volta a dar.
Conseguimos descobrir o fogo, inventar a roda, a televisão, ir à lua e papar as telenovelas da TVI, mas ainda não conseguimos baixar o tampo da sanita.

O verdadeiro teste à capacidade de adaptação de qualquer homem com cão. E são poucos os que o conseguem rotinar por iniciativa própria, sem as habituais reprimendas das companheiras.
E se no início quando tudo são rosas, a coisa até se leva com alguma boa disposição, o passar do tempo encarrega-se de transformar um gesto aparentemente inofensivo no assunto recorrente de qualquer discussão conjugal.

Os homens com cão simplesmente não percebem a amplitude da questão, mas para uma mulher com gato aflitíssima, depois de correr pelo corredor em bicos de pés com a ligeireza do Francis Obikwelo, chegar à casa-de-banho, ter de desapertar uma série de botões, o cinto, baixar as calças e encontrar ainda o tempo da sanita levantado... Enfim, é desesperante!

E falar do tampo da sanita levantado é o mesmo que falar do lavatório cheio de pêlos depois da barba e do aparar de cabelo, ou do rolo de papel higiénico gasto que fica eternamente pendurado no suporte.

Há aliás casos documentados de homens com cão que venderam as suas casas, ainda com o rolo que inicialmente estava pendurado quando fizeram a escritura da casa pela 1ª vez.

5. O roupeiro é meu!
Qualquer mulher com gato que resolva juntar os trapinhos, aceitando dividir o seu castelo com o namorado (nestes casos diz-se namorado do inquilino que não paga renda), passa pela experiência traumatizante de ver o seu espaço gradualmente reduzido dentro da sua própria casa.

Tudo começa com um objecto aparentemente inofensivo: a escova de dentes. Pequena, portátil e dissimulada a escova de dentes funciona como uma espécie de Cavalo de Tróia. Quando der por si tem a casa virada do avesso e o seu estilo de vida está em vias de extinção.

Pior, em vez de ter o Brad Pitt de sandálias a dar-lhe cabo dos bibelots, tem o seu namorado de sandálias a dar-lhe cabo dos bibelots. Entretanto toma consciência de outra realidade deprimente: o seu namorado não é o Brad Pitt.

Com o passar do tempo (dois ou três dias no máximo..) o caos chega ao seu roupeiro. E onde até à pouco tempo atrás (dois ou três dias antes..) tudo estava arrumado de acordo com cores, padrões, estilo, estação e acessórios, agora está amontoado numa pilha desordenada, porque precisou de libertar espaço para as t-shirts coçadas do seu namorado, aquelas dos tempos de solteiro que ele insiste em guardar e você não percebe bem porquê.

Daí a ter roupa suja junto da sua que está impecavelmente limpa é um passo ainda mais curto, e daí ao par de patins é mesmo um instante.

Lembram-se de ter dito qual era a primeira coisa que uma mulher com gato deixa imediatamente de fazer quando está sozinha? O jantar. E porquê? Porque vai arrumar o roupeiro.

Bottom line, as mulheres estão cada vez mais fartas dos homens, e a julgar pelos resutados estatísticos não os querem para viver nem sequer enrolados em algodão doce.
Tomam as suas próprias decisões, voam nas asas do desejo e vivem o momento livres, no conforto do silêncio, sem horas marcadas, sem rotina, e sem compromissos.

Resta saber onde termina a felicidade e começa a solidão.

11 comentários:

  1. E, pronto, algum dia tinha que acontecer: estamos de acordo!
    Eu sou uma mulher de 33 anos, que vive sozinha com a sua gatinha e sou feliz, muito feliz assim! Tenho uma relação estável, mas quero que o meu namorado seja muito feliz em casa da mãe por muitos e bons anos, apesar de ele baixar o tampo da sanita e não beber cerveja a rodos!

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  2. A tua análise é bastante acertada, ainda que mordaz.
    De facto é muito difícil, dadas as circunstâncias actuais, os dois géneros coabitarem harmoniosamente.


    PS: Gostei muito do teu blog. Tens um sentido de humor fantástico e uma acutilância fora-de-série.

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  3. Olá...
    Adorei! Só espero é que não tenhas sido inspirado pela pessoa que conheceste no fim de semana, que POR ACASO (lol) vive sozinha com o seu gato!! :-)
    Beijinhos e vou continuar a "ler-te"

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  4. Recuso-me a acreditar que tanto homens como mulheres gostem de viver sozinhos.
    Podemos sim, de gostar de estar sozinhos de vez enquanto mas viver sozinho não creio.
    Pessoalmente não gosto de estar nem de viver sozinha e se estou sozinha NÃO é por opção.
    Os resultados da tua pesquisa revelam apenas pormenores infimos(tampo de sanita, guarda fato etc) julgo que não é por essas pequenas coisas que as mulheres estão sozinhas.

    O problema da SOLIDÃO na minha opinião começa na sociedade em que vivemos actualmente.
    Em tempos a base/estrutura da sociedade baseava-se na FAMILIA hoje em dia basea-se no TRABALHO.
    Perdem-se demasiadas horas no trabalho descurando da familia.
    Este problema inicia-se ainda na infância quando os pais cortam cedo o cordão umbilical.
    Os pais não devem nunca cortar o tal “cordão”, antes de serem amigos são pais indepedentemente da idade.

    No meu entender a solução para o problema da solidão em que vivemos resume-se apenas a uma frase : “ É PRECISO CRIAR LAÇOS”

    Célia N

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  5. "Ele: (...) igual aquele que a minha mãe faz, estás a ver?"

    O suficiente para eu mandar de volta para casa da mãezinha o homem mais o cão!

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  6. A Gata Christie

    Era inevitável, mais tarde ou mais cedo teria de acontecer rsrsrsrs

    Maldonado

    Estou a começar a pensar que és capaz de ter razão.

    Deia

    Tenho um amigo meu que é assim. Queres o número dele? lololol

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  7. Parabéns, este post está demais!!! =)
    Fartei-me de rir. Não sei se relatas-te experiências vividas, mas o que é certo é que enumeraste muitas coisas que realmente, nós mulheres, detesta-mos! Mas quando realmente amamos alguem, tudo isso se contorna, com diálogo e carinho.
    Tem é de haver cedências de parte a parte, de modo a partilhar o mesmo espaço com alegria.
    Já vivi sozinha, mas sem duvida que somos mais felizes quando dividimos o nosso espaço com quem amamos!
    Continua, escreves mesmo muito bem!
    PS: não gosto de gatos, mas sim de cães lol

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  8. Eu como odeio limpar a casa, prefiro morar sozinha assim ninguem me "ralha" por deixar os soutiens espalhados na sala, os sapatos pela casa toda, o armario com a roupa aos montes, a louça por arrumar na maquina...Eu sou assim mesmo, e sei k nao vou mudar (aos 32 nao se muda)e como nao gosto de limpar o k é meu, muito menos o que os outros sujam...capisce!!!
    Portanto se conhecerem um "principe" que nao queira deixar a escova dentes la em casa, apresentem-me :D

    E sim moro sozinha por opção e porque tenho a certeza que é melhor para minha a sanidade e a do meu parceiro...

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  9. Simplesmente adorei, eu não moro sozinha e identifico-me muito com o que escreves-te.
    :)
    Cada vez gosto mais de vir dar uma espreitadela no teu blogue.

    Ana (Alentejana)

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  10. A "Princess"

    O problema das mulheres com gato resume-se ao seguinte:
    1º encontrar um homem com gato que não deixe a escova de dentes em casa, que seja sensível, atencioso, meigo, bem-educado, com princípios morais, giro, elegante, de preferência alto e moreno (lolol), que seja uma boa comanhia, com quem possam sair e que seja minimamente apresentável aos amigos e sobretudo às amigas.

    2º quando finalmente encontram esse homem com cão quaaase perfeito, mandam-nos às couves porque não querem fazer o esforço para que as coisas resultem. Acabam com um simples "és a pessoa mais especial que conheci, maaasss não dá!" e pronto, partem para outra com a mesma facilidade com que se muda de meias.

    É isto!

    Beijinhos*

    A "Ana (Alentejana)"

    Olá Ana e obrigado mais uma vez pelos teus simpáticos comentários :)

    Neste caso concreto fiquei preocupado porque SE NÃO MORAS SOZINHA e identificas-te com o que escrevi.. Bom, então deve estar para breve uma resolução radicakl na tua vida aposto! lol

    beijinhos*

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  11. Oi,
    ...tenho andado desaparecida mas hoje consegui passar cá e não podia sair sem deixar um comentário.

    Fantástico texto com um final 5*
    Namastê

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