terça-feira, 28 de julho de 2009

I'm (not) Happy!

Uma das coisas que mais vontade me dá de rir – e quando digo vontade de rir quero dizer rir como se não houvesse amanhã – são os temas especiais das revistas femininas.

Já sei o que estão a pensar e primeiro que tudo convém desde já desmistificar esta questão: sim, eu leio revistas femininas.

Melhor dizendo, eu TAMBÉM leio revistas femininas. Assim está melhor.

O também faz toda a diferença nesta frase, não só porque afasta quaisquer suspeitas que possam recair sobre mim no que toca à minha sexualidade (promove a ideia de que somos muitos a ler as revistas femininas, logo não podemos ser todos gay), mas também porque é um dado adquirido que em quase tudo o que são cabeleireiros, salas de espera, consultórios e gabinetes há sempre uma revista feminina com pelo menos um ou dois anos de idade, e com temas surpreendentemente actuais. Mais tarde ou mais cedo acabamos sempre por ler.

Vamos avançar com um exemplo, e para não ferir susceptibilidades achei por bem proceder a uma escolha completamente aleatória. Saiu a Happy!

Na capa de Março deste ano a Happy fazia alarde aos seguintes temas:

- Que idade tem a sua pele?

- Roteiro de Swing.

- Espíritos: fomos falar com eles!

Há 7 meses atrás, na edição de Agosto de 2008, a mesma Happy avançava com os seguintes temas:

- À procura do melhor hidratante: quando a pele pede água.

- Guião para se tornar uma dominadora: uma viagem alucinante ao mundo da dominação!

- Viagem aos seus outros “eus”: regressar à infância sem terapia.

Rapidamente concluimos que passados apenas 7 meses a Happy ainda continua a falar da sua pele, continua a vender sexo quase como se tivesse colocado um repórter infiltrado durante meses num qualquer sub-mundo fetichista e subversivo, (quando na verdade devem ter realizado uma pesquisa rápida na internet), e continua a explorar o seu lado mais esotérico, e se há 1 ano atrás prometia uma viagem à sua infância por apenas 1,50€ (preço em vigor em Agosto de 2008), há 4 meses atrás deram-se ao trabalho de entrevistar espíritos a um preço que nem o Prof. Karamba ou o Mestre Mambo conseguem superar.

Ora já é suficientemente mau que a Happy ocupe cerca de 60% do seu espaço gráfico com publicidade directa ou indirecta, mas é ainda pior quando os 40% destinados a conteúdos editoriais são ocupados com coisas tão credíveis como entrevistas a espíritos.

Não quero parecer mesquinho mas isto a mim soa-me a aldrabice.

Outra coisinha que causa alguma urticária é a escolha da modelo que habitualmente faz a capa das Happy. A este respeito tenho apenas uma pergunta a fazer: porque razão escolhem sempre modelos anoréticas, com aquele aspecto doentio de quem só comeu uma folha de alface e meio tomate nos últimos 5 dias?

Aqui as revistas masculinas ganham aos pontos. Na FHM ou na Maxmen por exemplo as modelos nas capas vendem saúde, e não têm aquele aspecto enfermo de quem está a precisar duma tosta mista e duma transfusão de sangue a qualquer momento.

Mas o problema não está na embalagem, está naturalmente nos conteúdos, o que nos remete para o primeiro parágrafo deste post, os temas especiais das revistas femininas:

Sara, 30 anos, casada e com um filho: venceu a hipocondria.

Mas quem é esta Sara? Não tem último nome?

Filipe, 32 anos, arquitecto: gosta de ser dominado pela mulher quando chega a casa.

Humm.. E não é isso que acontece a todos os homens quando chegam a casa do trabalho?

Mariana, 34 anos, gestora: gosta de usar pinças, chicotes e mordaças.

Reparem que as jornalistas da Happy nunca perguntam o 2º nome aos entrevistados. Dá aquela ideia de estarmos a falar com alguém que nos é próximo, quase família! Muito bem pensado!

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: gosta de passar uma semana na praia com o filho Miguel, e uma semana a divertir-se com os amigos fora do país.
Este testemunho é tão real mas tão real que parece ter saído do programa da Conceição Lino da SIC, o Nós Por Cá. Reparem nas semelhanças:

Paula, 40 anos, tem um filho de 11: trabalha 9 horas por dia para ganhar 800€/mês e ao fim-de-semena vai com as amigas para Ibiza.

É no mínimo absurdo que a revista feminina que mais vende em Portugal esteja tão distanciada da nossa realidade, o que só vem provar que as pessoas gostam de sonhar com um estilo de vida que na realidade sabem que não vão ter em momento algum da sua vida.

Voltemos aos contéudos. Convencido de que também eu seria capaz de produzir conteúdos igualmente happy!, resolvi debruçar-me seriamente sobre o assunto. Propus-me então encontrar um daqueles temas especiais de capa, forte, apelativo e com uma aplicação prática no quotidiano das mulheres com gato.

Um artigo one-fit capaz de servir a todas as mulheres com gato. Acima de tudo algo credível. Bom, talvez não tanto como as entrevistas a espíritos, mas afinal eu também não trabalho na Happy!

Esta é portanto a minha sugestão para a capa da revista Happy do próximo mês de Agosto, e com isto pretendo provar duas coisas:

- não percebendo nada de revistas femininas, consigo fazer melhor que a Happy.

- tenho um jeito incrível para vender melões na recta do Porto Alto.

Ele é o homem certo para si? Descubra a resposta nesta edição!
Método revolucionário escolhido por juri científico.

Cá está. Não conheço mulher com gato capaz de resistir a uma capa destas, e estou certo que uma revista feminina com este tema na capa vendia mais que melões na recta do Porto Alto.

Esta é a minha sugestão, e a mulher com gato que nunca quis se o fulano tal é o homem certo, que atire o primeiro melão.

...

Bem me parecia.
post-scriptum acrescento só mais uma coisa: como sou dado a efemérides, 1 ano depois de comprar a revista Happy pela 1ª vez (em Agosto de 2008), resolvi fazê-lo novamente com a edição de Agosto de 2009. E 1 ano depois encontro exactamente o mesmo tema na capa (regressão), e as mesmas modelos anoréticas, pálidas e com ar doentio.
Ou muito me engano ou não tarda mesmo nada devem estar para rebentar mais entrevistas a espíritos..

5 comentários:

  1. Caro Pedro,
    não é o único a ler revistas que supostamente nao deveriam ser lidas por pessoas de determinado sexo.
    Eu como gaja ( e mt gaja)também leio revistas masculinas.
    Leio revistas masculinas com o intuito de aprender qualquer coisinha sobre esse mundo dos "homens com cão " .

    Curiosamente também dou por mim a rir como não houvesse amanhã com os temas destas.

    Passo a citar apenas dois ou três temas de capa abordados na Maxmen de Julho:
    -Super Mega inquerito "Como se comporta o macho lusitano"
    -Chamem os bombeiros a Joana Alvarenga vai incendiar este verão
    -Axe Dancers "Veja de perto as "únicas" alegrias dos adeptos do SLB hahahahaha
    para finalizar no canto inferior direito tem um site muito util (suponho) para o verdadeiro homem com cão "famosasdespidas.com

    Posto isto nada mais tenho a dizer ;)

    beijitos
    Célia N

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  2. Eu não tenho hábito de ler revistas nem femininas nem masculinas, mas digo uma coisa uma revista com uma capa feita por ti ia ser engraçada de certeza.
    Mais uma vez gostei do teu post.
    Já sou leitora assidua do teu blogue.
    :)
    Ana (Alentejana)

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  3. Quando não há nada para escrever, escrevesse sobre o que já foi escrito.
    Recalcando os temas até não passarem de finas laminas como as das espadas de samurais.

    - Sexo
    - Testes
    - Dietas
    - Historias Dramáticas/"Reias"
    - Horóscopo
    - Muita publicidade de artigos ao alcance da bolsa de qualquer "mulher com gato" que sobrevive com pouco mais que o ordenado mínimo

    É o fio condutor de qual se rege qualquer revista feminina que se preze.

    No dia que uma revista feminina publique artigos sobre a industria automóvel, tecnologias de ponta ou algo de realmente útil
    á "alimentação" do meu cérebro, juro que a compro.
    Até lá, quando quiser embrutecer as ideias ligo-me ao canal parlamento.
    A finalidade será a mesma, muita palavra lançada ao ar para não dizer nada de jeito.

    Dєiα ツ

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  4. Fónix, só podemos estar em sintonia, estamos destinados só pode lol Se fosse o Prof Karamba a analisar, dizia que temos futuro...:D pode ser eu aqui e tu aí :p

    Não é que eu no mês de Março (comprei de jan a mar, sendo a fev oferta na porta do teatro), pensei cá para mim...:
    Mas porque raio é que põem estas gajas, autenticos esqueletos andantes com ar de quem morreu ou está para morrer. Feias como a m***a (sim eu sou do norte), parecem umas drógadas (sim com acento), ar de doentes de cancro na capa da revista.
    Mas será que agora todas temos de ficar com doenças terminais para ficarmos "giras". E pronto, decidi nao comprar mais. Tb decidi mandar um email para lá a dizer o que me ia na alma, mas ainda não mandei. Ainda, porque garanto que vou mandar. E ainda bem que há homens que pensm o mesmo.

    Bem hajam as mulheres saudaveis de corpo e alma!

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  5. É uma pergunta que me faço todos os dias!
    Ele era o homem certo para mim?
    Acho que não há teste algum que me possa dar essa resposta...
    Não sou leitora de revistas femininas, pelo contrário! Gosto bastante da FHM;) sou do contra mesmo :) A verdade é que geralmente os homens gostam de tentar entrar no "nosso" mundo e dai, (sexualidades á parte), lendo uma ou outra revista, conseguem obter uma ou outra resposta, fruto da tentativa em nos conhecerem melhor! :) Tarefa difícil e quase impossível!

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