sexta-feira, 29 de maio de 2009

Corega Sem Sabor



O mês de Maio está praticamente no fim, e fazendo um balanço destes últimos últimos 31 dias chego à conclusão de que não foi um mês de grande produtividade na blogosfera.

Quem leu a última entrada do Blog certamente deve ter reparado na frase de fecho do post: Tenho de arranjar uma namorada.

Já agora, aproveito a oportunidade para agradecer publicamente às duas pessoas que se mostraram disponíveis a abraçar esta causa, o que só me faz pensar que ainda existem neste mundo seres humanos com espírito de sacríficio, e capazes de ajudar os outros.

Mas, efectivamente, a ideia de poder vir a terminar os meus dias a arrastar-me em salões de baile fez-me colocar as coisas em perspectiva.

Não que tenha algo contra os salões de baile, simplesmente não quero abordar uma “babe” de 60 anos e perguntar-lhe, A menina não leve a mal, mas tem um sorriso tão bonito.. Posso perguntar-lhe qual é a marca da sua pasta fixadora?
Eerrgh..

Ehpaa, não estou ainda preparado para isto, portanto resolvi ser proactivo em relação a esta coisa da namorada.

Está explicada a minha ausência do Blog nos últimos 20 dias.

Houve que meter a mão na massa como dizem os padeiros, e pelo caminho lá ia mudando de canal sempre que aparecia o tal anúncio da pasta fixadora Corega Sem Sabor 40 G. Blheerk...

20 dias volvidos regresso ao Blog e sem novidades. Está tudo como dantes, à exccepção dum pequeno pormenor: estou 20 dias mais perto das matinés da Sela e da Cleóptra, essas reputadas casas de bailarico. E reputadas não foi um trocadilho.

O mistério adensa-se... O que se passa afinal?!

Olhando para trás rapidamente chego à conclusão de que o problema não é de agora.

No ciclo – o equivalente aos actuais 5º e 6º anos – não tive namorada por exemplo.

Nessa altura o mais perto que estive de ter uma namorada durou apenas uns breves segundos e foi num jogo de bate-o-pé, num tanque junto a um canavial, na periferia da Escola Preparatória do Bocage. Um sítio romântico portanto, com aquele bailado das canas ao sabor do vento, a renite alérgica e as picadas das vespas e dos mosquitos... Isso é que era...

Lembro-me perfeitamente desse primeiro beijo. Foi especial. Babei a camisa.

E até me recordo do nome da fulana que até hoje deve ter pesadelos com o meu aparelho para os dentes. Chamava-se Sandra, coitada.

Confesso que na altura até as fotos tipo passe tinham medo de mim. Era em tudo parecido com o Richard Kiel, o actor que fez de Boca de Ferro no James Bond, The Spie Who Loved Me, mas com uma diferença: o Boca de Ferro era muito mais giro e não tinha acne.

Depois da preparatória veio a escola secundária Sebastião da Gama. Mais do mesmo. Mais acne, mais ferro na boca e nenhuma namorada.

Recordo com especial carinho o meu primeiro dia de aulas na Sebastião da Gama. Na parte da manhã servi de saco de pancada para uns tipos do 10º ano porque não consegui dizer as horas num relógio sem ponteiros, e na parte da tarde tive de medir o campo de futebol com um fósforo. ...
Duas vezes.

Naturalmente fiquei sem a mochila, sem o lanche, sem dinheiro para os caramelos e ainda rasgaram os cadernos diários. Vá lá não terem partido os óculos já foi uma sorte.

Foi também no secundário que comecei a ser rotulado de geek, um estatuto que garantia inúmeros previlégios tais como não poder utilizar o polivalente, as casas de banho, e ser sempre eu o primeiro e o único a entrar à estátua. Era girooooo.

Obviamente que a solidão a que fui remetido obrigou-me a associar-me a outros geeks, também eles proscritos pelos demais colegas, e quanto mais me dava com os cromos mais longe ficava do grupo das miudas.

A minha passagem pela Sebastião da Gama durou pouco tempo e terminou com o episódio mais afamado do meu trajecto escolar nessa escola: o dia da bola de futebol.

Um certo dia fazia eu o meu habitual trajecto em redor do pátio da escola – outra àrea interdita aos geeks -, quando ouço chamarem o meu nome. Olho, e à minha frente estava uma bola de futebol, redondinha e mesmo a jeito, era só chutar.

Eu não me atreveria a tocar na bola mas por incrível que pareça alguém grita chutaaaa!, e eis que a minha hora tinha finalmente chegado!

Começo a correr e a grandeza do momento quase foi traduzida num super slow motion acompanhado pelo Chariots of Fire, do Vangelis. Enchi o peito de ar, puxei o pé atrás e desferi um portentoso pontapé que ficou para sempre imortalizado nas páginas douradas da minha adolescência.

Infelizmente a bola estava cheia de areia e pedras e acabei estatelado no chão e desta vez sim, com os óculos partidos.

Com o orgulho ferido de morte achei que dificilmente poderia sacar uma miuda na Sebastião da Gama, a menos que estivesse a pagar uma promessa, por isso resolvi pedir transferência para a escola secundária da Camarinha.

E antes que façam a pergunta, eu respondo: não, também não arranjei uma namorada, mas valeu a pena o esforço.

Também recordo com nostalgia o primeiro dia de aulas na Camarinha. Na altura estavam muito na moda os blusões de penas da Duffy, um artigo caro e por isso pouco acessível à maior parte dos bolsos.

Felizmente tive a sorte de receber um e foi com orgulho que entrei no pátio, ostentando o meu vibrante blusão de penas Duffy amarelo.

Não foi preciso esperar muito tempo para ficar sem o blusão, transformado em tiras esvoaçantes quando fui abordado pelo Gang do Bloco B, armado de ponta-e-molas e outros objectos cortantes.

Escusado será dizer que isso foi só o início. Depois disso veio a interdição do polivalente, a chacota geral e a condição de eterno suplente nos jogos de futebol em educação física. Ou seja, daí a não ter namorada foi outra vez um curto passo.

E se tinha algumas esperanças de sacar uma miuda no secundário, elas ruiram quando a minha professora de português decidiu começar a ler as minhas redacções em voz alta para a turma, apontando-me como um exemplo a seguir no que dizia respeito ao bom português, escrito e falado.

Ora, quem já engatou uma miuda no secundário com uma redacção por favor meta o dedo no ar!

.....

Continuando.

Com isto cheguei ao 12º ano, sem namorada, e a desenvolver um sério problema de calosidade na mão direita! Coooooff!

No essencial, não deixa de ser irónico pensar que quase 20 anos volvidos encontre agora os mesmos problemas que atormentaram a minha adolescência, mas duma forma completamente diferente.

Já não há redacções nas aulas de português, mas um Blog num espaço virtual que aquela data não tinha sido inventado sequer.

Já não meço campos de futebol com fósforos, mas o tempo continua a sua marcha mesmo nos relógios sem ponteiros, e cada minuto que passa estou 1 minuto mais próximo dos bailaricos e de saber tudo sobre a COREGA SEM SABOR 40 G, a tal pasta fixadora que não retira o sabor aos alimentos.

Blheeerk!

13 comentários:

  1. Bem Pedro... eu já estou quase quase lá... depois dou-te umas dicas... hehe
    Beijo... Tess

    ResponderEliminar
  2. Tá na hora de pensares que tipo de pêxe da profundura queres ser.

    Um Peixe pelicano ou um Oarfish?

    Ambos peixes das profundidades e sem dentes, nada que uma boa protese dentária fixada com Corega não resolva.

    ResponderEliminar
  3. Estava a ver que não saía mais nada... mas valeu a pena a espera, fartei-me de rir em frente ao pc :-D

    Agora concentrando-me no teu problema... como é possível não encontrares namorada?! O que menos falta são mulheres, ok, pronto, algumas não tão bem intencionadas, mas tb elas não querem, creio eu, chegar aos 60 a frequentar bailaricos. Vá, não sejas tão exigente, abre lá a portinha do coração :-)

    Beijos

    Anónima sonhadora :-)

    ResponderEliminar
  4. Pra quê te preocupares com isso?
    Ainda és um miudo...a melhor idade ainda está pra vir.
    Quanto a arranjares namorada...quando menos esperares ela vai aparecer.
    Será que não estás a ser muito exigente?!

    ResponderEliminar
  5. Oh Amigo isso ta complicadito.....das dua uma ou a fasquia da exigencia esta muito alta ou entao o menino deve ser complicado ate dizer chega ma pensado melhor....Quem sera que magoou o seu coração pra ter ficado assim tão amarguito....não ha amor como o primeiro certo???Desejo lhe tudo de bom,beijokinhas

    ResponderEliminar
  6. Passo a citar:

    Aqui ao lado diz "Escreva o que quiser desde que não ultrapasse os 1200 caracteres". Parece-me um pouco absurdo dizer "escreva o que quiser" e logo a seguir "desde que não ultrapasse os 1200 caracteres". Vou deixar isto em branco então...


    Poético.


    Ora entao ca estou,e devo dizer que gostei da perspectiva da introdução do tema do blog em si.Gatos?Cães?Hum...Mistério...Embora não considere muito acerca de manuais de sobrevivencia e muito embora deteste manuais seja la de quais forem,fica garantida a minha leitura!
    BORA LÁ ENTAO!

    ResponderEliminar
  7. Peter Pan amava a Polergazinho, apesar das diferenças bastantes obvios.
    O amor nam tem de ser logico, mas sentido sem olharmos ao k nos dizem.

    Partilho da tua opiniao k cada vez é mais dificil encontrarmos alguem k nos complete, e qd esse alguem parece ter chegado, temos um monte de obstaculos k nenhum dos 2 pretende ultrapassar. Habituamo-nos ao conforto das nossas vidas e achamos que nao vale o esforço, pk noutras alturas fomos magoados.

    ;) Bem Peter Pan, espero que encontres a tua Polegarzinho...
    ...e lembra-te os geeks do liceu sao agora nomes importantes a ganhar pipas de massa, e os "gangs" sao isso mesmo, pessoas que a sociedade evita a todo o custo

    Beijinhos do Norte!! com algumas saudadinhas das nossas conversas.:)

    ResponderEliminar
  8. Pois é Pedro, não me atrevo a dizer ke somos almas gémeas por duas razões: primeiro porque acredito que elas não axistem e segundo, porque pareceria demasiada presunção.Mas as diferenças entre o meu percurso e o teu resumem-se a 3 coisinhas apenas: eu não usava óculos, aparelho nos dentes e nunca medi um campo de futebol com um fósforo.Tudo o resto aconteceu...ahh sim...também nunca consegui arranjar uma namorada!ihihihih...é verdade...nessa altura nem mesmo namorado, apesar das redacções que a professora de português lia para a turma em voz alta.

    ResponderEliminar
  9. ahahahahahah!
    A fase da adolescência é tramada para todos, incluindo aqueles que por ela passam sem terem uma única borbulha! É a idade de todas as inseguranças. Mas também, quem consegue sobreviver à passagem desse cabo das tormentas sem grandes macelas, sai duplamente reforçado.E diz lá que não é bom poder dizer que somos muito mais giros agora, aos 30, do que eramos aos 15!??! Se fosse ao contrário, se calhar, seria bem pior, não?!?;)
    Ass:mulhercomcão

    ResponderEliminar
  10. Oh Pedro não é necessario agradeceres , foi de coração hahahahaha.
    Concordo com a "mulhercomcão" aposto até que agora olhas para aqueles "tipos" mais in da tua escola e pensas "coitados, eu estou bem mais giro" :)

    "...acho até que somos almas "quase" gémeas e os nossos feitios de tão diferentes completam-se de certeza..."
    Onde será que eu li isto?
    No caso deste post aplica-se o "quase" , felizmente ou infelizmente nunca passei por tais problemas durante o periodo escolar. Quando algo nao me agradava "porrada neles" looool.

    Célia N

    ResponderEliminar
  11. Oi lindinho
    Em relação a este post não vou fazer grande comentário... está muito bem escrito como todos os outros.
    A tua dificuldade em encontrar alguém que te complete começa na tua adolescência e o teu maior problema é a tua complexidade emocional... agora entendo quando dizes que és complicado lol.
    E concordo com uma frase referida anteriormente por uma pessa anónima e que também já te tinha dito... "Quanto a arranjares namorada...quando menos esperares ela vai aparecer".

    Muitos beijinhos

    Vanessa

    ResponderEliminar
  12. Só podes estar a gozar, ninguém acredita nisto! Conta lá, onde é que escondes as namoradas?:)) beijo

    ResponderEliminar
  13. Peter,
    Já passaste a fase da adolescência...
    E pelo que vejo, as candidatas que não existiam na altura, agora são assumidas.:P

    Não procures um grande amor... não vais encontrar maior amor do que aquele que já tens!!!

    Vai aparecer sim, e quando menos esperares, alguém que fale a mesma linguagem que tu, que te compreenda mesmo sem falares, que te aceite como és e não pelo que pareces ou pelo que dizem tu seres, que te respeite e admire pelo homem que és, alguém com quem sintas que ficas completo, não apenas por sentires tudo isso mas porque a outra parte sente o mesmo que tu.


    Bjinho grande,
    MS

    ResponderEliminar