quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Como sobreviver a um filho único. Parte I

Ocasionalmente eu e o Bruno fazemos um dos nossos “programas de gajos”, nada que prime pela diferença ou pela originalidade, apenas coisas que nós, homens com cães, gostamos de fazer.
Numa dessas ocasiões combinamos ir ao Estádio da Luz ver o Benfica, um programa completamente insuspeito portanto. Coisa de “Gajos”.

A caminhar para os 30 anos este meu amigo está ainda a terminar a Licenciatura que acumula com o trabalho, namora mas as coisas estão tremidas, vive com os pais, e infelizmente para a namorada é filho único!

O Bruno marcou comigo duas horas antes do jogo na casa dele, para seguirmos juntos a partir dali.

Mãe do Bruno: “Então já vão?”

Eu: “Já Dona Ana, é melhor irmos mais cedo sabe, assim vamos com calma e evitamos as confusões de última hora.”

Mãe do Bruno: “Oh filho não queres que a mãe te prepare um lanchezinho?”

Eu: (silêncio...)

Bruno: “Não é preciso mãe, nós comemos qualquer coisa lá no Estádio.”

Mãe do Bruno: “Mas são tantas horas filho! Já viste tantas horas sem comer? A mãe faz-te uma buchazinha!”

Bruno: “Oh mãe, a sério, obrigado mas não é preciso. Não te dês ao trabalho.”

Mãe do Bruno: “Oh! Não custa nada! Levas um pãozinho com aquela marmelada que a mãe fez para ti... E o Pedro? Não quer nada?”

Eu, acabadinho de regressar do Planeta Voltron!: “Han.. - cooff! cooff! - Eu?! Não Dona Ana, deixe estar obrigado! Eu como uma bifana com o Nuno, antes de entrarmos para o Estádio.”

O que eu fui dizer...

Mãe do Bruno, entretanto já com uma mão no pão e a outra na porta do frigorífico: “Ai que horror! Aquilo tudo cheio de gordura? Faz-te tão mal filhoooo! A mãe faz-te uma sande mista com manteiga e levas uns leitinhos no saco.”

Desculpem, uns leitinhos?

Bruno: “Oh mãe, mas depois não posso entrar com comida para dentro do Estádio, deixa lá isso, eu almocei bem!”

Mãe do Bruno: “Onde é que já vai o teu almoço filho, olha bem para ti, estás tão magro filho!”

Entretanto o meu sobrolho esquerdo começa a tremer...

Mãe do Bruno: “Oh filho chega-me aí o tulicreme...”

Bruno visivelmente embaraçado agora. Eu tento morder um dedo discretamente para não me desmanchar a rir...

Bruno, apontando efusivamente para a sande mista: “Oh mãe vá lá! Nós já estamos atrasados! Está bom assim!”

Entretanto resolvo sentar-me à mesa da cozinha até porque a julgar pela azáfama no balcão, a Dona Ana preparava-se para dar o lanche ao 3º anel do Estádio da Luz. Resolvo entrar na brincadeira.

Eu: “Oh Bruno, ehpa é melhor levares a sandocha... Vais meter-te a comer bifanas... Não sei pah... Lembras-te da outra vez em que ficaste mal do estômago?”

Bruno, com aquela cara de pânico típica de quem diz “estás a enterrar-me vivo aqui!”: “Qual outra vez?!”

Mãe do Bruno: “Oh filho passaste mal e não disseste nada à mãe? Tens de andar com os comprimidos para o teu fastio filho! Sabes que não podes comer coisas muito condimentadas!”

Eu, já a olhar para que lado do chão da cozinha ia atirar-me a rir: “Não olhes para mim com essa cara! Eu nem sequer sabia que tomavas pastilhas Rennie!”

Bruno: “Não são Rennie!”

Mãe do Bruno: “Vá levas aqui um lanchinho, e está aqui uma sande para o Pedro também.”

Eu: “Ah! Obrigado Dona Ana..”

Mãe do Bruno: “Vão lá, divirtam-se e a mãe faz-te uma canjinha para quando chegares filho.”

Entramos no elevador. Segue-se um breve silêncio. Há muita informação para assimilar!
“Ding!” Piso zero.

Bruno: “Olha lá? Quando é que foi a última vez que eu fiquei mal do estômago?”

Eu: “Sei lá! Quando é que foi a última vez que comeste canjinha?”

(continua...)

9 comentários:

  1. Espero que o nome NUNO seja uma espécie de pseudónimo senão arrisco a dizer que arruinaste o rapaz para o resto da vida :)

    Célia N

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  2. Ainda bem que tens uma amigo filho unico e não uma amiga... ehehe

    E com amigos como tu... deixa-me que te diga... a contares assim em publico os "problemas" do rapaz... Não tens noção do sofrimento dele:P

    MS

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  3. ...quando é que entra a parte em que a mãe telefona 27 vezes, para saber se o filhote está bem?

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  4. se até aqui achei cada post mais delirante que o outro,
    com este as gargalhadas sairam em grande. :D
    obrigado!
    continua!
    Parabéns!

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  5. Em poucas palavras neste post resumes a minha infância e juventude... Acredita que vivi esta, avassaladora, experiência vezes e vezes sem conta.
    E uma vez que (com 26 anos) ainda vivo com os pais, deixo um conselho ao "Nuno"... Foi esta a minha solução para evitar momentos tão agradáveis como este... Não combines em tua casa com a malta...vai ter a casa de alguém, ou pede que em vez de baterem à porta os teus amigos e amigas te dêem um toque para o télémóvel e tu desçes,,, Abraços para os homens com cão e beijinhos a todas as mulheres com gato!

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  6. como eu entendo o bruno!a minha mãe ainda é assim comigo! e ás vezes até sabe bem..temos e confessar!hehehe

    beijo ;)

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  7. Adorei!!!

    Dei tal gargalhada ao ler que os vizinhos de baixo devem ter-se assustado.

    Mto bom

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