terça-feira, 18 de agosto de 2009

Clint Eastwood e as não relações

O destino tem destas coisas.

Há dias atrás, e depois de vários meses sem falar com uma amiga minha, fui surpreendido por uma sms da Carla à qual respondi e acabamos por trocar algumas palavras simpáticas de ocasião.

Nessa mesma noite e de forma completamente inesperada, cruzamo-nos numa conhecida discoteca da margem sul. Inesperada não tanto pela Carla porque é uma habitué confessa da noite, mas por mim que raramente vou a discotecas, ainda para mais longe do perímetro urbano.

Curiosamente, há poucos meses atrás dei de caras com outra amiga minha, numa ainda menos vista aparição num espaço nocturno do mesmo género, mas desta feita no Montijo.

Não deixa de ser surpreendente atendendo ao facto de que em 2009 apenas fui a discotecas (humm.. ora deixa cá fazer contas..) duas vezes.

O Porto tem as noites brancas – e aproveito para esclarecer que não são festas onde o branco é o dress code obrigatório. Não. São festas onde se executam empresários e porteiros a tiro de pistola e shot guns, e não, não é preciso convite.

Se no norte o estilo da máfia local é ainda muito ao género do mítico spaghetti western de Sergio Leone Por um punhado de dólares, com muitos tiros, gajos feios, com cara de mau e com roupas que ninguém usa, por cá os enredos assumem uma dimensão muito mais sofisticada, elegante e de salto alto, ao melhor estilo do Sexo e a Cidade.

Lá em cima uma pessoa sai à noite e arrisca-se a dar de caras com um qualquer gang armado até aos dentes. Aqui por baixo uma pessoa sai à noite e dá de caras com as exs. Escolha difícil, gang armado até aos dentes ou exs. Humm..

Exageros à parte, os dois encontros imediatos de 3º grau não foram nada assustadores, bem pelo contrário, mas apesar de agradáveis partilharam algumas coincidências verdadeiramente incríveis, e isso sim é que é assustador.

É certo que faltam ainda 135 dias para o final do ano, mas nas duas vezes em 2009 que eu resolvo andar uns 20 kms de carro para não ser cumprimentado pelos dois gorilas à porta, depois de esperar uma eternidade para levar um cartão de consumo de 15€ e finalmente conseguir entrar, nessas duas vezes dou de caras com o meu gang armado privado.

Curiosamente as duas ocasiões envolveram as únicas duas pessoas a quem eu posso chamar ex qualquer coisa nos últimos tempos, o que não deixa de ser intrigante.

Eu ainda sou do tempo em que nós putos diziamos às miudas queres namorar comigo? Depois o namorar comigo foi substituído pelo andar comigo, e quando eu esperava que a seguir viesse o queres correr comigo? eis que surge o conceito da não relação, em que se assumem compromissos não se dizendo coisa alguma.

A Carla e a Ana (nomes que podem ser fictícios) enquadravam-se neste contexto das não relações sérias. Eu era o não namorado, não oficial, não assumido e presente apenas quando isso não envolvia estar com mais alguém!

É um não conceito de não relações muito moderno, mas quanto a mim padece duma certa e determinada negatividade. Reparem que nos últimos três parágrafos usei 9 vezes a palavra não. 10 com esta.

Foram portanto as duas últimas vezes no último ano e meio talvez, em que eu não tentei assumir uma não relação, porque achava que realmente valia a pena não tentar.

Isto pode parecer confuso mas compreender a dimensão deste não problema é até bastante simples, basta inverter a lógica do discurso e tudo fica mais claro: é um problema quando tentamos assumir uma relação porque achamos realmente que valia a pena. Cá está, muito mais claro!

Com a Carla e a Ana achei realmente que valia a pena não tentar. De tempos a tempos passam-me estas não coisas pela minha cabeça..

E quando achamos que vale realmente a pena as coisas mudam. Um beijo não é só um beijo, e quando um beijo deixa de ser só um beijo isso sim é um problema, especialmente quando estamos numa não relação.

As duas não relações duraram praticamente o mesmo tempo, e numa coincidência retorcida de fazer arrepiar aquele fulano macabro dos insólitos Yorn, as duas não relações terminaram pelas mesmas não razões. Essas guardo para mim, mas em jeito de desabafo deixaram-me profundamente não desiludido.

Nos meus tempos de puto era tudo mais fácil. As coisas tinham nome e não ficavam não arrumadas em meias palavras. Era o tempo do gosto de ti e do queres namorar comigo? do sim e do não, das dúvidas e das incertezas, das paixões e das tristezas. Tudo coisas que desapareceram com as não relações, e porquê? Porque não faz sentido.

Claro que não voltava para lá nem que me pagassem, porque foi também o tempo de coisas muito más como os New Kids on The Block, os penteados à Gloria Estefan e o acne, qual das três a pior.


Seja como for, as não relações de hoje continuam a ser dificeis de interpretar.

Imagino-me muitas vezes no meio do elenco de Por um punhado de dólares, a obra mais famosa de Sergio Leone.

Ali estou eu, duro, mau como as cobras, com barba de três dias, de chapéu à cowboy a sombrear-me os olhos enquanto masco o meu tabaco, com o poncho de alpaca a esvoaçar ao vento por entre dois revólver Colt prontos a disparar..

(entra a música)

tuuuiuuuiuuuuuuuu...

Avanço decidido para o confronto final, com o ruído das esporas a marcar a cadência dos meus passos..

tuuuiuuuiuuuuuuuu...

E no auge da intensidade dramática, com toda a gente presa ao ecrã.. desafio o Clint Eastwood para um não duelo!

Baaah!!

8 comentários:

  1. Pois é...aqui está um assunto que eu realmente Não Comento. Ou talvez o faça, mas só pk não vale a pena não comentar.Não Relações, o verdadeiro drama amoroso do Sec.XXI.
    Não concordas?

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  2. A Luana:

    Não me parece que sofras deste drama, afinal pediste-me em casamento pela net e esse tipo de relação não se enquadram nas "não-relações", certo? ;)

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  3. hummm...nao disseste o tãooooooooooooo desejado Sim.Não é um drama na mesma? Como vês , estou cá para os dramas.Se não são uns , são outros. :(
    A proposito, para quando um sinal da tua passagem por algum dos meus blogs?

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  4. ihihih..meu kido Peter Pan, o ke viste no meu blog é mais um Não Filme.Ou como tu lhe chamas uma Não Relação. Enfim...como te disse, o drama amoroso do Sec XXI.
    Bigada pelo comment.

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  5. A avaliar por este teu recente post devo dizer que tenho todo o gosto em verificar que afinal eu até tinha razão no que te disse em tempos acerca deste asssunto ;)

    Na altura não concordaste mas pelos vistos agora a "coisa" mudou (teu ponto de vista).
    Pedro Gamito convence-te que eu tenho (sempre) razão loooool

    Célia N

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  6. As nao relações talvez sejam melhores do que as más relações.
    Mas talvez seja eu que ando de mau humor...:D

    ps. deves andar em discotecas realmente duvidosas qd vens ao Porto, ha espaços com bom ambiente e muito ao genero do Sexo e a Cidade.

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  7. Eu não gosto d' "O Sexo e a Cidade" e todos os espaços que se assemelham não me atraem minimamente... Já vivi no Porto durante quatro anos, saí várias vezes à noite (raramente para discotecas) e nunca tive qualquer problema com isso. É uma cidade lindíssima e agradável, desde que se saiba escolher os lugares aonde vamos.

    Quanto às não relações... bem, isso dava uma tese de doutoramento. As relações mudaram porque o nosso modo de vida também mudou. Felizmente, as minhas relações, passaram todas por um princípio, um meio e um fim (menos a actual, que, espero, está longe do fim), mas um fim bem marcado, sem dúvidas, sem questões por resolver, sem portas abertas para o passado. Faço por não me encontrar com os meus exs, porque é sempre embaraçoso. Também faço por não comparar relações (isso levar-me-ia, provavelmente a concluir que as relações são todas iguais, perdendo, por consequência, a esperança de acertar em cheio). As não relações são isso mesmo, não existem, são casos passageiros que apenas servem para não sucumbirmos à tortura da solidão. Logo, não vale a pena pensar nisso. Fica bem...

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  8. Hummmmmmm...

    Certinho...direitinho!
    Compreendido E assimilado!!!

    Piralhita

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