domingo, 26 de abril de 2009

O Divórcio, as Alergias e os Àcaros

De acordo com o jornal Correio da Manhã, em 2006, data dos últimos dados oficiais publicados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística -, foram decretados 23.935 divórcios. Ou seja, a cada 100 casamentos realizados em Portugal 48 terminaram em divórcio. Isto representa quase 1 divórcio a cada 2 casamentos.

Extrapolando para a União Europeia (já agora, somos 27 para quem anda mais desligado destes fait-divers), o Instituto de Política da Família – um organismo internacional independente - apresentou recentemente em Bruxelas os resultados finais de um estudo que aponta para um casamento dissolvido a cada 30 segundos na União Europeia.

Para quem está a ler este post apenas dois parágrafos bastaram para acontecerem 2 divórcios algures na europa dos 27. À semelhança do que acontece em Portugal, na UE a cada 2 casamentos há um que termina ao estalo, e a este ritmo no final de 2009 a taxa de insucesso vai reclamar quase 1 milhão de separações. É muito estalo.

Reportando-nos ao mesmo período de 2006, a OMS – Organização Mundial de Saúde – estimou na altura que cerca de 1/3 da população mundial sofria de doenças alergológicas como a rinite e a asma, provocadas por poeiras domésticas, pólens e pelos repugnantes àcaros dermatofagóides, aqueles mesmo nojentos que se alimentam de pele morta. Blheeerk...

À primeira vista divórcio e alergias são dois problemas completamente díspares e que não têm qualquer relação directa um com o outro.

No entanto, no universo do Homem com Cão nem tudo o que parece realmente é.

Sem grande esforço encontramos desde logo um ponto em comum entre as separações e as alergias: as duas são o pior pesadelo das seguradoras.

Começando pelos divórcios, em Portugal são directamente responsáveis por 1/3 do incumprimento à Banca, ou seja, custam às seguradoras e às instituições financeiras qualquer coisa como 2 milhões de euros por dia. Ui que até doi!

Ainda vamos ver chegar o dia em que os bancos enviam os gestores de conta dos jovens casais para as igrejas, qual atirador furtivo dos GOES:

Padre: ... Se alguém tem alguma coisa a dizer que fale agora ou que se cale para sempreeee!

(silêncio...)

Gestor de Conta: Ora já que ninguém diz nada se calhar vou eu dizer umas palavritaaaas...

Já as alergias colocam quase 2 biliões de pessoas a dependerem de anti-estamínicos como o Zyrtec, e a correrem sérios riscos de adormecerem ao volante:

Ex-Alérgico: Quem és tu?!

São Pedro: Eu? Eu sou São Pedro, o Guardião das Portas do Céu...

Ex-Alérgico: O Guardião?! Mas porquê?!

São Pedro: Porque tenho as chaves possas! Não vês?!

Ex-Alérgico: Não! Eu queria dizer “mas porquê??!” Porque é que eu estou aqui?!

São Pedro: Ahh! Desculpa lá meu filho mas normalmente ninguém repara nas chaves! Oh meu filho tu estás aqui porque tomaste aquele zyrtec para a rinite, lembras-te?

Ex-Alérgico: Quer dizer que... eu... morri?

São Pedro: Pois, olha pensa assim meu filho, pelo menos já não espirras mais pronto!

Mas as coincidências não acabam aqui. Na verdade para qualquer homem com cão que sofra de rinite alérgica e que seja, ou já tenha sido casado, existe de facto uma relação directa entre as alergias e o divórcio. Pertinente e perniciosa... Vejamos o seguinte caso prático:

A semana de trabalho foi longa e cheia dos habituais problemas com o chefe que é uma besta, e que insiste em fazer da nossa vida um inferno para aligeirar a dele que não faz sentido nenhum.

Entretanto recebemos mais uma coima das finanças, aparentemente porque pagamos a última fora de prazo. Como todas as anteriores esta também ficou nos CTT até ao último dia.

Pelo meio a habitual correria do trabalho para a escola dos nossos filhos, a olhar para o relógio parado no trânsito, ou soterrado de gente nos transportes públicos, sem tempo para mais nada a não ser tentar chegar a casa o mais cedo possível, quase sempre tarde demais.

Depois vem o banho dos filhos, demorado porque para eles banheira rima com brincadeira, e com todo o tipo de brinquedos que flutuem, mesmo aqueles que não foram feitos para flutuar.

Segue-se o jantar, colocar a mesa e ajudar com os livros de pintura, tudo isto enquanto ficamos a saber que o Afonso meteu areia nos bolsos do Rodrigo, a Maria fez birra porque queria brincar na casinha das bonecas, e o José deu um soco ao nosso filho no intervalo. Nota mental: falar com o pai do José.

Depois do jantar há que lavar a louça, arrumar a cozinha, a mochila da escolinha para o dia seguinte, preparar a roupa, a dos nossos filhos e a nossa, brincar com os miudos, adormecer os miudos, e tentar não adormecer também para vermos 10 ou 20 minutos de televisão, antes de finalmente adormecermos.

A este ritmo a semana passa depressa e chegados a 6ª Feira perspectivamos enfim o merecido dia de descanso, sem agenda e sem horários. Certo? Ergh.. Errado.

Ela: Esta casa está um nojo! E tu não fazes nada!

Ele: Eu?! Limpei isto tudo na semana passada...

Ela: Olha, e limpaste muito bem sem dúvida!

Filho: Paaa-iiii... Vamos jogar à bolaaaa...

Ele: Já vamos filho... Depois do almoço.

Ela: Depois do almoço vais aspirar a casa!

Filho: Paaa-iiii... Vamos ao McDonalds?

Ela: Vais outra vez ao McDonalds?

Ele: Oh filho vamos noutra altura...

Filho: Ohpaaaaa!

Ela: Vai lá ao McDonalds! Depois dizes que a culpa é minha!

Filho: E podemos jogar à bola depois Paaa-iiii?

Ele: Oh filho temos de limpar a casa...

Ela: Se tivesses limpo bem na semana passada agora não precisavas de limpar outra vez!

Ele: É só o que faço cá em casa, limpar isto tudo!

Ela: Ohh! Tu não fazes nada! Se não for eu a fazer...

Filho: Paaa-iiii... Compras uma pastilha a seguir?

Ele: Compro filho...

Ela: Só coisas boas! McDonalds, pastilhas... Não te esqueças é de limpar a casa!

Ele: Não vais ajudar?

Ela: Tenho trabalho no escritório, e a seguir vou à Luisa fazer a depilação, as unhas e uma esfoliação.

...

E num ápice a nossa merecida tarde de descanso, sem horários e agenda, transformou-se numa luta sem quartel com o pó e com os ácaros dermatofagóides, o que para um homem com cão com rinite alérgica é quase tão agradável como comer lâmpadas à dentadaaaa.

Mudar o saco do aspirador, sacudir o pano do pó, arrastar móveis, sacudir mantilhas e carpetes, com o nariz a pingar enquanto espirramos vezes sem conta atacados por uma persistente comichão capaz de irritar o mais paciente dos otorrinos, é nisto que se transformou o nosso merecido dia de descanso. Num campo minado de ácaros!

Pergunto eu, não haverá aqui afinal uma relação qualquer entre o divórcio e as alergias? Hummm?

Há que perceber que o paciente alérgico, tal como nos divórcios, não nasce hiperreativo. Ou seja, não nasce divorciado.

Normalmente, a hipersensibilidade a determinada substância surge depois de muitos anos de co-existência pacífica, numa altura em que começamos a desenvolver sintomas de intolerância tardios. Vou só sublinhar esta parte dos sintomas de intolerância tardios...

Traduzindo para miudos, o quase-alérgico começa a espirrar com alguma insitência sempre que se vê em contacto com o pó, já o quase-adivorciado começa a pensar no assunto com alguma insistência sempre que se vê em contacto com o aspirador.

Mais pontos em comum. O primeiro desenvolveu uma reacção alérgica ao pó, o segundo à mulher.

Na minha modesta opinião são coincidências a mais.

Se por acaso o seu homem com cão começou a espirrar de forma persistente, em vez duma caixa de anti-estamínicos pense melhor e invista numa mulher-a-dias aos fins-de-semana, e não deixe o seu marido literalmente entregue aos bichos.

Lembre-se, os problemas são como os àcaros, não se vêm mas estão lá.

sábado, 18 de abril de 2009

Conversas de Gajos

*Atenção: Este post contém linguagem explícita de gajos...

Ao contrário das mulheres com gato, os homens com cão raramente ligam entre si porque precisam de falar. Nós não fazemos isso pronto! Ou melhor, se fazemos é porque não estamos ainda certos da nossa sexualidade:

Leonidas: Alô? Doriváu?

Doriváu: Sim Leo falaaa..

Leonidas: Aii Doriváu.. Tu sabi lá.. Estou em baixo meismo..

Doriváu: Oh meu querido, qui foi?

Leonidas: O Claudjio acabou comigo aquele trássstii!

Doriváu: Noooossaaa?! O Claudjio acabou com vooocêê??!

Leonidas: Não istou nem acreditando drogaaa!

Doriváu: Minha nossaaaaa!

Leonidas: Estou precisando disabafá com ‘ocê Doriii...

Doriváu: Vem meu querido vem!

... blheerk! ...

Portanto, excepção feita aos Dorivaus e aos Leonidas desta vida, gajo que é gajo não liga para disabafá com ninguém.

Há outras formas de o fazermos, e como nestas coisas somos até bastante práticos, nada melhor do que uma tarde de bola para procurarmos conforto junto do amigo mais próximo.

Bifanas, mines, futebol e gajas. Um cenário insuspeito e que permite falar de qualquer assunto do foro pessoal sem que o nosso ego saia diminuído.

Afinal estamos a dar o flanco e a expôr fraquezas que são só nossas, e que nem à nossa mãe contamos. Não podemos fazê-lo numa mesa de café com a lágrima no canto do olho! Depois o que se seguiria? Um abraço em público com dois marmanjos lavados em lágrimas?? Helloooo?! Cena muito Gaaaay?!

Não. Nós abrimos o coração sim, mas no meio de 50.000 gajos no intervalo do jogo, e com as cheerleaders do Benfica a dançarem de mini-saia no meio do relvado! Isso sim, é d’Homem!
Lembram-se do meu amigo Bruno? Aquele dos leitinhos e do tulicreme... Esse mesmo!

Eu: Trazes as pastilhas para o estômago?

(risos)

Bruno: Ehpa, não gozes! A minha mãe exagera fogo!

Eu: Oh então é normal pah, é a tua mãe.

Bruno: Pois, sabes como é... Ainda por cima sou filho único.

Eu: Pois eu sei. Dou-te 5 minutos e está a ligar a dizer para ires com cuidado, vais ver.

Bruno (já a dar pancadas no volante): Ehpa nem me digas nada. Odeio quando ela faz isso! Olha a Guida passa-se com isso.

Eu: Pois... Olha mete pela Vasco da Gama, a 25 de Abril deve estar completamente cheia a esta hora... Pois coitada da Guida pah, tem de aturar-te a ti e à Dona Ana

(risos)

Bruno: Elas dão-se bem uma com a outra..

Eu: Dão-se bem porque tu ainda vives com a tua mãe, e a Guida vai lá a casa e sabe que não pode dizer nada... Um dia que te juntes vais ver como é!

Bruno: Ehpa eu não vou juntar-me tão cedo Pedro... Pelo menos com a Guida!

Eu: Então? Pensava que estavas bem com a Guida pah...

Bruno: Ehpaa.. Estou e não estou! A Guida não é mulher de fazer planos pah.

Entretanto toca o telefone... Olho de soslaio, mamã no ecrã. Belisco-me na perna para não me rir.
Eu: Olha, o que é que eu disse?! 10 minutos! Atrasou-se desta vez (risos) mete em alta voz!

Bruno: Estou mãe...

Dona Ana: Estouuuu? Filho? Ai ouve-se tão maal!

Bruno: Oh mãe está em alta voz!

Dona Ana: Ahh! Olha filho não metas o saco com os leites ao sol!

(ahahahahahahahaah!)

Bruno: Oh mãe...

Dona Ana: Olha, ouvi aqui na rádio que a Ponte 25 de Abril está cheia, desviaste para a Vasco da Gama?

Bruno: Sim mãe, desviei...

Dona Ana: Pronto, vai com cuidado filho! Oh Pedro está a ouvir?

(ahahahhh... ergh??)

Eu: - cooff cooff – Estou sim Dona Ana, diga...

Dona Ana: Oh Pedro veja lá vão devagar! Tenham cuidado os dois!

Eu: Ah! Esteja descansada... O saquinho com os leitinhos e o tulicreme vai aqui debaixo de meu banco no fresquinho!

Bruno (entretanto com o alta voz desligado já): Ehpa foda-se! Para de gozar! ... Oh mãe eu vou desligar está bem? Depois falamos vá lá... .... sim sim ... Está bem, beijinhos...

...

Bruno: Vá, ri-te à vontade...

Eu: Ehpa amor de mãe.. Estás lixado tu (risos) olha que nenhuma gaja vai aturar isso, muito menos a Guida...

Bruno: Eu e a Guida... Ehpa nós não estamos lá muito bem os dois... Também foi por isso que te liguei para irmos à bola.

Eu: Então mas podiamos ter falado no café...

Bruno: Ehpa isso é uma cena gay, assim sempre vemos a bola, comemos umas bifanas e bebemos um sumol.

Eu: Beber um sumol na bola também é uma cena muito gay pah (risos). Olha e o lanche da tua mãe?

Bruno: Eu levo isso amanhã para o trabalho, deixa lá...

Eu: Então e a Guida? O que se passa? Mas vocês não estavam bem os dois?

Bruno: Ehpa estavamos, mas discutimos na 3ª Feira e olha ela não me ligou mais e eu também não lhe liguei e pronto...

Eu: Ehpa.. Mas discutiram porquê?

Bruno: Ehpa não dá para um gajo fazer planos com a Guida! Ela só quer é jantaradas, e saídas à noite com as amigas e viajar... Os pais pagam-lhe tudo em casa, e o guito que ela ganha é para estourar...

Eu: Mas tu já sabias disso logo no início... Ehpa também não te percebo! Acabaste com a Teresa porque era uma sem-sal e agora não estás bem com a Guida?

Bruno: A Teresa é uma miuda espectacular, como deve ser. Ehpa eu ponho as minhas mãos no fogo por ela, já não se fazem mulheres assim... Olha é como a minha mãe e a tua!

Eu: Mas acabaste com ela porque não te dava tesão na cama... Se calhar é por isso que é tão parecida com as nossas mães

(risos)

Bruno: Foda-se oh Pedro, um gajo está ali parece que está com a Madre Teresa de Calcutá... Ela não se mexia, só dizia “adoro-te tanto amor, adoro-te tanto amor”. Mas o que estragou tudo foram os ciumes, sabes disso...

Eu: Pois. Ela é um pouco psycho sim. Mas a Guida tem andamento. E não é ciumenta.

Bruno: Ehpa a Guida dá grandes fodas, não há dúvida... Ela mexe-se muito bem...

Eu: Então mas vocês discutiram porquê?

Bruno: Por causa duma merda dum frigorífico!

Eu: Hann? ... Olha ali um lugar!

Bruno: Sim, já vi... Ela disse que não percebia porque é que as pessoas poupam dinheiro para comprar um frigorífico se podem viajar! É mesmo de quem não tem nada na cabeça!

Eu: Tens de dar um desconto Bruno, afinal ela usa o frigorífico dos pais.

Bruno: Mas eu também uso! O que está aqui em questão é a forma como ela pensa!

Eu: Pois realmente... Mas a Guida é boa pah. E é gira. Olha que não vais arranjar uma miuda assim tão depressa. E ela gosta de ti.

Bruno: Pois eu sei. Mas também não me ligou mais.

Eu: Ehpa as mulheres gostam de fazer esses jogos do “agora não te ligo para ver se ligas” e tal... Deve estar à espera que tu ligues de certeza absoluta.

Bruno: E achas que deva ligar?

Eu: Claro que sim pah! Deixa-te dessas merdas, isso são cenas de gaja. Bem não vais ligar agora... Olha ali a barraquinha do Tobias!

Bruno: Uiiii! O Tobiaaaaaas! Mel!

....


Entretanto o telemóvel volta a tocar. Advinhem...

Bruno: Sim mãe... Sim, já chegamos... Humm humm... Sim, vamos entrar agora. Sim trouxe o lanche comigo... Vá... Beijinhos, beijinhos.

Eu: Tu não prestas pah! A mentir à tua própria mãe por causa duma bifana do Tobias

(risos)

Bruno: Ehpa isso não conta como mentira. Também é só uma.

...

Eu: Olhe, se faz favor! São duas bifanas e dois sumois de ananás!

Senhor das bifanas da barraca do Tobias: Dois quê?

Eu: Ergh.. Dois sumois.. De ananás...

Senhor das bifanas da barraca do Tobias: Se quiser um chazinho também se arranja!

Entretanto algumas dezenas de saguins interrompem o repasto para regozijarem perante a presença de dois aparentes tótós junto da barraquinha do Tobias...

Eu: É sempre a mesma merda foda-se...

Bruno: (chomp.. chomp..) Ya.. Olha come de boca aberta e não te esqueças de sacudir a perna enquanto coças os tomates

(risos)

Eu: Mas o que é que esta gente tem contra o Sumol? É feito em Portugal há 50 anos pah!

Bruno: Deixa lá ver se isto hoje corre bem com o Benfas...

Eu: Olha e o que vais fazer com a Guida?

Bruno: Eu ligo-lhe logo à noite quando chegar.

Eu: Mas tu ainda gostas dela?

Bruno: Ehpa gosto, mas não estou a ver nenhum futuro nisto (chomp..) as bifanas são mesmo boas pah...

Eu: (chomp..) pois são (chomp..) olha ali à tua esquerda, o melhor rabo aqui das barraquinhas.

Bruno: (chomp..) o de vermelho?

Eu: (chomp..) yap!

Bruno: Ehpa é redondinho (chomp..) e faz aquela curva nas costas..

Eu: Aqui na bola é um 8 na boa.

...

Entretanto a fulana vira-se...

Nós: Ehpaaaaaaaaaa!! Saiu ao pai!

Bruno: Baixa para 6!

Eu: Com muita boa vontade...

Bruno: Minha rica bifana!

Bruno: Queres outra?

Eu: Ya! Pede mais um sumol também...

Bruno: Olha pede tu!

Eu: Temos de deixar de beber sumol pah...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fim de Semana Prolongado - Parte I

Depois de alguns meses de chuva e frio a primavera trouxe finalmente os primeiros dias de sol a sério.

Para a generalidade das mulheres com gato, os primeiros dias de sol representam o pretexto ideal para fazerem as primeiras compras da nova estação.

Depois de várias horas a desenterrarem roupa da primavera/verão do ano passado, as mulheres com gato chegam à conclusão de que afinal não têm nada para vestir, e rapidamente agendam uma reformulação profunda do guarda-roupa.

Antes porém é necessário avaliar os estragos causados durante o Outono e Inverno, e o teste do algodão é quase sempre feito com aquelas calcinhas de ganga super giras da Miss Sixty, com missangas e cintura descaída, e que foram um arraso no verão do ano passado.

Está a ver quais são? Hummm... São essas mesmo!
Agora vá experimentando enquanto lê o resto...

O problema é que com os primeiros raios de sol aparecem também os primeiros centímetros a mais nas coxas e no rabo, e aquela barriguinha que não estava lá há 6 meses atrás. Ah pois é bébé...

Pronto ok, você até conseguiu entrar nas calças, mas só depois de espernear em cima da cama, e de muitos saltinhos em bicos de pés à medida que ia puxando as calças para cima.

(saltinhos..)

Você: Eu não acredito!

(mais saltinhos)

Ainda você: Entra possas!

(espernear)

Advinhe... É você: Entraaaaa!


Pronto, entraram. Mas agora é preciso respirar, e quando essa simples tarefa começa a complicar-se as mulheres com gato pegam imediatamente no telefone.

Tuuuuuuuuuuuuu.... (chamada em espera...)

If I were a boy… Even just for a day… (Waiting Ring da Beyonce)

Rita: Estou? Kika? Ohpa nem vais acreditar!

Kika: O que foi querida? Foi o Tomás outra vez?
Rita: Quem?

Kika: O Tomás? O teu ex? Helloooo?

Rita: Mas tu achas que eu tenho cabeça para o Tomás agora?!

Kika: Então mas o que foi Rita? Já me estás a deixar preocupada amiga!

Rita: Ohpa.. Estás a ver aquelas calças super giras da Miss Sixty de cintura descaída e com missangas que eu adoro?

Kika: Sim, lembro-me perfeitamente, ficam-te super bem essas calças. Ai não me digas que trocaste o programa da máquina e elas encolheram...

Rita: Olha antes fosse isso! É muito pior... Eu não caibo cá dentrooooo!

Kika (em estado de choque): Aiiiii!

Rita: Estou tão gorda! Pareço a baleia daquele filme, “Free Willy”.

Kika: Não era uma baleia querida, acho que era uma Orca.

Rita: Olhaaaa?! Não estás a ajudar!

Kika: Aiii! Pára de comer imediatamente amiga!

Rita: Eu estou uma baleia! E faltam menos de 3 meses para o Verão!

Regra geral, no dia seguinte e depois deste telefonema começam a esgotar as àguas Formas Luso nas prateleiras dos Hiper, juntamente com os chás de emagrecimento.

As inscrições nos Health Clubs disparam em flecha, e um pouco por todo o lado começam a sair saladas à hora de almoço. De atum, de camarão, de galinha, com frutas, mista, ou simplesmente alface com alface, vale tudo menos arrancar olhos, e dê por onde der mas essas calças que você tem aí vão ter de servir no Verão.

Uma semana mais tarde, e com a chegada da Páscoa, Kika resolve juntar as amigas aproveitando o feriado de 6ª Feira Santa para um fim-de-semana prolongado na sua casa de férias na costa alentejana.

Um destino insuspeito nesta altura do ano e por isso ideal para experimentar as primeiras roupas Primavera/Verão 2009, ainda com as medidas Outono/Inverno 2008.

A agitação sazonal do Algarve fica para o período estival.
Por agora o importante é tonificar a pele e aproveitar os 26 graus de máxima longe dos olhares mais indiscretos, até porque o teste do algodão foi uma tragédia grega e ainda não é a altura certa para enfrentar multidões nas praias algarvias.

Ao contrário dos homens com cão as mulheres com gato simplificam tudo e as contas neste caso são fáceis de fazer:
+3 meses – 2cms na cintura = Algarve.

Por enquanto o mais a sul permitido pela cintura é mesmo a costa alentejana, em Vila Nova de Milfontes, o refúgio perfeito para um daqueles fins-de-semana de gajas em que os meninos não entram, ou pelo menos não logo no início...

Como sempre acontece a melhor parte do fim-de-semana é a viagem.
Afinal, o que pode acontecer quando 4 mulheres com gato se juntam num Grand Vitara a caminho dumas mini-férias em Vila Nova de Milfontes?
...
A questão era meramente retórica, mas eu dou a resposta à mesma: tudoooo! Até darem de caras com vida extra-terreste a meio caminho.

Não menosprezem 4 mulheres com gato sozinhas num Grand Vitara, e a caminho dum fim-de-semana prolongado em Vila Nova de Milfontes...

Kika: Ai estes dias vão fazer-nos tão bem meninas!

Joana: E está um tempo óptimo! Yuuuuuu!

Rita: Só espero que a praia esteja vazia senão eu não saio de casa. Estou uma baleia.

Susi: Oh Rita não exageres... Isso não é nada!

Rita (já a hiperventilar): Isso?! Isso?! Quando isto passa a ser “isso” é porque é grave! Ai meu Deus..

Susi: Olha estás melhor do que eu e eu não me estou a queixar.

Joana: Isso é porque tu saiste do mercado, e uns centímetros a mais já não fazem diferença ao Henrique.

Dois anos após a separação e muitas tentativas depois, Susi conseguiu finalmente ultrapassar a barreira psicológica dos 2 meses num mais-ou-menos-género-de-relação com Henrique, e apesar de nenhum dos dois ter usado ainda a palavra tabu (relação), o entusiasmo de Susi era evidente.

Susi: Oh, isto não é nada... Só passaram 2 meses e 4 dias.

Kika: Desculpaaaa? Estás a contar os dias? Bem tu estás mesmo caídinha Susi..
(risos)

Joana: Completamente! Ela passou o último fim-de-semana no Ikea a ver conjuntos de toalhas para a casa de banho.
(mais risos)

Kika: Oh querida desculpa estar a desiludir-te mas 2 meses e 4 dias não é ainda uma data oficial.

Susi: Nós não andamos. Não há uma relação ainda...

Joana: Não há mas já foste ver toalhas para o Ikea! Daqui a duas semanas muda-se para a tua casa!
Kika: Daqui a três semanas tens o tampo da sanita levantado e o lavatório cheio de pêlos da barba de manhã!
Rita: E daqui a 4 semanas tens roupa espalhada pela casa toda, nenhuma comida no frigorífico e metade do teu roupeiro já não é teu!
(mais risos)
Susi: Vá lá não sejam assim... Vocês são umas invejosas!

Kika: Olha a Beyonce! Aii eu adoooro esta música! Mete mais alto!

(todas em coro)
If I were a boy… Even just for a day…

(agora a parte em que nenhuma sabe bem como é que se canta...)
na na na in the morning.. na na na drink beer with the guys..

Rita: Mas afinal quando é que uma relação passa a ser uma relação?
Joana: Hummm.. Eu acho que tem de durar pelo menos 6 meses para ser uma relação.

Kika: É um número redondo. Apresentar aos pais antes dos 6 meses está completamente fora de questão.

Joana: Se ele chegar lá..

Kika: Pois! Normalmente eles mudam de número aos 3...
Joana: Depois ligas e ouves aquela mensagem da operadora, "o número que ligou não se encontra atribuído..."
Susi: Ai vocês são mesmo terríveis (risos) o Henrique é um querido...

Rita: Aiiii! Desculpem temos de parar! Tenho de ir fazer xixi!

Kika: Outra vez Rita?!

Rita: É do chá que estou a beber possas! Ai pára pára!

(continua...)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Homo Complexus


Durante os últimos 30 dias foi perguntado às mulheres com gato deste blog que tipo de homem escolheriam se existissem apenas 4 espécimens na Terra.

O homem com cão atlético, muito giro, com aquele sorriso pepsodent mas muito egocentrado, não recebeu qualquer voto e foi fazer companhia ao tipo mais discreto, caladinho, muito educado, sensível e atencioso.
A mensagem foi clara. As mulheres com gato deste blog não gostam de extremos.
Bad Boys e tótós estão fora da equação.

A luta foi entre o homem com cão rebelde, espontâneo mas imprevisível, e o tipo mais divertido, confiante, seguro de si mas muito difícil também.

Pasme-se, o aventureiro recebeu apenas 1 voto. Ou seja, 99% das mulheres com gato que votaram neste inquérito preferiram o homo complexus, o homem complicado.

Provavelmente, aos olhos duma mulher com gato somos todos complicados a partir dum certo ponto, mas no meio de tanta diversidade existem alguns homens com cão realmente complexos.

São difícieis, complicam tudo, e com eles quando alguma coisa pode correr mal então é certo e sabido que vai mesmo correr mal.

Meninos assim têm de ser encarados como um projecto de vida, com grande espírito de missão e sacrifício pessoal, quase como se em troca estivesse a comprar o seu lugar no céu, redimindo-se de todas as vezes que foi ao frasco buscar bolachinhas de chocolate antes do jantar estar pronto, quando era mais miuda.

Lidar com um homo complexus desta estirpe é pior do que enfrentar o virus da gripe de manga curta. Ao menos com a gripe ainda teria algumas hipóteses.

Com este tipo de patologia não existem garantias de sucesso, e no final a história pode terminar no divã dum psicanalista e com um receiptuário cheio de antidepressivos.

O cenário é assustador, mas mesmo sabendo disto 99% das mulheres com gato continuam a preferir um homem complicado a qualquer outro.

Imaginem uma loira a fugir dum psicopata com uma motoserra. Desesperada encontra uma tabuleta. Para o lado esquerdo a salvação para o lado direito um beco sem saída...
É por isso que os psicopatas só perseguem loiras, mais tarde ou mais cedo há sempre um beco sem saída onde vão procurar refúgio.

Com os homo complexus a história é mais ou menos assim, mas com uma diferença:
a mulher com gato toma a decisão de forma consciente, e acredita que no fim vai conseguir dar um exerto de porrada no psicopata armado com a motoserra.

Mas antes que a esperança se dilua como as promessas eleitorais do PS, há que dizê-lo frontalmente. Também aqui a luz ilumina o fundo do túnel, e por vezes o tipo complicado por natureza transforma-se mesmo na sweetest thing que todas as mulheres com gato procuram.

Quando isso acontece o homem que já não é complicado vem afinal costum made às necessidades de cada uma, e dificilmente conseguirá encaixar de forma tão perfeita noutra mulher com gato como encaixa consigo.

Mas até chegar aqui uiii uiii!
Lembre-se, o divã e o Prozac estão sempre a um curto passo de distância.

O fascínio das mulheres com gato pelos homo complexus é essencialmente um problema cultural.

Shakespeare disse Lutar pelo amor é bom, mas alcança-lo sem luta é ainda melhor.

Chego à conclusão que o Shakespeare nunca viu uma telenovela da TVI, porque se o tivesse feito não teria dito uma barbaridade destas.

Um exemplo concreto:
na novela Flôr do Mar - por sinal líder de audiências na TVI - existe uma fulana que ama desesperadamente um outro fulano que morreu, mas que afinal não morreu. Está vivo, mas esse fulano pensa que essa fulana já não o ama e que gosta de outro, por isso prefere manter o secretismo em redor da sua morte, porque ainda ama essa fulana e custa-lhe muito vê-la com outro.

Na mesma novela um outro fulano perdeu a mulher da sua vida e passou os últimos 25 anos a carpir mágoas pelo canto da casa. Quando finalmente se apaixona de corpo e alma, descobre que a fulana é afinal sua meia-irmã, e que está feita com o irmão para dar cabo dele e sacar-lhe a fortuna. Dramático. Noveleiro, mas muito dramático.

Ou seja, basta ver uma novela da TVI para saber que no nosso quintal à beira mar plantado o amor não vem sem o tal enxerto de porrada no psicopata da motoserra.

Aqui tudo tem um preço e amar sem sofrer é não saber porque se ama afinal.

As mulheres com gato sabem disto e quando se deixam encurralar no tal beco sem saída com um tipo complicado à sua frente, é porque querem enfrentar o destino de dentes cerrados e punhos fechados, preparadas para a maior sova de que há memória.

Lidar com um homo complexus requer acima de tudo muita paciência.

Fazendo da blogosfera o meu divã nos próximos minutos, para o bem ou para o mal eu considero-me um homem com cão complicado.

Há quem me encomende os mais rasgados encómios e há também quem não poupe nos pregos na hora de fechar o caixão.

Comparo-me muitas vezes a um Hidrato de Carbono complexo: sou altamente calórico e só faço é mal mas, por outro lado, quem é que consegue viver de saladas a vida toda?

No fundo sou igual a toda a gente e abuso daquilo que nos torna humanos: a imperfeição. Mas apesar de gostar de coisas simples, eu sou um desses tipos complicados que atazanam a paciência até da missionária mais devota à herança da Madre Teresa de Calcutá.

Lembro-me de há pouco tempo ter dito em conversa que lamentavelmente não vinha com manual de instruções, e os homens complicados são assim, cada caso é um caso e bola no mato que o jogo é para o campeonato.

Mas entre todos existe um denominador comum à nossa linhagem: à partida - e provavelmente à chegada também – as fofinhas têm tantas hipóteses de sucesso como as hipóteses dum hipópotamo conseguir saltar subtilmente de nenúfar em nenúfar...

Dito por outras palavras... ergh... Houston, we have a problem. E o problem é com as fofinhas.

Os tipos complicados precisam de mão firme, e de quando em vez duns safanões que só uma mulher que simplifica tudo consegue providenciar.
Mas atenção, não faça como o Cristiano Ronaldo que com o mundo inteiro a assistir em directo, disse à dona Dolores Aveiro para soltar os fogos depois de ter ganho o prémio FIFA World Player of the Year.

As coisas não são assim tão.. simples.

Um homem com cão complexo não sabe lidar com situações extremas. Uma palmadinha até pode ser uma coisa boa, mas se a mão descer depressa demais o efeito pode ser contraproducente. Perde-se o efeito pedagógico da palmadinha, e ao invés o homem com cão começa a fazer aquilo que sabe fazer melhor: complica.

Esta tipa é uma controladora e ainda por cima tem a mão pesada fod###!

Mas o oposto também não pode acontecer.
Nunca mostre a um homem com cão desta raça até que ponto você verdadeiramente está apanhadinha por ele.
Se exagerar nas palavras perde a imagem de durona que lhe deu tanto trabalho a construir, e num ápice vê-se com lama até ao pescoço no pantanoso reino das fofinhas, mimokas e cutchi-cutchis que também tentaram saltar subtilmente de nenúfar em nenúfar, como a Pópóta.

Olha olhaaa... O que tu queres sei eu!

Mas um homo complexus não complica só nos afectos. Tudo é possível e ninguém está a salvo.

À pouquíssimo tempo disseram-me que não me vestia nem bem nem mal.
Assim assim, vá lá...

Ora, para qualquer homem complicado como eu, a partir desse momento abrir o roupeiro deixou de ser uma coisa sem importância, e passou a ser algo só comparável à travessia dum campo minado em plena guerra civil angolana.

Sinto literalmente o perigo a espreitar debaixo de cada cabide, com o receio de que uma má escolha esfrangalhe a minha auto-estima junto do olhar crítico e impiedoso das mulheres com gato.

Aqui o truque não é dizer olha estás bem mas ficavas melhor com uma cor mais forte.

Regra geral os homens complicados são também muito distraídos, porque pensam em muitas coisas ao mesmo tempo, e gostam de complicar enquanto pensam. Por isso prestam pouca atenção a manobras de diversão.

Quer dizer ao seu complicadinho que aquela camisa nem para enfeite de árvore de natal servia?
Leve-o consigo às compras e enquanto renova o seu guarda-roupa vá entrando estrategicamente aqui e ali, e pendure-lhe literalmente a camisa certa no pescoço com um fofinho q.b. ficas tão bem com esta cor.

Se ele não puder comprar aquela peça vai certamente procurar no campo minado/roupeiro a cor mais aproximada, e tentar fazer pandam com o seu sentido estético, indiscutivelmente mais apurado que o de qualquer homem complicado.

En passant, se o seu homem complicado veste-se ainda melhor que você, então o mais certo é ser gay e ainda não saber, e aqui não há simplificação possível.

Há ainda um outro aspecto que os homo complexus gostam de complicar com especial requinte. Os ciumes.

Aqui, uma vez mais, não existe meio termo e das duas uma: ou é um sociopata possessivo e com a mania da perseguição, ou um super descontraído que confia em si a 100%, mesmo se estiver rodeada de gajos podres de bons literalmente a babarem-se para cima de si.

O ideal para qualquer mulher com gato seria misturar um pouco das duas, com uma especial dose de bom senso. Mas nos tipos complicados é sempre tudo ao contrário.

Tente descobrir que tipo de homem é o seu – se o possessivo ou o super descontraído -, sendo certo que se os primeiros irão fazer da sua vida um inferno por excesso de participação, os segundos poderão transformá-la num deserto, não por falta de interesse ou por não gostarem de si, mas porque simplesmente não querem saber.

Até porque há coisas bem mais giras para complicar do que os ciumes.

Dito isto, se faz parte dos 99% de mulheres com gato que preferem um homem assim complicado, e quer realmente deixar-se encurralar num beco sem saída com o psicopata da motoserra à sua frente, então já sabe, isto não vai lá com falinhas mansas.

Lembre-se, os homens complicados têm de saber quem manda, não porque sejam subservientes mas porque aqui e ali gostam de complicar e questionar a autoridade.

No fundo no fundo, são crianças em ponto grande.