O problema dos carros velhos é que no dia seguinte estão sempre um dia mais velhos que no dia anterior, e um dia mais próximos do abate compulsivo.
Estava eu todo feliz da vida com o meu FIAT UNO quando de repente o carro resolve entregar a alma ao criador da forma mais dramática possível. Pega fogo numa bomba de gasolina.
Aparentemente terá sido um problema no sistema de refrigeração do motor a provocar o fogo. Felizmente andava com algumas garrafas de água na bagageira, e consegui apagar as chamas a tempo de evitar problemas maiores.
Não fossem os problemas de refrigeração do motor que provocaram o incêndio, e eu não andava com as benditas garrafas de água atrás.
Bem vistas as coisas, no meio do azar acabei por ter sorte.
Privado do meu meio de transporte unipessoal vi-me obrigado a recorrer ao meio de transporte alternativo predilecto das classes médias sobreendividadas: o combóio.
Não há muitos dias atrás regressava eu do trabalho no habitual trajecto Roma/Areeiro – Setúbal, quando a minha mente desperta para uma conversa entre duas passageiras sentadas imediatamente atrás do meu banco.
Olhei de soslaio por cima do ombro fingindo que estava a arrumar qualquer coisa na minha mochila. Duas senhoras na casa dos cinquentas, tipicamente setubalenses, vestidas com aquela roupa da modista, e aformoseadas por uma quantidade significativa de bijuteria. Uma viúva, a outra divorciada.
Madame 1: Atão vizinha você tem saíde mais pa onde?
Madame 2: Ê tenhe ide é mais é pá Sela. Goste daquile, do ambiente e das pessoas muito bem aprresentadas..
Madame 1: E a música é muito boa... Porr acaso vão lá uns conjuntos de baile muito bons.
Madame 2: É verrdade, ainda no outrre dia fui ver o Eurrico Andrré.. Aquele moçe toca muito bêim.. Goste tante!
Madame 1: Olhe ê atão é mais é Cleópatrra.
Madame 2: Ah! Diz qu’é muite bom! Nunca lá fui mas já ouvi dizerr que tá semprre muito chêie.
Madame 1: E tem lá uns homens muito bonites também..
(risos)
Madame 2: Ah! Mas lá d’onde ê vou também há disse! Mas ê na ‘tou intrressada... Eles quando vêm assim à arrastarr a asa ê digue logo “desamparra-me a loja”...
Madame 1: Na é q’eu estêja intrressada, mas goste muite de bailarr quando me convidam...
Madame 2: Ê também! E ê na vou assim como você me tá a verr! Mête um vestidezinho, um perrfume, vou à cabelêrrêrra... Nem parreço eu! Vou nos trrinques!
Madame 1: Mas você baila com eles?
Madame 2: Sim! Só que quando eles começam com aquelas histórrias do “goste tante do sê prrefume” ê dôu logue pa trrás...
Madame 1: Ê também... Na querro mais marrides...
Madame 2: Mas ali você na vai encontrrar nenhum marride.
Madame 1: Pois ê sei... O que eles querrem sei eu..
Madame 2: Sexe! Eles querrem todes a mesma coisa...
Madame 1: É tudo pêxe da prrofundurra.
Madame 2: De vez em quande lá aparrece um mais jêtosinhe mas ê cá na querro chatices, tenho a minha casa paga, é só minha e querro lá agorra andarr a trratarr dum homem!
Madame 1: Pois ê perrcebo.. No mê case é diferrente sabe.. Desde que o mê Frrancisque se finou nunca mais tive ninguém, já lá vão quatrre anes...
Madame 2: Pois, uma pessoa vê-se sozinha assim dum momente parra o outrre...
Madame 1: É assim a vida...
(pausa)
Madame 2: Olhe pelo menos vai sainde aos bailes e na ficou fechada em casa!
(pausa)
Madame 2: Olhe pelo menos vai sainde aos bailes e na ficou fechada em casa!
Madame 1: Ê saio muito, até vou às matinés e tude! Lá da Cleóptarra toda gente já me conhece.
Madame 2: Temos de combinarr as duas uma matinézinha um dia destes!
Madame 1: Você vai gostarr! Ainda vai arranjarr assim um homem jêtose parra lhe fazerr companhia vai verr..
(risos)
Madame 2: Oh migaaa! É quase tude pêxe da prrofundurra...
- Próxima paragem... Setúbal.
Dou comigo a pensar se daqui a uns anos não vou ser também eu um dos peixes da profundura de que falam estas duas senhoras.
Imagino-me de fatinho cinza brilhante, sapatos lustrosos, com uma camisa branca de listas vermelhas aberta pelo peito para mostrar o belo do fio de ouro, cabelo cheio de brilhantina e puxado para trás por um daqueles pentes fininhos que se guardam no bolso das calças, com um bigodinho ralo e uma rosa vermelha presa no paletó.
Um autêntico pêxe da prrofundurra...
Medoooooo!
...
Tenho de arranjar uma namorada!
a cleopatra w a sela....
ResponderEliminarqual deles o pior
lololo
bom trabalho...
Se não fosses de tão longe concorria a vaga por preencher ;)
ResponderEliminarNao quero de modo nenhum que te tornes num desses "pêxe da prrofundurra" !!!
Bj
Célia N
LOL
ResponderEliminarEstás com a crise dos trinta!!! :|
Eu ate gosto de comentar, mas à parte de andares a procura de namorada e pelos vistos ja há fila, nao me ocorre nada assim de repente.
ResponderEliminare Pexe da profundura...nah...nope...nem sei o k isso é...
Bem eu nao te consigo ver assim... Quando começares com indicios de chegares a esse ponto tu avisa lol
ResponderEliminarBeijocas
Realmente...há coisas curiosas! Caramba!! Há coisas mesmo muito curiosas...visita-me e logo percebes porque digo isto.
ResponderEliminarMas já agora e há parte da curiosidade...o teu blog é girissimo. :)
Será que com isto estás a dizer que cinquentona é sinónimo de desesperada...
ResponderEliminarOu que estás com medo de ser "filado" por uma dessas cinquentonas todas arranjadas...
Mais uma vez... Palavras para quê?
MS