sábado, 22 de outubro de 2011

O Amor é Lixado com "F" grande

Joana, mulher resolvida, 36 anos, sozinha e disponível, procura homem simpático, solteiro e de mente aberta para relacionamento casual e sem compromissos.


Há relativamente pouco tempo encontrei este anúncio numa rede social, assim tal e qual, e confesso que a natureza descomplexada do mesmo chegou para despertar a minha atenção.

Motivado pela curiosidade e claramente surpreendido pela clareza de ideias desta mulher com gato, resolvi pesquisar um pouco mais embora mantendo algumas reservas, não fosse este um completo paradoxo na complexidade emocional do mundo feminino, do qual palavras como relacionamento casual e sem compromissos raramente fazem parte.



O anúncio pareceu-me bastante credível, tanto que vim depois a saber que esta mulher com gato é de Coimbra, tem dois filhos com idades diferentes abaixo dos 8 anos, e não podendo contar com a ajuda do pai para quase nada, desdobra-se em dezenas de tarefas diárias das 7.00h às 22h, entre preparar mochilas, lanches e roupa para as actividades, acordar, vestir e dar o pequeno-almoço aos meninos, que depois seguem de carro para a escola.

E tudo isto acontece antes das 8.30h, hora em que Joana se demite do papel de mãe para assumir funções executivas como responsável de marca duma empresa com múltiplas lojas abertas nos principais centros urbanos do país.

Até às 18.30h o dia está ocupado, e depois disso recomeça a correria. A rotina nem sempre é a mesma e de 2ª a 6ª divide-se entre body-combat no ginásio às 3ª’s e 5ª’s, e levar o filho mais velho ao futebol às 4ª’s e 6ª’s, antes de ir buscar o mais novo ao ATL ao final do dia, sempre com o Blackberry ao seu lado, que nunca desliga.


Depois vem o banho, os trabalhos de casa, e o jantar. À noite, depois da brincadeira, do Peso Pesado, e com os miúdos já na cama, é altura de rever relatórios diários e preparar a primeira reunião da manhã seguinte.


O pouco tempo que resta divide-o entre o alienado Dr. House e o sorumbático Horatio Caine, duas personagens que preenchem quase todas as medidas do ideal masculino de Joana, vá-se lá saber porquê. Um é anti-social e manco, o outro não tira os óculos escuros nem para tomar banho de manhã, e tem o hábito irritante de olhar para o lado antes de terminar uma frase.



Confirmam-se as minhas suspeitas. No que diz respeito aos homens, as mulheres são de tal forma labirínticas que nem um rato de laboratório consegue encontrar a saída. É a total ausência de critério.

Talvez por isso, e por saber que dificilmente vai encontrar um médico manco com a pinta do House, ou um investigador criminal com o misticismo do bom Horácio, Joana optou por simplificar as coisas, aderindo à nouvelle vague do relacionamento interpessoal: o easy dating.



Na Inglaterra chama-se sex-on-demand e está a provocar uma autêntica revolução sexual. Longe vão os tempos em que Margaret Thatcher comandava o reino unido com punhos de ferro, e com um ar ainda mais austero que o memorandum da troika para a Grécia.

Os tempos são outros, e ao contrário de Thatcher que aos 86 anos ainda deve estar para saber o que é um bom orgasmo, na Inglaterra a inversão do papel dominante está a acontecer à conta de … sexo. Muito sexo para ser mais exacto.

E tudo acontece nas redes sociais, onde à distância dum click as mulheres com gato inglesas conseguem aceder aos mais variados menus de degustação sexual, escolhendo entre dezenas de candidatos aquele que melhor parece ser capaz de saciar o apetite, em função da hora do dia, disponibilidade, robustez física versus rendimento per capita, etc.. E quanto maior for a robustez da capita melhor.

Assim em vez da tradicional pausa para o chá das cinco com biscoitos de manteiga, as britânicas deliciam-se agora com algo que pode ser tão ou mais relaxante e retemperador que o chá: um fantástico orgasmo. Um ou vários dependendo do biscoito que acompanha o “chá” neste caso.



E nada disto envolve prendinhas. É tudo feito de comum acordo seguindo uma lógica tu tens algo que eu quero, e eu tenho algo que te faz falta.

Nós por cá ainda não estamos propriamente à vontade com este tipo de vida libertina. Reflexos duma sociedade conservadora que na altura do Salazarismo ia à missa aos Domingos de manhã com a mesma candura imaculada com que frequentava os bordéis legalizados aos Sábados à noite. Vivíamos bem com Deus e com o diabo. Eramos uma aldeia de roupa branca, e como longe dos olhos o coração não sente, casava-mos para a vida toda com a bênção de Salazar e da igreja.

Este é um estigma que ainda nos persegue. Hoje já não há Salazar mas continuamos a brincar às escondidas com a moralidade.



Os ingleses – ou as inglesas melhor dizendo -, encontraram no sex-on-demand uma forma simples de resolver o problema. Se lhes apetece a meio da manhã basta clicar e pedir para comer a meio da tarde. Sem constrangimentos, cafezinhos ou sms’s no dia seguinte. No fundo é como o anúncio dos Ferrero Rocher:

Madame: Ambrósio, apetece-me algo…


Ambrósio: Sim senhora. Tomei a liberdade de tirar a roupa senhora.


Madame: Ohh! Bravo Ambrósio!



E pronto, a madame lá comia o Ambrósio com a mesma facilidade com que se come uma caixinha de Ferreros Rocher.



Isto por cá não é assim tão simples. Na generalidade as mulheres com gato portuguesas são muito parecidas com a madame do anúncio dos Ferreros. Apetece-lhes algo. Mas por muita vontade que tenham de comer o Ambrósio logo na primeira voltinha de limousine, isso raramente acontece porque ia parecer mal. E porque ia parecer mal muitas vezes não falamos de tudo com a pessoa que divide a nossa cama. Afinal o que ele iria pensar de mim.



Por muito caricato que possa parecer este pudor patológico não é um exclusivo das mulheres com gato em Portugal.



Um grande amigo meu acredita piamente que mulher para casar com ele não pode fazer ou gostar sequer de sexo oral. De sexo anal então nem se fala. Diz ele que se ela gostar é porque já fez com outros, e sabe-se lá por onde andou com a boca.



Este é o mesmo amigo que queria porque queria namorar com uma miúda virgem, seguindo a mesma lógica do sabe-se lá por onde andou com a coisa.



Quando finalmente encontrou uma não demorou nem 1 mês para começarem os desabafos e os queixumes. Afinal aquilo não tinha piada nenhuma porque ela não sabia o que fazer, não tinha iniciativa, e era tudo devagar e devagarinho com muito amor e carinho. No fundo era como a comida biológica, em teoria uma óptima ideia, na prática uma grande merd#.



Ou seja faltava-lhe aquela putice que qualquer homem aprecia numa mulher mais experiente. Dito de outra forma, para quê comer um bife de soja que não sabe a nada quando nos podemos lambuzar com uns deliciosos secretos de porco preto? É por aí.



Este meu amigo é um paradoxo e talvez um mau exemplo, mas é ainda assim um exemplo deste Portugal pequenino.



Na Inglaterra os anúncios pessoais em redes sociais de cariz não profissional vieram em certa medida resolver este problema. Elas têm o que querem, quando querem e como querem, enquanto que eles… Bom, eles estão basicamente a borrifar-se para o resto porque um gajo é um gajo e há sempre espaço para uma refeição grátis. Aqui, na Inglaterra ou no Suriname.



Além do mais ninguém no seu perfeito juízo vai apaixonar-se por uma fulana que publica algo do género:



procuro machos activos que me queiram comer como uma cachorrinha.


Assina: kadelinha_komilona.



Não quero com isto dizer que um gajo não goste de encontrar na sua gaja um pouco de kadelinha_komilona aqui e ali, e quem disser o contrário ou está a mentir com todos os dentes, ou então é gay.


O que acontece muitas vezes é que não falamos disto, nem elas falam connosco. Pelo pudor patológico que nos atormenta tudo o que foge à dita normalidade, ou simplesmente por receio de estragar algo que demorou tanto tempo a construir.



E até se percebe porquê. Que se chegue à frente o primeiro gajo que estando genuinamente interessado numa mulher com gato, não pense duas vezes quando à pergunta qual é o teu maior fetiche? seja surpreendido pela resposta: ser comida por dois gajos. E já agora que se chegue à frente a mulher que nas mesmas condições tenha a coragem de responder com honestidade.


Paradoxalmente a maior parte dos casais queixa-se da rotina quando questionados sobre o porquê da separação.

Mariana: Oh Bernardooo…


Bernardo: Diga querida..


Mariana: Oh querido já estamos juntos há tantos anos... Sabe o que me apetecia assim para quebrar a rotina?


Bernardo: Diga querida…


Mariana: Oh.. Você se calhar não vai gostar Bernardo…


Bernardo: Oh querida diga lá..


Mariana: Oh Bernardo, gostava que você me chamasse nomes feios quando ‘tá comigo, ‘tá a ver?


Bernardo: Nomes feios? Mas que nomes feios querida?


Mariana: Ai oh Bernardo,chame-me aquele nome que começa com “p”..


Bernardo: Com “p”? Você quer que lhe chame pindérica?


Mariana: Ai c’horror! Oh Bernardo é aquele nome que começa com “pu” e acaba em “ta”, ‘tá a ver?! Você também não percebe nada, que maçada!


Joana, mulher resolvida, 36 anos, sozinha e disponível, procura homem simpático, solteiro e de mente aberta para relacionamento casual e sem compromissos.

E porquê? Porque o amor às vezes é mesmo uma f###.

4 comentários:

  1. Começo os meus comentários sempre da mesma forma: Valeu a pena esperar! Muito, muito bom, Pedro!

    E apenas me apraz dizer que o que escreveste é "tãoooo verdade"!!!

    (Apenas um aparte: quanto ao Horatio Caine... não, de todo!!! Já o House... há ali qualquer coisa... mas não perguntes o quê, não sei explicar... mas que há, há... :) )

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  2. A Joana é uma senhora cheia de razão... Hoje em dia não há tempo para lamechices, nem para jogos de engate (absurdos).

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  3. Então??? Estamos ansiosos que, o Pedro inaugure o ano. :)

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  4. Mas que bem! Inglaterra para quando, então?

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